Vila Isabel opta por enredo tradicional e canta Petrópolis no Carnaval 2019

Foto: Vila Isabel – Fernando Grilli | Riotur

A Vila Isabel tem sido uma das escolas mais imprevisíveis nos últimos anos em termos de desfile e resultados. Alterna boas apresentações com outras flertando com o abismo do rebaixamento. Por isso, fez uma aposta mais “segura” e vai de enredo CEP para Carnaval 2019. CEP, na gíria carnavalesca, é uma homenagem a uma Cidade, Estado ou País. No caso da azul e branco, a cidade de Petrópolis.

A escola do bairro de Noel escolheu uma abordagem para lá de tradicional para o enredo Em Nome do Pai, Do Filho e Dos Santos – A Vila Canta a Cidade de Pedro para contar a história de Petrópolis, surgida de um sonho de Pedro I posto em prática pelo filho dele, o imperador Pedro II.

No primeiro setor do desfile a escola exalta seu própio símbolo, a coroa imperial, e o fato de que nossos imperadores Pedros foram batizados em homenagem ao santo padroeiro do Brasil e da própria Vila Isabel.

Em seguida, o desfile apresenta os habitantes originais da região, os índios conhecidos como Coroados, tidos como guardiões da água pura e daquele lugar com clima tão ameno, muito mais agradável aos europeus que o fervilhante calor carioca que, às vezes, nem mesmo a brisa marítima aplacava.

A colonização começou lenta, por causa da dificuldade de subir aquele paredão de pedra que era a serra. O sonho de colocar naquele lugar uma cidade, alimentado por Pedro I, coube a Dom Pedro II realizar.

Nascia e vivia Petrópolis, com os exuberantes ares que, do alto, iluminaram todo um Império. Uma cidade moldada pelas mãos dos imigrantes, uma das primeiras planejadas. Destinada, pelos sonhos e vontades de Pai e Filho, a ser muito! Casa de Veraneio, um império no Império Brasileiro, uma Versalhes de refúgio abrasileirada, na verdade quase sempre ocupada – passou, o Filho, ali, quarenta verões, na cidade encantada.

Neste setor abordando o crescimento, também se faz menção à estrada de ferro construída pelo Barão de Mauá e, mais tarde, à União Indústria, primeira estrada macadamizada do país. O termo se refere ao inventor da técnica de construção, o escocês John Loudon McAdam, e não à noz da macadâmia. Esse método construtivo tornou o transporte mais eficiente e as viagens mais rápidas.

O Império deu lugar à República, mas a cidade seguiu “imperial”, abrigando conferências importantes, como a de 1903, que selou a anexação do Acre ao Brasil em acordo com a Bolívia, intermediado pelo Barão do Rio Branco.

Foto: Hotel Quitandinha / Petrópolis – RJ | Divulgação

O desfile passeará pelos marcos da cidade, com destaque para o Hotel Quitandinha e seu lendário cassino, construído em 1944 e por onde passaram grandes estrelas como Walt Disney, Orson Welles, Lana Turner, Greta Garbo e Carmen Miranda.

Quando chega ao presente, o enredo cita outras qualidades de Petrópolis, como a indústria de cervejas, que se beneficia da água de ótima qualidade. Dobra-se o mundo que se encanta com sua real e avançada realidade. Luxo das vestimentas, delícias da cevada e frutífera imponência, pois, do passado ao presente, eis o Laboratório Nacional de Computação Científica: tecnologia e ciência. E futuro não lhe falta enquanto, daqui de baixo, a Vila lhe presta, enfim, esta respeitosa reverência.

O último setor do desfile da Vila utiliza mais uma vez a biografia da personagem que deu nome ao seu bairro de origem, a Princesa Isabel. A sinopse aponta:

Para toda a gente da Corte, a vida embalada no colo de uma Estrela, onde Princesa Isabel, a filha Redentora, não se cansava de descansar para, mais tarde, ser a inspiração do nosso sambar, dando-nos a Coroa para embelezar a realeza do Escola de Noel, aqui perto do mar.

Relembre o desfile da Vila em 2018:

O papel da princesa no enredo é fazer o elo de ligação entre Petrópolis e o samba. Isabel, que assinou a Lei Áurea decretando oficialmente o fim da escravidão no Brasil, se transforma, no contexto do discurso da Vila, um símbolo importante para a negritude. Será curioso presenciar duas abordagens sobre o mesmo evento, no caso a Abolição: na Vila, a versão tradicional, e na Mangueira, que desfila mais tarde no mesmo dia, o lado B, colocando a princesa em papel secundário.

Leia sobre o enredo da Mangueira 2019 aqui!

Como se pode notar pela sinopse, é uma narrativa bastante convencional: origens, nascimento, desenvolvimento, conexão com o mundo do samba. E o tradicionalismo aí parece proposital! A Vila vem de um ano em que ousou bastante. No Carnaval de 2018, a escola tinha Paulo Barros, o carnavalesco sensação que acabara de ser campeão na Portela. Ele desenvolveu um de seus enredos onírico-tecnológicos-pop, que não foi bem assimilado: o desfile foi pra lá de discreto, assim como o 9º lugar da escola.

Percebendo a pouca repercussão, o Capitão Guimarães, manda-chuva da escola, trocou o comando do Carnaval. Dispensou Paulo Barros, que voltou à Viradouro dez anos depois do último desfile, e trouxe Edson Pereira, o carnavalesco campeão da Série A em 2018, justamente com a Viradouro.

Edson Pereira vem de três trabalhos consistentes, dois na Unidos de Padre Miguel, em 2016 e 2017, e outro na Viradouro em 2018. Tem provado ter soluções plásticas e criativas, produzindo alegorias muito interessantes, algumas com formato original como a da foto. Não sei até que ponto a azul e branco do bairro de Noel está disposta a investir em 2019, mas a saída de Paulo Barros não chega a ser um problema, porque, ele não se adaptou à escola.

Alegoria da Unidos de Padre Miguel 2017 – Alexandre Macieira | Riotur

Guimarães, na reunião em que o carnavalesco explicou o enredo para a ala de compositores, deixou claro que está de olho nas tendências do desfile. Em 2018, na visão dele, quem decidiu o título, foi o quesito samba-enredo. De fato, os dois melhores sambas do ano foram campeão e vice. Por isso, pediu empenho aos poetas da Vila: quer um grande samba.

Até neste quesito, a Vila tem oscilado bastante nos últimos tempos. Alterna sambas belíssimos, como o de 2013, ano de seu último título, com outros sonolentos, como o de 2018, que foi bem pouco cantado pelos componentes. A disputa começará em 1º de setembro.

A Vila tem a seu favor a vantagem de desfilar numa posição nobre: será a segunda apresentação da noite de segunda-feira, mas o enredo está longe de ser uma credencial forte para a tradicional azul e branco.

Relembre o último desfile campeão da Vila, em 2013:

27 de ago de 2018

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