Unidos de Padre Miguel e Viradouro dão demonstração de força

A segunda noite de desfile da Série A mostrou que há duas escolas prontas para a elite do Carnaval: Viradouro e Unidos de Padre Miguel. Ambas mostraram estar com estrutura para disputar de igual para igual com as maiores escolas do Rio.

O encerramento dos desfiles da Série A foi um momento impressionante, proporcionado pela Unidos de Padre Miguel. O visual imponente deixou a Sapucaí de boca aberta, mas a escola tinha mais a apresentar que luxo. O belíssimo enredo escrito por Daniel Targueta foi transformado pelo carnavalesco João Vítor Araújo numa Amazônia de sonhos, de cores e formas estonteantes do começo ao fim com fantasias muito bem realizadas e alegorias enormes.

Foto: Gabriel Nascimento | Riotur

Um dos momentos mais belos da noite foi protagonizado pela primeira porta-bandeira da escola: no ano passado, ela quebrou o pé em plena apresentação para os jurados. Um ano depois lá estava Jéssica de novo e sua performance graciosa foi aplaudida com entusiasmo pelo público.

A escola estava feliz e cantou muito o belíssimo samba-enredo, cuja qualidade se confirmou ao longo do desfile, mantendo a motivação dos desfilantes lá em cima. Com isso, ela se credencia como favoritíssima ao título, quando todos imaginavam que seria difícil igualar a performance da Viradouro.

Terceira a desfilar, a vermelho e branco de Niterói também fizera uma apresentação muito rica para o enredo sobre os gênios da criação – na ciência, nas artes, no carnaval. A ala de baianas era uma das mais ricas que passaram pela avenida em algum tempo, com suas saias em que havia reproduções de pinturas de Michelângelo na Capela Sixtina. Outro grande momento foi a homenagem a Santos Dumont em um carro e na fantasia da bateria.

O samba regular serviu ao desfile, mas não permitiu à Viradouro explodir e se comunicar muito com o público como sugeria a performance da Comissão de Frente – única que levou um elemento cênico pra avenida, uma espécie de máquina do tempo em que os componentes entravam velhos e saiam crianças. Outra questão foi a compreensão do enredo, que era por si só bastante abstrato. Numa competição acirrada como esta, são questões que podem custar o título. Mas ninguém duvida de seu favoritismo com a Unidos de Padre Miguel.

Foto: Gabriel Nascimento | Riotur

A noite ainda teve outro grande momento: o desfile da principal rival da Viradouro em Niterói, a Cubango. O enredo sobre Arthur Bispo do Rosário foi desenvolvido com extrema competência pelos carnavalescos Gabriel Hadad e Leonardo Bora. O trabalho de fantasias foi totalmente fiel ao espírito da obra do homenageado e criativo. O show começou na Comissão de Frente fantasiada de exus. Durante a apresentação para os jurados, eles tiraram de um baú panos que foram dispostos para formar uma mandala.

O belo samba da escola, no entanto, rendeu menos na avenida do que na gravação oficial e a evolução da escola foi irregular. De qualquer forma foi um momento de memorável do carnaval.

Foto: Fernando Grilli | Riotur

Outra escola que fez um bom trabalho de fantasias foi a Inocentes de Belford Roxo, com sua homenagem ao município de Magé e seus cidadãos ilustres. Embora em menor escala que UPM e Viradouro, veio com carros de maior volume, especialmente o abre-alas, que era acoplado. Ao contrário da Cubango, o samba ajudou na evolução da escola, que passou pela avenida cantando e feliz. Um belo momento.

Foto: Raphael David | Riotur

O mesmo já não pode se dizer da Rocinha. A proposta de homenagear a xilogravura era uma das mais interessantes em termos de enredo na Série A. Mas a escola sofreu no desfile. Carros tiveram dificuldade para fazer a curva, o que abriu buracos na evolução da escola. As alegorias, embora de concepção interessante, tinham problemas visíveis de acabamento e o mesmo pode se dizer das fantasias. O jogo de cores misturados ao preto e branco das xilogravuras foi feito como prometido e rendeu um visual interessante.

Foto: Fernando Grilli | Riotur

Outra escola que sofreu para colocar os carros na avenida foi a Santa Cruz, sobretudo o que encerrava o desfile que teve de ser empurrado até pelo pessoal da Viradouro. O enredo de Max Lopes pedindo um pouco mais de esperança no Brasil era de leitura pouco clara. Ou seja, fantasias indentificáveis, mas não sua relação com a história que estava sendo contada. A nota favorável foi o bom desempenho de Quinho, ex-intérprete de Salgueiro e da Ilha. No cômputo geral foi um desfile melhor que o de 2017, mas que não deve fazer a escola galgar muitas posições.

Foto: Paulo Portilho | Riotur

A noite começou a Alegria da Zona Sul, com uma apresentação modesta em homenagem à Luísa Mahin, a líder da Revolta dos Malês, ocorrida na Bahia em 1835. O acabamento dos carros era precário e o samba simpático sustentou a evolução. Mas a escola deve brigar para não cair.

Foto: Gabriel Monteiro | Riotur

Conhecidos os 13 desfiles, disputam o título Viradouro e UPM, com vantagem para a última e tivemos Estácio e Cubango com carnavais muito competitivos.

11 de fev de 2018

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