Tuiuti contará história do bode mais famoso do Ceará no Carnaval 2019

Paraíso do Tuiuti 2018 | Foto: Fernando Grilli – Riotur

Jack Vasconcelos foi o grande nome do Carnaval 2018. Não à toa, vai receber esta semana o prêmio Plumas & Paetês como melhor carnavalesco do Grupo Especial. E por que o considero o nome do Carnaval? Porque ele, com uma tacada só, conseguiu fazer o desfile das escolas de samba repercutir muito além dos limites dos seus fãs, com um enredo muito bem realizado sobre um tema que os brasileiros não gostam de discutir e alçar a escola Paraíso do Tuiuti ao melhor resultado de sua história. Claro que todos ficaram ansiosos por sua nova criação

Geralmente discreto, depois de ter o nome em evidência pelo sucesso no Carnaval 2018, Jack submergiu nas redes sociais, deu poucas entrevistas, até para não misturar sua visão artística com o Fla x Flu político que também rondou a Tuiuti durante e depois do desfile. Aos poucos, começou a postar dicas enigmáticas na Internet. No dia da festa de aniversário da escola, em 6 de abril, anunciou qual seria o tema para o próximo Carnaval da atual vice-campeã.

Ele ainda não tem título oficial e a sinopse só será divulgada no dia 13 de maio (mais símbolos…). Mas uma coisa é certa: ao menos na temática, a Tuiuti continuará colocando o dedo na ferida.

A breve história do bode Ioiô:

O enredo contará a história de Ioiô, o bode mais famoso da história do Ceará. Trazido para Fortaleza em 1915, por uma família de retirantes, foi vendido para uma empresa britânica. Só que o animal escapava e ia passear pelas ruas de uma cidade que queria ser chique e tinha de conviver com aquele símbolo da cultura sertaneja. Suas fugas devem ser a origem do nome pelo qual ficou conhecido.

Ioiô passeava pelas ruas sem ser incomodado por fiscais Frequentava a Praça do Ferreira, a principal do centro de Fortaleza, e chegava a entrar em lojas e cafés, onde ficou conhecido e ganhava regalias. Era um bode boêmio! Há relatos de que Ioiô até de bonde passeava.

Nas eleicões de 1922, as pessoas insatisfeitas com os rumos das coisas em Fortaleza votaram em Ioiô para vereador. Foi uma votação expressiva e suficiente para que o animal assumisse de fato uma cadeira na Câmara Municipal, o que, claro, não aconteceu.  O bode morreu em 1931, foi empalhado e pode ser visto até hoje no Museu do Ceará.

A história será usada como pano de fundo para a mensagem que a escola quer deixar, segundo Jack. “A importância de se votar com consciência, ler as propostas, se informar sobre os candidatos. A gente é incentivado a não prestar atenção à política, para não se aborrecer, não discutir com os outros. Mas é preciso lembrar que, se estamos insatisfeitos com os políticos, a culpa é nossa porque um dia votamos neles ou simplesmente nos omitimos”, disse o carnavalesco durante o anúncio do enredo para os componentes da Tuiuti.

Para quem é mais jovem, vale lembrar que a insatisfação do brasileiro com os políticos não nasceu em 2013 nem mesmo nas passeatas dos Cara Pintadas que chamaram atenção do país durante o processo que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992.

Ioiô, que se saiba, foi o pioneiro, primeiro ser não humano a receber votos para um cargo público. Depois dele veio Cacareco, uma rinoceronte fêmea que recebeu mais de 100 mil votos, tornando-a a “vereadora mais votada” das eleições municipais de 1959 em São Paulo.

No Rio dos anos 1980, o macaco Tião, um chipanzé criado pelo tratador do zoológico, tinha postura ereta e fama de mal-humorado. Ele jogou fezes e areia no então candidato a prefeito Marcello Alencar e no prefeito do Rio. Nas eleições de 1988 recebeu mais de 400 mil votos dos cariocas, ficando em terceiro lugar na disputa pela Prefeitura. Um ano antes, os eleitores de Vila Velha, no Espírito Santo, haviam dado ao mosquisto Aedis Egypti, que já infernizava a vida da população, cerca de 30 mil votos, o que seria o suficiente para elegê-lo prefeito da cidade capixaba.

Trecho de debate na Globo News lembrando a história do Macaco Tião:

Como se pode ver, o bode Ioiô foi o precursor de uma série de votos de protesto, o que mostra o quanto é opoturna a discussão que a Tuiuti propõe, depois de um ano em que emocionou as pessoas com temas nunca devidamente digeridos por nós: a escravidão, o racismo e a desigualdade social.

27 de abr de 2018

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