Sete desfiles que visitaram o futuro e a fantasia em busca de respostas

Chega o final do ano e a gente começa a ouvir previsões de todos os lados. Qual será a tendência na moda, no cinema, na economia, na política, na gastronomia. Tudo, obviamente, com boa dose de achismo, afinal ninguém tem bola de cristal.

As escolas de samba também fazem com frequência este exercício de visitar o futuro em busca de saber se o que nos reserva é uma realidade melhor, mais humana. Vamos revisitar alguns destes desfiles?

 

Ziriguidum 2001

O desfile que rendeu à Mocidade Independente de Padre Miguel seu segundo título é um dos mais famosos de sua história. Muito se deve à delirante imaginação do carnavalesco Fernando Pinto, que levou o samba pro espaço sideral e abriu sua apresentação debaixo de um sol escaldante com um Corso carnavalesco de criaturas que poderiam bem estar em um destes desenhos de ETs. No auge de sua popularidade, o samba-enredo tinha planos de dominar o universo que imaginava já conquistado na virada do milênio… 🙂  

O Amanhã

Como será o amanhã? Responda quem puder. O que irá me acontecer, o meu destino será como Deus quiser. Esse é um dos refrões mais conhecidos da história do carnaval e foi cantado pela União da Ilha em 1978. A escola estava no auge da fase Maria Augusta, o que corresponde dizer, leve, brincalhona, cantando o cotidiano. Neste caso, o enredo percorria diversas formas que a gente usa pra tentar adivinhar o futuro. A Ilha tirou o quarto lugar neste ano.

 

Eu Quero

O Império Serrano apresentou no Carnaval de 1986 sua ideia de utopia: “Quero que meu amanhã, seja um hoje bem melhor, uma juventude sã com ar puro ao redor”, cantava o samba. A escola fez um belo desfile projetando uma visão positiva sobre como o mundo deveria ser num ano em que o Brasil iria eleger membros para a Assembleia Nacional Constituinte. A escola terminou em terceiro lugar pedindo mais educação e saúde – “se por acaso alguma dor, que o doutor seja doutor, e não passe por bedel”.

 

Já Vi Esse Filme

O oposto desta visão cheia de esperança, a São Clemente pintou um cenário apocalíptico no Carnaval de 1991. O mundo teria sido invadido por um ditador fictício chamado Clementius e estava cheio de hipocrisia, escravidão, revolta. Para manter o poder, ele aceitou que fossem realizadas eleições diretas e acabou se elegendo presidente. Como estávamos em pleno governo Collor, qualquer semelhança não era mera coincidência. A conclusão da escola era: “Pau-brasil que nasce torto, sempre torto vai ficar”.

 

Quase no Ano 2000

Em 1998, Rosa Magalhães na Imperatriz esqueceu reis e princesas e refletiu sobre a quantas andava a Terra às vésperas do novo milênio. Como os homens projetaram o futuro, com máquinas e robôs, e no que nos transformamos, uma sociedade que se esqueceu do meio ambiente. Robô, roubou a festa/O cinema deu visão /Imaginando o que seria/A nova civilização (foi ilusão). A escola neste desfile ficou atrás apenas das campeãs Mangueira e Beija-Flor.

 

O Futuro no Pretérito, Uma História Feita a Mão

A Mocidade de 2007 cantou a criatividade dos artesãos, comparando-os a Deus. A luta entre homem e robô estava ao longo do desfile e logo no início com o tripé da comissão, em que um homem “entrava” no livro do Gênesis. Na parte de trás da alegoria uma referência ao filme de Fritz Lang Metropolis (1927), com as engrenagens. A apresentação teve alguns problemas, mas o samba é interessante.

 

O sonho da criação e a criação do sonho: a arte da ciência no tempo do impossível

No Carnaval de 2004, a Unidos da Tijuca uniu arte e ciência em um enredo desenvolvido em parceria com a Casa da Ciência da UFRJ. Primeiro trabalho de Paulo Barros no Grupo Especial pela Tijuca, conduziu o público por uma viagem pelo passado, presente e futuro, mostrando grandes descobertas e inventos que marcaram a humanidade, mas que já foram considerados sonhos impossíveis. O desfile mostrou que a extraordinária capacidade criadora do homem pode superar desafios científicos e tecnológicos e ultrapassar os limites do corpo, da gravidade, da distância e do tempo. É deste desfile o famoso carro do DNA (https://viveraciencia.files.wordpress.com/2010/02/tijuca.jpg), que impressionou a todos. A Tijuca foi vice-campeã, mas merecia ter vencido.

Em 2018, a Vila Isabel, também pelas mãos de Paulo Barros, volta ao tema de forma ainda mais explícita: Corra que o Futuro Vem Aí.

 

Ouça o samba enredo da Vila:

15 de dez de 2017

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