Série A recebe autorização para captar recursos pela Lei Rouanet

Na via crucis das escolas de samba cariocas em busca de verbas para fechar as contas do Carnaval 2018, ao menos apareceu uma boa notícia. A Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro obteve a aprovação do Ministério da Cultura para captar recursos financeiros para as agremiações da Série A através da Lei Rouanet. A Lierj agora tem de ir atrás das empresas a fim de obter investimento de até R$ 5.188.200.

Assim como ocorreu com o Grupo Especial, a Série A, o antigo Grupo de Acesso, sofreu com um corte de 50% das verbas da Prefeitura. A subvenção oficial correspondia a 80% do que é investido no desfile por estas escolas e o comunicado chegou a 100 dias do Carnaval, mostrando o pouco caso e total desconhecimento por parte do bispo-prefeito de como é a programação de uma escola de samba para preparar um desfile.

O presidente da Lierj Déo Pessoa comemorou a autorização do MinC. Na página da entidade ele lembra que com a Lei Rouanet as empresas podem investir nas escolas de samba e ainda deduzir o valor no Imposto de Renda. “O Carnaval da Série A vem crescendo consideravelmente com o passar dos anos. Não podemos deixar que haja uma regressão em 2018″, afirmou.

No Carnaval 2018, os desfiles da Série A vão acontecer nos dias 9 e 10 de fevereiro, com transmissão para o Rio de Janeiro pela TV Globo. Em função de não ter havido rebaixamento no Grupo Especial este ano, vão se apresentar 13 escolas, seis na sexta e sete no sábado.

Déo Pessoa não está exagerando quando fala do crescimento do desfile da Série A. Ele já mudou de lugar, dias e mesmo denominação: já se chamou Acesso A, Grupo 1, Grupo A, Grupo 1-B, Grupo II, Série Ouro, entre outros. Até 1978 acontecia na Avenida Rio Branco. Em 1979 chegou a Sapucaí numa época em que os desfiles do grupo principal (hoje Especial) aconteciam em um único dia. Eles já estiveram na segunda de carnaval, foram só para a sexta e depois só para o sábado. Apenas em 2013 passaram a ser realizados em dois dias também.

Por ser o grupo de acesso mais próximo do Especial contém muitas escolas que já estiveram na elite do Carnaval e longa militância no samba. Em 2017, a Série A contou com 3 escolas que já foram campeãs do desfile principal: o tradicionalíssimo Império Serrano, com 9 títulos, o último em 1982, a Estácio, campeã em 1992, e a Viradouro, em 1997. Em 2018, vão desfilar na Série A sete escolas que já estiveram entre as maiores.

Eu já presenciei desfiles no Acesso para arquibancadas quase vazias, o que era melancólico – e injusto. A Série A revelou talentosos carnavalescos como Paulo Barros, Paulo Meneses, Luiz Fernando Reis, Marcus Ferreira, Jorge Silveira, Severo Luzardo, Tarcísio Zanon. Surgiram nestes desfiles também intérpretes, que hoje são reconhecidos, casais de mestre-sala e porta-bandeira e diretores de bateria. Hoje as arquibancadas ficam cheias, as frisas bastante concorridas, o que faz jus à qualidade do que é apresentado. Sem contar que a safra de sambas e enredos para 2018 é tão interessante quanto a do Especial.

Ouça aqui os sambas para o Carnaval 2018:

https://open.spotify.com/album/2PunD4LrIU4lB6qDtmlDJS

Especial – A vitória da Lierj veio pouco depois do banho de água fria que a Liga Independente, a Liesa, organizadora do Especial, tomou do Ministério da Cultura. Brasília prometera repor a verba cortada por Crivella mas há pouco tempo voltou atrás dizendo que a entidade não havia “cumprido requisitos” para captar pela Lei Rouanet. Há iniciativas individuais das escolas, no entanto, que parecem ter destino melhor. A Beija-Flor teve autorização para captar, e outras escolas estão indo pelo mesmo caminho. O Uber quer patrocinar o Grupo Especial e a saída para isso deve ser projetos como esse. Enquanto as burocracias não se resolvem, quem sofre são os barracões. As notícias que eu tenho são de que poucas escolas estão com os trabalhos em dia.

Que a Lierj consiga rapidamente patrocinadores para que a Série A continue sua trajetória de crescimento.

Para terminar, relembre o delicioso e dramático desfile da Unidos de Padre Miguel, que ficou em quarto lugar e foi um dos mais emocionantes de 2017: