Série A abre o Carnaval 2019 no Sambódromo

Desfile da Unidos de Padre Miguel no Carnaval 2018 – Foto: Fernando Grilli / Riotur

Quando a primeira sirene soar, às 22h15 dessa sexta-feira, 1º de março, chegaremos ao “ponto de não-retorno”: o Carnaval 2019 vai começar de verdade. Sete escolas de samba da Série A, o principal Grupo de Acesso carioca, iniciam a disputa pelo lugar único na elite em 2020.

Fortemente prejudicadas pelos cortes de verbas impostos pela Prefeitura e só comunicados em dezembro, tumultuando o planejamento, as escolas da Série A vão pra avenida com a força de suas comunidades, abrindo o que muitos chamam de “carnaval da crise”, mas com forte tom crítico e político.

O retorno

A primeira escola a pisar no templo sagrado do samba brasileiro, às 22h30, é a Unidos da Ponte, de volta ao Acesso A e à Sapucaí depois de 12 anos. Para celebrar este retorno, a escola reeditará o enredo Oferendas, originalmente exibido no Grupo Especial no Carnaval de 1984. O samba é um clássico do gênero e mostra todas as comidas de orixás. A escola tem a vantagem de ter feito um acordo para usar barracão de outra escola para preparar o seu carnaval em paz, o que é uma vantagem este ano.

Já a Alegria da Zona Sul, segunda a desfilar, não teve a mesma sorte. Ela foi despejada no meio do ano e até dezembro estava sem barracão, mas conta com o apoio da Lierj e de abnegados para colocar na rua o seu enredo Saravá, Umbanda, que conta a história dessa religião bem brasileira, que mistura elementos das religiosidades católica, espírita, indígena e africana com um samba bastante agradável. No temporal do início de fevereiro teve uma das alegorias danificadas e não se sabia se teria condições de refazê-la a tempo.

Em seguida, a Acadêmicos da RocinhaBananas para o Preconceito. O samba é um libelo emocionante contra o racismo e versos contundentes como o do refrão do meio “Abre a porta da senzala ôôô /Me liberte das mazelas, ê favela/Bananas que a vida dá/A gente consome/Quando a fome apertar/Quero ver, quem não come”. A escola vai até a Charles Darwin para lembrar que não existe “raça negra”, somos todos humanos, absolutamente iguais do ponto de vista biológico e o preconceito é uma construção social, lembra Junior Pernambucano, carnavalesco e autor do enredo.

O melhor samba

A quarta agremiação a se apresentar é a tradicional Acadêmicos de Santa Cruz, outra que teve sérios atrasos na preparação do carnaval. O seu barracão foi lacrado por ordem da Justiça e a escola não podia tirar as alegorias velhas para reaproveitar o material e preparar as novas. O enredo homenageia a atriz Ruth de Souza, atriz de primeira grandeza do teatro e cinema brasileiros e que marcou época no novela “Sinhá Moça”. Ruth de Souza – Senhora Liberdade, Abre as Asas Sobre Nós é de autoria de Cahê Rodrigues, que assinou os últimos cinco carnavais na Imperatriz Leopoldinense e também era o responsável pelo enredo na última aparição da Santa Cruz no Grupo Especial, em 2003. O samba-enredo é considerado por vários especialistas o melhor do ano na Série A. Grande expectativa para um desfile emocionante pela justíssima homenagem.



Ouça o samba da Santa Cruz, um dos mais bem avaliados do ano

Candidata ao título

Logo depois, entra uma das candidatas ao título, a Unidos de Padre Miguel, com seu enredo Qualquer semelhança não terá sido mera coincidência.  É uma homenagem à obra do dramaturgo, novelista e escritor Dias Gomes, autor de grandes sucessos no teatro, cinema e personagens que marcaram história na TV. Assim como no ano passado, a responsabilidade pelo barracão é de João Vitor Araújo. Com um samba melodioso, um tema popular e sem problemas de barracão, a UPM novamente tem um forte conjunto para se candidatar ao tão sonhado acesso à elite.

Leia a análise do Mestre Carnaval para o enredo da UPM

Assim como a UPM, a sexta escola a desfilar também vem de um bom momento em 2018: a Inocentes de Belford Roxo. Sob a batuta de Marcus Ferreira, ex-Império Serrano e Rocinha, a escola da Baixada tem um tema que também recorre ao imaginário popular: O Frasco do Bandoleiro (baseado num causo com a boca na botija). A escola mostrará na avenida os objetos que o bando de Lampião costumava usar e, assim como eles, grande parte dos sertanejos, uma abordagem original. Para fugir da crise, a Inocentes recorreu a materiais recicláveis doados e Marcus acredita que conseguirá levar seu projeto completo pra avenida.. O temporal do início de fevereiro danificou decorações de uma alegoria e algumas fantasias. O samba da escola também tem uma melodia fácil de cantar e um refrão daqueles que grudam na memória.

Será que ele é?

Encerrando a primeira noite, virá a Acadêmicos do Sossego. A escola de Niterói havia sido rebaixada ao final do Carnaval 2018, mas foi “resgatada” da Série B depois que o rebaixamento foi anulado no Grupo Especial, o que deixaria a Série A com apenas 12 escolas esse ano. A azul e branco apresentará o enredo Não se Meta Com a Minha Fé, Acredito em Quem Quiser. Recentemente, descobriram que uma das alegorias da escola, representando o demônio, tinha as feições do prefeito do Rio, Marcello Crivella, considerado o grande algoz das escolas, por sua decisão ideológica de desidratar a subvenção oficial. Apesar do desementido posterior, a semelhança é evidente. O enredo da escola, aliás, fala sobre preconceito religioso e o direito de livre credo, previsto na Constituição. Graças ao apoio da Prefeitura de Niterói, a escola deve vir com plástica mais caprichada que em 2018.

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01 de mar de 2019

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