Sem barracões, escolas da Série A atrasam preparação para Carnaval 2019

Foto: Gabriel Monteiro | Riotur

Essa semana a gente precisa falar de um assunto sério que tem impacto direto na produção do espetáculo no Sambódromo. O público em geral nem nota, porque as escolas de samba são núcleos de resistência e só deixam de se apresentar em casos muito graves. Mas o sofrimento para colocar um carnaval na avenida é algo que poucos conhecem. E as autoridades do Rio estão maltratando as agremiações da Série A, que abrem o carnaval com seus desfiles de sexta e sábado.

Desde que o prefeito Marcello Crivella assumiu, as escolas de samba foram prejudicadas na questão das verbas. Na preparação para o Carnaval 2018 houve um corte da ordem de 75% do valor e, mesmo assim, os recursos foram liberados faltando duas semanas para o desfile, causando enormes problemas na preparação.

Agora o problema é ainda mais grave: cinco agremiações foram desalojadas de seus barracões – Alegria da Zona Sul, Unidos de Bangu, Santa Cruz, Sossego e Inocentes de Belford Roxo. A Porto da Pedra tem ordem de despejo; Rocinha e Renascer de Jacarepaguá vão pelo mesmo caminho.

Como tudo que acontece no Rio ultimamente, as desocupações têm ocorrido sem qualquer planejamento, tanto do poder público quanto da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto, responsável pela maior parte das ações de despejo. As autoridades e a CDURP só se mobilizam na hora de desalojar. Depois é um silêncio só.

Em nota, a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro afirmou o seguinte:

Até o momento, o que vem sendo notado é que as escolas estão sendo removidas e jogadas ao relento, sem que haja a indicação de outros espaços para que os carros alegóricos e os materiais possam ser preservados e transferidos, de forma que os trabalhos continuem sem prejuízo ao Carnaval da Série A do Rio de Janeiro e, consequentemente, aos artistas que vivem dessa manifestação cultural.

As escolas de samba do Rio de Janeiro ocupam há décadas a região do Cais do Porto e seus muitos galpões sem uso para instalar suas fábricas de criação. A região é estratégica por ficar relativamente próxima do Sambódromo em um caminho com menos obstáculos. Imagine a Porto da Pedra, por exemplo, fazendo um cortejo de carros alegóricos pela Ponte Rio-Niterói às vésperas do Carnaval!

As agremiações do Grupo Especial também já sofreram muito com isso até que foi construída a Cidade do Samba, na Gamboa, que permitiu a um grupo de 14 escolas terem um espaço efetivamente pensado para produção do maior espetáculo da Terra. Quando escolas como Portela, Mangueira e Salgueiro se mudaram para a Cidade do Samba, as agremiações menores ocuparam os espaços porque antes ficavam em galpões ainda mais precários.

Printscreen do site O Globo

Como se não bastasse a questão dos despejos, este ano tem havido uma série de incêndios estranhos nos barracões. A Renascer perdeu bastante material há alguns meses. No mês passado, foi a vez do barracão da Porto da Pedra pegar fogo com prejuízos incalculáveis para a estrutura de alegorias e materiais já em produção para o Carnaval 2019. Em ambos os casos, as cirunstâncias foram bastante estranhas.

A área do Porto estava abandonada há décadas, mas depois da revitalização ocorrida para os Jogos Olímpicos, os proprietários cresceram o olho para a possibilidade de vender terrenos ou darem outra destinação. Daí a desconfiança de que os incêndios não são exatamente fruto de descuido ou da situação precária das instalações, como alega a CDURP.

Entre a especulação imobiliária e o descaso da Prefeitura, o segundo desfile mais importante do Carnaval carioca tem sua preparação prejudicada, com estruturas de alegorias sem espaço para ficar e onde serem remontadas.

Aparentemente comerciantes, o poder público e empresas privadas de todos os setores gostam dos recursos que o Rio recebe durante o carnaval, mas de forma pouco inteligente, dão muito pouca condição para que a festa seja produzida de maneira segura e sem sobressaltos e crises financeiras.

Existe a promessa antiga da construção de uma cidade do Samba 2, para abrigar as escolas da Séria A, que formam o Grupo de Acesso principal ao desfile principal. Existe até um terreno, na Avenida Brasil, que reúne condições para essa função, mas esta obra dificilmente ocorrerá neste momento, com o Estado do Rio quebrado e com um Prefeito que não tem respeito por manifestações culturais que não fazem parte do seu credo.

Um belo desfile para a gente lembrar da importância da Série A para o Carnaval, Império Serrano 2017:

E a antológica passagem da Unidos da Tijuca no Grupo de Acesso em 1999:

 

10 de ago de 2018

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