Se for falar da Portela, hoje não vou terminar…

Por Marcelo Hargreaves

 

Por uma feliz coincidência, este espaço foi aberto na semana do aniversário de 93 anos de uma das maiores instituições da música brasileira. Tudo é superlativo quando o tema é Portela. É a mais antiga das escolas de samba em atividade. Seu embrião foi um bloco chamado Baianinhas de Oswaldo Cruz, criado em 1923, que misturava o jongo tão comum à zona rural do Rio com o samba que nascia no Estácio pelas mãos de Ismael Silva. O próprio termo escola de samba só surgiria alguns anos depois.

A Portela ganhou em 1935 o primeiro desfile oficial de escolas de samba organizado pela Prefeitura (as competições começaram em 1929). E depois desse, outros 20, o que a torna a recordista em títulos, apesar do sofrido jejum iniciado nos anos 80.

Acompanhada sempre do adjetivo “tradicional”, tem longa série de inovações para o desfile, como a primeira alegoria, a introdução de instrumentos na bateria, como a caixa surda, o reco-reco e o apito, a comissão de frente uniformizada. Sem contar o fato de ter o ícone mais forte do carnaval, a Águia, que virou símbolo da escola antes mesmo de ela se chamar “Portela”.

Formada por grandes nomes do samba como Paulo da Portela, Candeia, Monarco, entre tantos, a escola tem longa lista de composições célebres. Eis uma seleção com cinco exemplos da capacidade portelense de fazer poesia em ritmo de samba.

 

5 – Teste ao Samba, 1939

De autoria de Paulo da Portela, considerado por alguns historiadores o primeiro samba-enredo, brincava com a ideia de escola de samba. Paulo distribuiu canudos durante o desfile, vestido de professor.

 

4 – Macunaíma, Herói de Nossa Gente, 1975

A dupla David Correa e Norival Reis compôs sambas históricos, como esse, resumo brilhante do romance de Mário de Andrade. No desfile, a alegoria do gigante Piaimã causou sensação, o samba ganhou Estandarte de Ouro. Mas os jurados só lhe deram o quinto lugar.

 

3 – Contos de Areia, 1984

Primeiro ano do Sambódromo, a Portela homenageou três de seus baluartes, Paulo da Portela, Natal, seu mais importante presidente, e Clara Nunes, morta meses antes. A escola conquistou seu último título.

 

2 – Gosto que Me Enrosco, 1995

Depois de sofrer um racha, a Portela demorou a se pacificar. Naquele ano, uma ode ao carnaval emocionou o público que aclamou a escola. Para os jurados, bateu na trave. A Águia terminou vice-campeã.

 

1 – E o Povo na Rua Cantando. É feito uma festa, um ritual… 2012

Em dificuldade por causa de uma administração desastrosa, a escola desfilou um enredo sobre a Bahia. O samba da dupla Wanderley Monteiro e Luiz Carlos Máximo virou febre pela melodia “pra cima” e por desafiar a regra não escrita ao trazer três refrões. Ficou em sexto lugar, mas ganhou Estandarte de Ouro de samba. Desde 2012, a Portela não conhece outra nota que não seja 10 neste quesito.

 

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Comemoração – Estes e outros sambas vão certamente ser cantados em um dos eventos de comemoração do aniversário. No sábado, dia 16, haverá um roda de samba-enredo na quadra da escola. Mais informações no site da Portela: http://goo.gl/1pJhVF

14 de abr de 2016

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