Salgueiro lança seu “enredo de ouro” sobre Xangô no Carnaval 2019

Foto: Divulgação

O Salgueiro está vivendo um pós-carnaval um tanto conturbado: manteve Alex de Souza, fez algumas contratações e tudo parecia bem até que chegou o período eleitoral. Regina Celi foi eleita para um quarto mandato como presidente no úlltimo dia 6 de maio. Só que a oposição contestou, entrou na Justiça e Regina foi tornada inelegível pelo Tribunal de Justiça (em decisão que ainda cabe recurso).

Para não deixar a escola frequentar o noticiário apenas pelas pendengas políticas, a direitoria reeleita tirou da manga um belo coringa, o enredo de 2019, sobre o orixá Xangô, padroeiro do Salgueiro. Este enredo para a vermelho e branco da Tijuca tem o mesmo peso simbólico que o enredo portelense sobre Clara Nunes: a forte identificação com o emocional do componente.

Veja a reação na quadra no dia do anúncio:

A sinopse divulgada pela escola mostra que Alex de Souza optou por uma abordagem didática para o enredo Xangô, como a introdução do texto, ressaltando a figura histórica do rei de Oyó, deixa bastante claro:

“Abram alas ao Homem que nasce do poder e morre em nome do poder. Apodera-se do trono de seu irmão para se tornar o verdadeiro líder de uma nação. Sàngó, Rei absoluto, forte, imbatível, Aláàfìn Òyó, o Homem do Palácio; o grande Obá, o grande Rei.

Batam cabeça pro orixá dos raios, trovões e do fogo. “Senhor do Raio” ou “Senhor das Almas”. Viril e atrevido, violento e justiceiro; implacável com os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Xangô é a representação máxima do poder de Olorum. O desafio é feito sempre para confirmar seu poder. O seu machado duplo, seu Oxé, é o símbolo da imparcialidade. É uma divindade da vida, representado pelo fogo ardente e por essa razão não tem afinidade com a morte e nem com os outros orixás que se ligam à morte.”

O enredo caracteriza as formas pelas quais o orixá é chamado em tradições diversas como pelos povos banto, keto, iorubas e também além mar para a Santeria, versão cubana do Candomblé. Dedica ainda uma parte às três esposas, Oyá (Iansã), Oxum e Obá – esta última, segundo a lenda, cortou a própria orelha, enganada por Oxum, a preferida do Rei.

Em seguida, o desfile vai mostrar como essa tradição chega ao Brasil pelo Nordeste, de seu sincretismo como São Jerônimo e vários outros santos, dependendo da região, como São Judas ou São João Batista e, finalmente, são Pedro, como o primeiro papa, que tem as chaves da Igreja e do Céu.

A parte carnavalizada do enredo traz a identificação do Salgueiro com Xangô e celebra os 60 anos desde a primeira vez que o professor Julio Expedito Machado, desfilou incorporando o protetor da escola: foi no Carnaval de 1969, no enredo Bahia de Todos Os Deuses. Julio ficou conhecido como o Xangô do Salgueiro e foi o primeiro-destaque da escola, sempre fantasiado de Salgueiro por 38 anos, até sua morte, aos 69 anos, em março de 2007.

No desfile de 2003, ano do cinquentário do Salgueiro, a escola desfilou sua história e Julio veio no carro em homenagem ao desfile de 1969 (aos 21′):

O setor final, aproveita a tendência recente de crítica no carnaval, e ressalta a identificação de Xangô como senhor da Justiça, num momento em que o país e a própria escola tem seus destinos nas mãos do Judiciário.

“Senhor do que é justo e correto, como o respeito à igualdade de todos. Se a justiça dos homens tem olhos vendados, onde “todos seriam iguais perante a lei”. Os de Xangô estão sempre bem abertos. Apelamos ao supremo tribunal, com seus doze Obás- Ministros de Xangô do Axé Opó Afonjá. Todos serão julgados sem privilegios! Presidido pelo Grande Juiz, que bate o martelo e dá seu veredicto: Chega de impunidade! Seus filhos pedem justiça. Cumpra-se!”

Xangô não era apenas primeiro-destaque do Salgueiro, participou de vários carnavais na tradição de enredos afro inaugurada pela própria escola nos anos 1960. Agora, o orixá é o grande protagonista. A escola aposta em um samba forte e emotivo num concurso que terá duração de dois meses, de 11 de agosto a 11 de outubro. Alex de Souza não quer uma música com detalhes históricos demais, o que explica a sinopse um tanto genérica. O objetivo é deixar o coração salgueirense falar mais alto. E quando isso acontece, geralmente sai coisa boa.

Se as questões políticas e administrativas não atrapalharem, o Salgueiro tem tudo para fazer um desfile com forte apelo popular.

ORDEM DE DESFILE

A Liesa fez uma reunião e definiu as regras do sorteio da ordem de desfile do carnaval 2019, que está marcado para o dia 17 de julho. E as notícias me deixaram de queixo caído. Quebrando a tradição, a Viradouro não terá de abrir o desfile do Grupo Especial. A “honra” caberá ao Império Serrano, que, junto com a Grande Rio, foram beneficiados com a virada de mesa em 2018. O início do domingo ficará então Império, Viradouro e Grande Rio. A São Clemente abre o desfile de segunda. Estes não podem trocar de posição.

Não haverá também pareamento entre as escolas na hora do sorteio de dia e posição. Será simplesmente uma questão de sorte. As escolas sorteiam números de 1 a 10. Quem tirar entre 1 e 5, cai domingo. Os demais na segunda. Isso pode gerar dias bastante desequilibrados. Lamentável.

05 de jul de 2018

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