Queda da Grande Rio surpreendeu e ameaça de marmelada permanece

Grande Rio 2018 – Foto: Gabriel Monteiro | Riotur

O desfile das escolas de samba do Grupo Especial em 2018 reservou duas grandes surpresas. Uma foi o vice-campeonato da Paraíso do Tuiuti, do qual vamos falar em outra oportunidade. A outra foi o rebaixamento da Grande Rio para a Série A. Supresa porque os analistas não acreditavam que uma escola do tamanho e força política pudesse receber as notas ruins – várias delas corretas, na minha opinião – que recebeu. Tanto que continuam os rumores de que ainda poderá haver virada de mesa.

Nos bastidores se comenta que o presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, estaria liderando um movimento para que isso acontecesse. Teria obtido apoio de algumas agremiações para a ideia e a oposição importante de Portela, Mocidade e Mangueira. Presidentes ouvidos pelo site Carnavalesco negaram ter assinado qualquer documento, mas o tititi continua vivo.

Nesta quinta-feira, a notícia da saída do premiado intérprete da Grande Rio, Emerson Dias, que vai para o Salgueiro, pode ser um indício de que este movimento tenha se enfraquecido e os grandes nomes da escola eventualmente possam ser contratados por outras escolas – o casal de mestre-sala e porta-bandeira e os coreógrafos de comissão de frente também são profissionais valorizados, isso sem falar na dupla de carnavalescos, Renato e Márcia Lage.

Reveja o desfile da Grande Rio em 2018:

A Grande Rio, afinal, fez ou não um desfile digno de rebaixamento? Antes de entrar na pista, a tricolor de Caxias era uma concorrente ao título. Tinha um enredo de apelo popular, o centenário do Chacrinha, e um carnavalesco respeitado no meio, o ex-Salgueiro e Mocidade, Renato Lage. Seu calcanhar de aquiles era o samba, mas poucos duvidavam que a escola, na pior das hipóteses, garantiria um espaço entre as 6 melhores.

Tudo ia razoavelmente bem, a apresentação da comissão de frente foi bem sucidada, a escola vinha evoluindo normalmente quando o último carro da escola, ainda na concentração ficou enganchado no meio-fio e quebrou. Neste ponto grande parte das alas já havia entrado. A direção de harmonia ficou tentando fazer a alegoria entrar e não conseguiu. Como reflexo disso, a Grande Rio ficou parada na pista um tempo grande, com um enorme buraco no início da avenida.

Quando finalmente perceberam que o carro era caso perdido, as alas se adiantaram e a partir daí a escola fez um rally contra o tempo para tentar encerrar a apresentação em 75 minutos. Não foi possível: os portões da Sapucaí foram fechados com 1h20 de desfile, o que acarretaria perda de 0,5 ponto. Parece pouco, mas essa é a diferença de pontuação entre a campeã e a 7ª colocada no Carnaval 2018. Sem a penalidade de tempo não teria havido rebaixamento e a Grande Rio ficaria em 10º, à frente de Ilha e São Clemente.

Mas não foi só a cronometragem que atrapalhou. O acidente com o carro, prejudicou a tricolor nas notas de alegorias (9,9; 9,8;9,9) e sobretudo de enredo (9,7;9,7;9,8), porque a falta de um carro prejudica a sequência da história a ser contada. Os jurados também pesaram a mão no quesito evolução (9,8;9,8;9,7), porque a parada e a corrida posterior foram prejudiciais.

E qual seria a base para manter a escola no Grupo Especial? A Grande Rio reclama que teria recebido notas mais baixas do que deveria no quesito alegorias e adereços. Segundo ela, os jurados não poderiam ter julgado a escola pela alegoria quebrada, que só passou na avenida depois do desfile, rebocada.

Como ainda não sabemos a justificativa dada para as notas pelos jurados, tudo não passa de especulação. A pulga atrás da orelha da comunidade do carnaval tem fundamento, ainda mais depois do que ocorreu no ano passado, quando a Mocidade tornou-se campeã em abril ao entrar com um recurso contra uma nota de enredo ao saber da justificativa. Vale lembrar que a Unidos da Tijuca e a hoje vice Tuiuti também foram beneficiadas por mudança de regulamento – este antes até da apuração. Decidiram que nenhuma escola desceria em função dos acidentes com carros alegóricos.

Compacto do desfile da Grande Rio 2006:

A Grande Rio sofreu outros dois reveses importantes em sua história recente. O mais importante em 2006. Ela havia feito uma apresentação muito forte e disputou o título nas notas até o final com a Vila Isabel, terminando empatadas em pontos. Se não tivesse perdido 0,2 por ter estourado o tempo do desfile poderia ter comemorado seu primeiro campeonato. Na preparação para o Carnaval 2011, um incêndio no barracão da escola destruiu grande parte das fantasias e alegorias. O fogo também atingiu Portela e Ilha. Nenhuma das três foi julgada por conta dos problemas causados pelo fogo.

Para o bem do Carnaval, especialmente depois de um ano em que o desfile das escolas de samba teve grande repercussão, é bom que as regras do jogo sejam respeitadas e a Grande Rio desfile em 2019 na Série A como ficou sacramentado na Quarta-Feira de Cinzas. A escola é forte e logo deve voltar para a elite e continuar perseguindo seu título.

 

23 de fev de 2018

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