Quais seriam as resoluções das escolas de samba para 2018?

No universo das escolas de samba, a virada do ano é a primeira segunda-feira depois do Desfile das Campeãs. Aí sim, vão arrumar a casa e fixar metas. Mas como 2018 é um ano atípico, vale começar a pensar em resoluções de ano novo logo agora, junto com o resto das pessoas. Aqui vai um conjunto de desejos que são puro exercício deste blogueiro.

Enquanto escrevo o texto da semana leio sobre um tal “encontro de baterias” no dia 7, domingo, em Copacabana. Batuqueiros das escolas do Grupo Especial vão percorrer ruas do bairro a partir de pontos diferentes e se encontrar no palco do Réveillon na praia onde se juntarão à Orquestra Sinfônica Brasileira. Como festa turística é interessante, uma espécie de teaser para o carnaval; mas vai ser facilmente visto como se a pendenga com a Prefeitura não fosse grave. E é.

1ª resolução: Buscar novas formas de financiamento

A questão das verbas é central: no dia 4 de janeiro o prefeito prometeu para o dia 15, menos de um mês do Carnaval, liberar enfim a verba para as escolas da Série A. Isso depois de cortar 50% da subvenção original. O contrato foi assinado há pouco, ou seja, as escolas têm de acreditar na palavra de um político. O comércio não acredita e cortou o crédito das escolas enquanto não tiverem certeza do repasse. Toda esta crise abre um debate antigo. As escolas precisam de vez se liberar do poder público, para não ficarem expostas à ideologia do prefeito da ocasião. O primeiro caminho é qualificar seus departamentos para fazerem projetos de captação de recursos via leis de incentivo. Ir à iniciativa privada em busca de patrocínio, sobretudo dos setores que mais lucram com a festa, como o setor hoteleiro, de comércio, bares e restaurantes, companhias aéreas.

2ª resolução: Se reaproximar do povão

Com menos dinheiro no bolso, as escolas cancelaram os ensaios técnicos. Para o próximo ciclo, o custo de mobilização destes ensaios precisa entrar na conta do desfile. Os ensaios são oportunidade de aproximação com os torcedores que, muitas vezes, não têm dinheiro para comprarem ingresso no Carnaval. E também intensificar os encontros da escola com os torcedores do bairro (os ensaios de rua). As escolas precisam de quem engrosse a luta por elas.

3ª resolução: Atividades culturais nas quadras

Na maior parte das escolas, os departamentos culturais são usados apenas na pesquisa dos enredos. É hora de usá-los como tem feito a Portela nos últimos anos. Promovendo eventos, rodas de samba, exposições, debates sobre o tema do enredo, enfim, manter datas em que a quadra é aberta para que as pessoas frequentem a escola mesmo longe dos dias do carnaval.

4ª resolução: Buscar apoio da sociedade

Nenhuma pessoa com juízo nega a relevância cultural das escolas de samba, mas permanecer deitado em berço esplêndido não combina com o Século 21. As escolas têm de investir em marketing, promoção de marca, conquista de influenciadores. As escolas precisam voltar pra mídia, mas a mídia só vai dar o espaço de antes para elas se as pessoas estiverem comentando os temas nas redes sociais. Além disso, a tática impede que argumentos demagógicos como o utilizado no corte das verbas (que os recursos seriam canalizados para creches) não tenham eco no público que só ouve falar das escolas no pré-carnaval.

5ª resolução: Ter clara a função e importância das escolas para a cultura

Mais do que tudo, as escolas de samba precisam ter consciência da própria importância. Os enredos de 2018, críticos, culturais, relevantes foram muito o resultado de negociações frustradas com os tais “patrocínios” que nem sempre são honrados e acabam obrigando as agremiações a momentos constrangedores como a Porto da Pedra desfilando a história do iogurte, a Grande Rio a Vale do Rio Doce ou a Mocidade o Rock in Rio. Este ano, veremos belos desfiles que renderam por baixo pelo menos meia dúzia de sambas muito fortes.

Escola de samba é arte multimídia e multidisciplinar, é turismo, é diversão, é comunidade, é cultura, é evento, é emprego, é renda, é identidade, é patrimônio cultural do Rio. O Brasil precisa das escolas de samba, mas elas precisam dar um empurrãozinho. Que ele seja dado em 2018.

04 de jan de 2018

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