Protesto lírico da Mangueira e engajado do Tuiuti são destaques da noite

A tônica da primeira noite de desfiles do Grupo Especial foi a união feliz entre arte e protesto. Os dois pontos altos das sete primeiras escolas foram proporcionados por Mangueira e Tuiuti, que trouxeram enredos críticos e encantaram o público.

A verde e rosa, sexta a desfilar, trouxe um libelo em favor de um carnaval mais popular e, de quebra, reclamou do prefeito-bispo que tanto infernizou a vida das escolas de samba ao longo da preparação para o Carnaval 2018. Fantasias em tom pastel, verde água e rosa bebê lembravam figuras antigas da festa de Momo como o Zé Pereira.

Os carros da Mangueira estavam bonitos e passaram o recado do enredo, sobretudo o final, que tinha um enorme pierrot triste.  Só que, mais uma vez, o elemento mais notado foi um tripé, que trazia Crivella de Judas de Sábado de Aleluia com os dizeres “Pega no Ganzá”, em alusão a um refrão de samba-enredo antigo do Salgueiro, entoado pelo então candidato a prefeito.

O samba da Mangueira é muito bom, mas não explodiu como se esperava e a evolução foi irregular para uma escola que estava pequena e teve de segurar no final para cumprir o tempo mínimo de 65 minutos.

Mangueira

A cronometragem também foi um drama para outras duas escolas. O Império Serrano abriu a noite com seu enredo sobre a China e a auto-referência às tradições imperianas. A escola tinha fantasias suntuosas, alguns carros grandes. O samba funcionou bem, sobretudo quando acompanhado pela bateria que se apresentou com segurança. Nitidamente os componentes estavam felizes de voltar ao “lugar de direito” da escola, nove vezes campeã do Carnaval. Mas por um destes descuidos inexplicáveis, o Império acabou de desfilar antes do tempo mínimo, com 63 minutos, o que o faz partir de cara com 2 décimos a menos.

Império Serrano

Já o caso da Grande Rio foi o inverso. A escola fazia um suntuoso desfile sobre a vida do Chacrinha. Muito neón nas alegorias de Renato e Márcia Lage, televisões, telões de LED em vários carros. Apesar de algumas alas serem repetitivas, a escola fazia uma apresentação honesta.

Até que o último carro quebrou na concentração. A Grande Rio esperou que ele chegasse e abriu um buraco enorme na avenida, enquanto a cabeça da escola esperava a situação se corrigir, o que não aconteceu. Com isso, a parte final da escola entrou na avenida correndo muito para tentar evitar o estouro do tempo, o que foi impossível. Com cinco minutos além do permitido, a Grande Rio inicia a apuração 5 décimos atrás.

Grande Rio

Outra escola que teve alguns problemas para manobrar carros foi a Mocidade. A atual campeã cantou a identidade cultural entre Índia e Brasil com um dos sambas badalados do ano. O componente cantou bastante, mas não contagiou o público. O visual da escola foi pensado para dia claro e as fantasias ganharam colorido bem interessante ao alvorecer. O principal problema aconteceu com o abre-alas, que não conseguia sair da dispersão, fazendo a escola parar um longo tempo. A bateria só entrou no box com 50 minutos e as últimas alas tiveram que correr bastante para que ela conseguisse passar dentro do tempo. Deve beliscar uma posição nas campeãs.

Mocidade

Havia muita expectativa em torno da Vila Isabel por causa da presença de Paulo Barros. E sua marca estava lá: várias alegorias dançantes, interativas, tecnológicas e… giratórias. Acontece que o enredo futurista pareceu um tanto confuso e calcado no girar da vida, tanto que diversas fantasias e alegorias tinham algum elemento rodando. Mas o samba definitivamente não aconteceu e a escola passou sem empolgação.

Vila Isabel

A São Clemente tinha uma proposta de enredo bastante clara, ao contrário. Os 100 anos da Escola Nacional de Belas Artes que foi contado com abre-alas suntuoso e uma série de fantasias muito interessantes, como a das baianas que tinha reproduções de pinturas na saia. Com um visual caprichado, esperava-se mais empolgação da escola, que não cantou o samba simpático.

São Clemente

Um dos dois melhores sambas do ano, da Paraíso do Tuiuti foi o único a obter uma resposta mais vigorosa do público. O enredo imaginado por Jack Vasconcelos se materializou na avenida com visual suntuoso – foi a primeira escola do dia a usar plumas até a quarta apresentação.  Fantasias belas, carros de bom gosto pontuaram o desfile até a lei áurea. Depois disso, o cortejo foi tomado por barracos de tijolo aparente, manifestantes e trabalhadores com suas carteiras de trabalho sujas “for falta de uso”. Tudo dentro da proposta Meu Deus, está extinta a escravidão?

Paraíso do Tuiuti

A disputa pelo título ainda está aberta e a Mangueira se candidatou. O Tuiuti dificilmente receberá as notas que merece, mas espera-se que a depender do que acontecer no desfile de segunda chegue, no mínimo, entre as seis melhores.

12 de fev de 2018

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