Portela, Salgueiro e Beija-Flor são destaques da 2ª noite do Especial

Portela – 2017

O segundo dia do Desfile do Grupo Especial do Carnaval 2018 tem menos escolas, mas três são fortes postulantes ao título e vão entrar na avenida já sabendo os eventuais erros cometidos pelas rivais que desfilaram no domingo.

A primeira da noite é a Unidos da Tijuca, fazendo homenagem ao ator, roteirista e diretor Miguel Falabella, de tantos personagens populares como da série Sai de Baixo ou o mais recente Pé Na Cova, que fez junto com a amiga Marília Pera e a cantora Mart’Nália. Ela fez questão de participar da homenagem colocando um samba na disputa da escola e foi vencedora. O principal objetivo é apagar a má impressão com o Carnaval do ano passado quando ocorreu o desabamento de uma alegoria e o não rebaixamento com virada de mesa. Mas o Pavão é valente e sabe sair de situações adversas. Não espere um desfile “café com leite”.

Logo em seguida, entra a maior campeã dos desfiles: mordida com a divisão tardia do título com a Mocidade, a Águia vem com sangue nos olhos para tentar o bicampeonato e, desta vez, sem companhia. O que poderia ter sido um enorme baque, a perda de Paulo Barros, transformou-se num casamento dos sonhos com a chegada de Rosa Magalhães. Ela havia sido figurinista da Portela em 1977 e 1978 e voltou 40 anos depois como carnavalesca mais bem sucedida da era Sambódromo. Seu enredo conta a saga dos judeus do Recife expulsos pela inquisição portuguesa que foram peregrinar pelo sertão, o Caribe e acabaram em uma colônia na América do Norte, onde ajudaram a fundar a cidade de Nova York. É história que só a mestra Rosa poderia conceber.

A Portela também perdeu sua porta-bandeira e trouxe de volta a excelente Lucinha Nobre, que já havia feito apresentações memoráveis pela escola. A bateria de Mestre Nilo também está afiadíssima e imprimiu um ritmo irresistível ao samba, para o qual boa parte dos críticos torce o nariz, mas a comunidade abraçou e tem muito orgulho de cantar, especialmente no pedaço em que diz “22 estrelas lá no céu”.  É forte concorrente ao bi e desfila numa posição ótima, embalada pelo fortíssimo ensaio técnico que fez na semana passada.

Em seguida, vem a Ilha com um desfile que promete encher de água na boca o público da Sapucaí. Severo Luzardo fará um passeio pelas tradições culturais que formaram as comidas e sabores do Brasil. Outro samba que também não tem chancela de grande obra e, mais uma vez, foi abraçado pela comunidade da escola. O trabalho estético de Luzardo já chamara atenção em 2017 e a tricolor vem buscando se afirmar como força e, no mínimo, quer voltar no Desfile das Campeãs, de preferência como prato principal, como diz seu samba.

A quarta escola a desfilar é o Salgueiro. Para a realização do enredo Senhoras do Ventre do Mundo, aparentemente, a crise passou longe. Com um barracão dos mais suntuosos, a vermelho e branco vem de carnavalesco novo, Alex de Souza, que anda feliz da vida por ter, segundo ele, conseguido realizar todo o projeto imaginado para a celebração da força da mulher negra na cultura. Enredos afros são parte da identidade do Salgueiro e isso torna a escola uma das favoritas indiscutíveis do desfile, mesmo com outro samba de fama discreta no pré-carnaval.

Quem viu ou se lembra do filme Uma Noite no Museu vai adorar o desfile da Imperatriz, que homenageia os 200 anos do Museu Nacional, que foi residência da família imperial e fica na Quinta da Boa Vista, um dos cartões postais da cidade. A escola tem um dos sambas que dividem opiniões, mas eu particularmente acho de uma melodia muito gostosa e letra ultra inteligente. Deve tornar o desfile um deleite para os ouvidos e os olhos, com o passeio pelas diversas seções do museu entre fauna, flora, esqueletos arqueológicos, instrumentos de outras culturas. O carnaval mais uma vez tem a assinatura de Cahê Rodrigues e a escola também pleiteia um lugar nas Campeãs.

Para encerrar a festa do Grupo Especial, a maior vencedora da era Sambódromo, a Beija-Flor de Nilópolis. Sempre que a azul e branca desfilou nesta posição, venceu o Carnaval desde que ele é dividido em dois dias. Será que a escrita vai permanecer? O samba-enredo disputa pau a pau com o da Tuiuti como um dos mais belos da safra, um manifesto duro, direto e emocionado contra a barafunda que se tornou o país e, sobretudo, como tratamos os jovens pobres. Viralizou na Internet esta semana um vídeo de garotos pobres executando o samba da escola com instrumentos improvisados e a Beija-Flor resolveu doar instrumentos de percussão para o grupo.

 

O enredo em si parece um pouco confuso e precisa tomar cuidado para não resvalar no panfletário e ficar só amargo, sem a necessária carnavalização, elemento importante nos desfiles. De qualquer forma, há grande expectativa por esta apresentação. A azul e branco de Nilópolis promete um arrastão de alegria pra fazer qualquer dor no peito ir embora. Que assim seja, Beija-Flor, pra fecharmos o tão atribulado mas já inesquecível Carnaval 2018.

12 de fev de 2018

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