Paulo Barros levará Viradouro pelo mundo da fantasia no Carnaval 2019

Depois de um ciclo turbulento que redundou num desfile pra lá de discreto na Vila Isabel, Paulo Barros tenta sacudir a poeira em seu retorno à Viradouro, escola em que esteve nos carnavais de 2007 e 2008. Mas parece que a maré ainda não mudou totalmente: o enredo Viraviradouro teve sua sinopse divulgada nesta semana com direito a dramatização com um ator e o próprio carnavalesco.

Tudo começa com uma avó conversando com seu neto e lendo com ele um livro mágico que leva o mesmo nome do enredo, uma ideia que remete de certa forma ao mote do filme (e do livro) A História Sem Fim. A avó narra para a criança o conteúdo daquelas páginas, que começam libertando os “encantadores” que realizam desejos impossíveis ou lançam terríveis maldições. Personagens como o gênio da lâmpada, a fada dos desejos, o diabo ou a bruxa, autora da “viração”. Eles saem do livro e vivem sua aventura na avenida.

O segundo capítulo do livro leva aos contos de fada, estes mais tradicionais, como o da Cinderela, Alice no País das Maravilhas, o gato de botas ou o soldadinho de chumbo. Em seguida, o enredo enfoca a “ala” dos amaldiçoados, em que Barros se socorre da mitologia e seus seres condenados a viver o destino traçado pela ira divina. Chance para enfocar personagens como o Rei Midas, a Medusa, ou Merlin e o navio fantasma holandês que assombra os marinheiros.

Depois dos amaldiçoados, as criaturas da noite são o tema do quarto capítulo, dando chance a múmias, zumbis, piratas, vampiros, dando a impressão de que a avenida virou um pesadelo. A vovó então volta a intervir: “Não podemos quebrar o encanto e deixar o mal dominar. Ele pode nos destruir e, então, tudo se acabará! A cada dia, perdemos nossa capacidade de acreditar na fantasia… Esquecemos como é bom ser criança e brincar com a imaginação”.

O capítulo derradeiro da história da Viradouro traz a fênix, o famoso pássaro que se ergueu das cinzas e faz renascer aos poucos toda “a floresta encantada”. Bastaria acreditar para que voltássemos a ver novamente fadas, gnomos e toda sorte de seres que povoam nossa fantasia, uma outra referência ao livro do escritor alemão Micheal Ende (autor de A História Sem Fim).

E a sinopse conclui: “Ah, então, Viraviradouro é a magia de quem só quer alegria para a vida virar! Divertir quem gosta de histórias, brincar com a memória e nos transformar. Queimar a semente do mal e renascer das cinzas, se não for por toda a vida, que seja na Avenida, numa noite de Carnaval!”

Inicialmente, a intenção de Paulo Barros era falar do universo fantástico e criativo de Joaosinho Trinta, o “mitológico” carnavalesco que surgiu no Salgueiro, alçou a Beija-Flor ao status de grande escola e também levou a própria Viradouro ao único título no Grupo Especial. Mas a família cobrou caro e fez a escola desistir da referência.

Além do título de 1997, Joãosinho Trinta sacudiu a Sapucaí com a Viradouro no Carnaval de 1998 reproduzindo a história de Orfeu e Eurídice no Carnaval:

Coincidência ou não, algumas passagens do livro encantado da Viradouro remetem a personagens (e enredos) feitos por João Trinta, como a Alice no País das Maravilhas (1991), as bruxas, a floresta encantada (1980).

A história do livro parece apenas uma sequência de personagens e pequenas histórias agrupadas por categorias, sem que tenham uma coerência interna, ou seja, não contribuem para a narrativa. O mote de resgate da fantasia e da capacidade de sonhar soa simpático, mas a escola corre risco de perder alguns décimos preciosos no desenvolvimento desta história, caso não esteja muito bem fundamentada na defesa do enredo para os jurados.

A Viradouro, no entanto, não pretende entrar na avenida para fazer figuração. Quer alçar voos mais altos e não bancar a ioiô de novo, como ocorreu em 2015 – quando a agremiação estava em um momento político totalmente diferente e não se segurou no Especial.

Hoje aparenta boa organização, já fazendo intervenções em suas estruturas de carros alegóricos, para comportar os devaneios (bem-vindos) de Paulo Barros. Além disso, tem consciência de que o samba-enredo será um componente importante, especialmente depois do carnaval 2018, em que se mostrou um quesito decisivo tanto na fluência do desfile da Beija-Flor quanto no surpreendente vice-campeonato da Paraíso do Tuiuti.

A vermelho e branco de Niterói também trouxe de volta para o comando da bateria Mestre Ciça, que estava na União da Ilha, e goza de bastante prestígio na escola. Ou seja, está montando um time que garanta um desfile forte e sua permanência no Especial, sobretudo aproveitando o fato de que, há dois anos sem rebaixamento, a escola tem chance real de quebrar a escrita de que a escola vinda do acesso sempre é a última colocada. Nesta década apenas União da Ilha e São Clemente se livraram da “maldição” e a segunda foi beneficiada pelo incêndio na Cidade do Samba, que eliminou o rebaixamento e 2011.

Apesar de o enredo ser um pouco confuso, nunca é bom subestimar a capacidade de Paulo Barros de encantar o público com suas invenções e referências literárias e cinematográficas. A Viradouro é uma escola forte, que tem feito apresentações com um chão muito seguro nos últimos dois anos. Mesmo que abra o desfile do Grupo Especial promete lutar para se manter entre as grandes.

Relembre o excelente desfile da Viradouro da campeã da Série A em 2018:

15 de jun de 2018

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