Onisuáquimalipanse, a nova ousadia de Rosa Magalhães

Fale em voz alta e rápido a palavra acima. Travou a língua? Não se preocupe, a palavra não existe em português. É uma transcrição fonética para tornar pronunciável a expressão em francês Honi soit qui mal y pense ou “maldito aquele que pensar mal de mim”. E o que tem isso a ver com carnaval?

Esse é o nome do enredo da São Clemente para o carnaval 2017. A escola de Botafogo terá mais um desfile com a grife de Rosa Magalhães, uma das maiores campeãs da era Sambódromo. E todos esses galicismos caem muito bem depois que conhecemos a sinopse, já apresentada aos componentes.

O universo de Onisuáquimalipanse é a França do século 17. Seu personagem principal Luís XV, o Rei Sol. Para poder se dedicar ao que a monarquia absolutista gostava de fazer, ou seja, tudo menos governar, o monarca nomeou Nicolas Fouquet seu secretário do Tesouro.

Ao longo dos anos, Fouquet tornou-se um homem muito rico e, para celebrar sua boa vida, resolveu reformar um acanhado castelo. O nobre não regateou, encarregando grandes artistas da época para tomar conta da obra.

A inauguração contou com o rei, 600 convidados e um cozinheiro performático chamado Vattel. O castelo tão suntuoso recebendo uma festa escandalosamente nababesca fizeram Luís XV suspeitar de seu “secretário do tesouro”. Além de tomar as devidas providências contra o audacioso Fouquet – naquele tempo não havia Ministério Público, CPI – o rei invejoso mandou construírem para ele uma obra ainda mais espetacular. O resultado? Palácio de Versailles.

A história é verídica e as semelhanças com as de um certo país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza  são mera coincidência, brincou Rosa, com sorriso maroto durante a apresentação do tema.

Desta forma, a São Clemente leva um enredo de capa e espada para a avenida, com grandes possibilidades plásticas e ao mesmo tempo dúbio o suficiente para manter a veia crítica tão cara à escola. Tanto Rosa quando o presidente Renato Gomes desconversam sobre o paralelo com nossa política, mas é difícil imaginar que se vá perder tamanha chance de rir da nossa desgraça política. Afinal, essa é a função social mais relevante do carnaval.

Com uma história coerente, rica em imagens e em duplo sentido, a São Clemente dá mais um passo no processo de consolidação no Grupo Especial. A escola estreou entre as grandes em 1985 e seus desfiles em tom de crítica social chamaram atenção. Teve um período consistente até 1991. Desde então, vinha funcionando como escola ioiô (subindo e descendo do grupo principal).

Rosa é uma profissional de primeira linha e quando chegou à São Clemente houve quem especulasse se o casamento faria sentido. Até agora, deu bons resultados. E o carnaval 2017, no que depender do enredo, deve manter a lua de mel.

LEIA A ÍNTEGRA DA SINOPSE DO ENREDO

Em 2015, muitos analistas em quem confio consideraram a São Clemente como o melhor desfile do Grupo Especial, mas os jurados não tiveram coragem de premiar a vibrante apresentação. Em termos de resultado, a melhor colocação da amarelo e preto de Botafogo foi o sexto lugar em 1990. “O Samba sambou” era uma crítica às dimensões hollywoodianas que o espetáculo alcançou.