O risco de incêndio sempre rondou a preparação do Carnaval do Rio

Em 2015, o carnavalesco Paulo Barros causou uma polêmica danada ao assinar o Carnaval da Mocidade Independente e “tocar fogo” na saia da porta-bandeira e integrantes da Comissão de Frente. Foram muitas críticas por causa, sobretudo, do risco que se correu. Numa semana em que o assunto da semana no país foi o terrível incêndio seguido de desabamento de um prédio no centro de São Paulo, vale lembrar que o mundo do Carnaval ainda tem muito a fazer nesta área.

Incêndios são, geralmente, produto de uma série de erros, seguidas de uma fatalidade qualquer. Como a maioria dos equívocos nunca é admitida pelas partes, torna-se mais difícil reduzir as chances de um acidente acontecer, já que evitá-lo completamente é impossível

A cena trágica de uma bela alegoria de um palácio russo e matilhas de huskies siberianos lambidos por chamas em plena avenida durante o desfile da Viradouro, em 1992, é apenas a mais famosa. Em 2007, uma escultura do abre-alas da Unidos da Tijuca pegou fogo durante o desfile das campeãs, provando que o risco sempre está presente.

O belo desfile de 1992, A Magia da Sorte Chegou, que teve um carro incendiado em plena avenida (a partir do min. 7):

Todo o material utilizado na confecção de alegorias e fantasias é bastante inflamável e, nos tempos modernos, a iluminação essencial adiciona um fator de risco a mais. Por isso mesmo, desde o acidente da Viradouro, as medidas de segurança contra incêndio nas alegorias ficaram mais rigorosas e soldados do Corpo de Bombeiros costumam andar ao lado das alegorias ao longo do percurso de 700 metros da Sapucaí.

Mas e o antes e depois da Sapucaí? Aí estão os principais riscos: muitos barracões são instalados em galpões da zona portuária do Rio cedidos às escolas para preparação dos desfiles. Lugares precários, onde qualquer descuido pode ser fatal. A Grande Rio já teve até uma alegoria incendiada no percurso de retorno de uma alegoria para o barracão após o desfile.

A Portela, em 2005, viveu uma preparação atribulada para o carnaval: um dos carros que seriam acoplados ao abre-alas pegou fogo em um barracão vizinho, destruindo a estrutura. Na concentração, a solda das ferragens quase provoca outro incêndio, controlado rapidamente pelos funcionários. Por conta deste incidente, a Portela teve de desfilar com a águia sem asas e quase foi rebaixada para o Grupo de Acesso.

O desastre com o carro que seria acoplado fez a Águia desfilar sem asas em 2005 (aos 3min): 

Quando foi inaugurada a Cidade do Samba, em 2006, para abrigar as escolas de samba do Grupo Especial, esperava-se que, pelo menos lá, esse problema estivesse resolvido. Mas em 2011, um incêndio iniciado no barracão da Grande Rio causou prejuízos também à União da Ilha e à Portela, que não disputaram o campeonato daquele ano, embora tenham conseguido desfilar.

Reportagem da TV Globo sobre o incêndio na época: 

Após a ocupação da Cidade do Samba, os antigos barracões foram ocupados pelas escolas do Grupo de Acesso – galpões na Gamboa, Saúde, Santo Cristo e arredores. Na preparação para o Carnaval de 2018, a vítima foi a Renascer de Jacarepaguá, que teve sua preparação bastante prejudicada por conta de um incêndio no barracão.

Depois dos acidentes ocorridos durante o desfile de 2017 com as estruturas de carros – o atropelamento e posterior morte de uma jornalista por alegoria do Tuiuti e desabamento de outra da Tijuca – houve promessas de regras mais rígidas. A Imperatriz chegou a perder um carro em incêndio rapidamente controlado durante a desmontagem das alegorias do enredo sobre o Xingu, daquele ano. Um operário da São Clemente morreu em um acidente na preparação para 2018, embora o fato não tivesse relação com fogo.

Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Liga Independente das Escolas de Samba fizeram uma série de reuniões para rediscutir fiscalizações e especificações de segurança tanto nas alegorias em si como nas instalações onde são construídas. Por conta do impasse, os barracões da Cidade do Samba chegaram a ficar interditados durante alguns dias.

O desfile de 2018 transcorreu sem maiores problemas além dos comuns (rodas que emperram, engrenagens que não funcionam aqui e ali, iluminação que falha). Mas nesta mesma semana, houve um incêndio em um dos velhos barracões da Zona Portuária, que pertence à Império da Tijuca e vinha sendo utilizado pela União de Parque Curicica. Não houve feridos.

Esperamos que ocorra de fato uma evolução tecnológica das alegorias para garantir segurança aos desfilantes e que o poder público em parceria com as escolas de samba consigam resolver a médio prazo a questão das instalações precárias onde a maioria delas (exceto as do Especial) produz parte do belíssimo show que assistimos todos os anos no Sambódromo.

04 de maio de 2018

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