Mangueira, a escola da emoção, faz 89 anos com história cheia de glórias

“Mangueira, eu já ergui minha bandeira, bati três vezes na madeira, para a vitória alcançar.” Os primeiros versos do belo samba-enredo da verde e rosa em 2017 são uma tradução bastante fiel do estado de espírito de seus torcedores e da aura que toma a avenida quando aquele locutor estridente da Sapucaí anuncia: “Para os aplausos de vocês… Vem aí…. Estação Primeira de Mangueira!”.

Esta escola, que junto com a Portela, é considerada uma das matriarcas da avenida, é assim: emocional, coração à flor da pele, paixão desbragada. Bandeiras ao alto, samba decorado na ponta da língua, o mangueirense não quer nem saber se os quesitos estão fortes ou não, se o enredo é bom, etc. Eles esperam aquele momento mágico de ligação com o Sambódromo. Se der o clique, é difícil ganhar da Mangueira. E eles já ganharam 19 vezes – ainda que esta conta inclua dois títulos em um ano só: 1984, quando ganhou o desfile de segunda (sim, naquele ano houve duas campeãs) e outro pelo “supercampeonato” no desfile das campeãs, ideia estapafúrdia abandonada no ano seguinte.

Um compacto do desfile de 1984:

O mangueirense veio lindo naquele ano porque Max Lopes fez uma combinação muito inteligente das duas cores da escola. E todo carnavalesco que chega precisa saber: o componente da Mangueira quer desfilar de verde e rosa. Sem esse negócio de evitar a combinação das cores que um jurado nos anos 60 ousou dizer serem de mau gosto. Em 1984, além de bem vestida, a escola tinha como tema um dos grandes compositores de marchinhas e letrista da canção “O Carinhoso”: “Yes, Nós Temos Braguinha”. Ao final do desfile oficial, a Mangueira deu meia volta na Praça da Apoteose que, na época, era mesmo uma praça, e voltou na contramão sentido Presidente Vargas, com o povo atrás enlouquecido.

Neste vídeo, a partir do minuto 34’30”, a Mangueira desfila no sentido contrário:

Outra destas reuniões mágicas viria a ocorrer dois anos depois. A Mangueira estava com visual bem mais modesto, mas tinha como enredo ninguém menos que Dorival Caymmi e um samba “arrasa-quarteirão”. Não deu outra: campeã. Já em 1990, com enredo de inspiração mineira contando a história de uma personagem chamada Sinhá Olímpia. O público já tinha embarcado, mas um carro ficou emperrado em frente ao setor 11 e a escola estourou o tempo.

O desfile de 1986:

e o drama de 1990, a partir de 1h13min:

 

Este drama ainda se repetiria com a escola outras vezes, mas este foi marcante porque naquele ano só a Mocidade poderia tirar o título da Mangueira. O evento de 1990 tem malfadada relação com o que houve em 2017. Samba belo, enredo que emocionou muita gente, vestida e carnavalizada com estilo. Mas o segundo carro cismou em emperrar e permitiu a abertura de um buraco que ia do setor 5 ao 9, bem na frente, portanto, da cabine dupla dos jurados.

Mas esta escola que nasceu em 1928 e nos deu poetas do quilate de Cartola, Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Nelson Sargento, Jamelão, nos faz lembrar que escola batizada no altar do samba está acima da vitória e da derrota, acima do bem e do mal. Parabéns, Estação Primeira de Mangueira. Rogai por nós!

28 de abr de 2017

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