O longo caminho que levou a taça de campeã de volta pra Portela

A última Quarta-feira de Cinzas foi especial pra Portela, uma espécie de presente antecipado pelos 94 anos celebrados em 11 de abril. Quando o locutor anunciou a última nota 10 do quesito enredo, a escola não tinha mais como adiar seu reencontro com a glória 33 anos depois do último triunfo.

O 22º campeonato da Águia Altaneira veio como coroação de um trabalho que começou bem antes, com um grupo de torcedores que fundaram um site em homenagem à escola, o Portela Web. Insatisfeitos com a desastrosa administração de Nilo Figueiredo, que entre 2004 e 2013 levou a Portela ao desfile das campeãs apenas 3 vezes, um quase rebaixamento e a vergonha de se apresentar como hors-concours (em 2011) eles resolveram tomar uma atitude e começaram a articular uma movimento de oposição que ganhou força quando Marcos Falcon se juntou ao projeto.

A luta não foi fácil. A escola tinha vários vícios, estava acostumada ao meio da tabela e tinha poucas atividades em sua quadra. Em 25 de fevereiro de 2013, foi lançada oficialmente a chapa Portela Verdade, encabeçada por Serginho Procópio, com Marcos Falcon de vice e as bênçãos de Monarco e boa parte da Velha Guarda da escola. Em 19 de maio, por apenas 3 votos, venceu a eleição.

O cenário encontrado era de terra arrasada. A quadra tivera água e luz cortadas por falta de pagamentos e a escola devia cifra astronômica aos fornecedores. O nome da Águia começou a ser limpo com administração séria, promovendo uma reaproximação com o público. Eventos como a Feijoada da Família Portelense passaram a ser um acontecimento no Rio de Janeiro. O departamento Cultural investiu em resgate de memória e preservação do samba, mesmo em momentos longe do carnaval. E quando ele veio, os resultados foram surpreendentes:

2014 – Um Rio de Mar a Mar: do Valongo à Glória de São Sebastião

Logo em seu primeiro carnaval, a nova administração surpreendeu trazendo uma Portela altiva e que fez um desfile competitivo, como não apresentava desde 2009. Contou a história do primeiro porto de escravos do Rio e encantou o público. Num ano de desfiles fracos, poderia ter encerrado o jejum ali. Mas era preciso convencer antes os jurados…

2015 – ImagináRIO – 450 janeiros de uma cidade surreal

A escola fez um desfile um pouco mais acidentado, com problemas de iluminação e o desacoplamento de um carro no final, mas o abre-alas que fundia a Águia com o Cristo Redentor foi a imagem do carnaval. Ficou no 5º lugar por causa de desempate, com o mesmo número de pontos do 3º.

2016 – No Voo da Águia, uma viagem sem fim

Logo após o carnaval, a Portela contratou ninguém menos que Paulo Barros, o carnavalesco mais badalado de todos, e ficou a dúvida se escola “tradicional” feito a Portela iria se adaptar ao estilo pop de Barros. A resposta veio de forma contundente: com dinossauros, travessia do Mar Vermelho, um Gulliver gigante e muita água, a azul e branco foi ovacionada do começo ao fim da apresentação. Os jurados cismaram com a água e deixaram a escola no terceiro lugar de novo.

2017 – Quem Nunca Sentiu o Corpo Arrepiar ao Ver Esse Rio Passar

Paulo Barros, irritado com a desculpa dada pelos jurados para tirar os décimos que faltaram à escola, resolveu responder com… mais água. Durante a preparação, os portelenses sofreram um duro golpe, o assassinato de seu presidente, Marcos Falcon, eleito meses antes. A Águia trouxe uma poética metáfora entre o desfile da escola e o curso do Rio, homenageando seus baluartes e todos os rios do mundo. Sem qualquer problema num carnaval de desfiles conturbados, a espera estava encerrada. Em diversas quadras, os torcedores aplaudiram a vitória.

Nem mesmo a polêmica surgida depois da divulgação das justificativas e a estranha reunião dos presidente das escolas em que resolveram repartir o título com a Mocidade serviu para abalar a alegria dos portelenses. A campeã voltou.

 

13 de abr de 2017

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