Império Serrano vai até a China para tentar se manter no Grupo Especial

Durou longos nove anos o caminho de volta do Império Serrano ao Grupo Especial. Uma das escolas mais tradicionais do Rio e detentora de 9 títulos volta à elite no Carnaval 2018 com uma missão difícil. Desde que o desfile assumiu a configuração com 12 escolas, em 2008, apenas São Clemente e União da Ilha conseguiram subir do Acesso e não voltar pra ele no ano seguinte. Isso aconteceu inclusive com o próprio Império Serrano, em 2009.

Como arma para tentar quebrar esta escrita, a escola da Serrinha vai lançar mão do peso de sua história no carnaval. Num lance que surpreendeu muita gente, abriu mão do carnavalesco campeão da Série A, Marcus Ferreira, que fizera um lindo desfile sobre o poeta pantaneiro Manoel de Barros em 2017 e contratou Fábio Ricardo, ex-Grande Rio. Impressionado com a tradição da escola, resolveu recorrer a um tema que tentasse traduzir a grandeza da verde e branco. A resposta foi: O Império na Rota da China.

 

Relembre o belo desfile que deu o título da Série A ao Império em 2017:

 

Recorrendo a uma metáfora semelhante àquela que a Portela usou em 2017, de comparar sua história com a dos rios, a Serrinha vai tentar contar a trajetória do Império Chinês nos cinco setores de seu desfile, comparando a sua própria.

O enredo sai do subúrbio de Madureira para dar um salto de 3 mil anos no tempo, quando o casulo de bicho da seda caiu no chá da imperatriz. O primeiro setor, batizado de O Império se reuniu…na China, faz daquele evento lendário o início da seda verde e branca que guiará essa viagem pela história (da China e do Império), iniciada em um mundo de opostos e magia, da fênix e do dragão.

Em seguida, no setor batizado de Velha Guarda Imperial da China – As Dinastias, fala-se da longa série de imperadores e os legados que deixaram talhados no tempo – aqui dá pra imaginar homenagens a baluartes como Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, grandes personagens da história imperiana.

A terceira parte se dedica às religiões (O Samba é Nossa Religião) defendendo que os chineses extraíram do Confucionismo a ética, do Taoísmo o equilíbrio e do budismo o culto aos antepassados. “Povo de alma moldada em magias, talismãs e reencarnação em corações matizados”, diz a sinopse.

O setor Pregoa Pregoeiro – O mercado é todo seu (que é literalmente um verso do samba-enredo da escola de 1987) dá espaço às caravanas pelo deserto, as rotas da seda, a viagem de Marco Polo e a surpresa dos europeus no contato com aquela cultura cheia de magias, segredos e invenções.

A grande Muralha da China aparece no quinto setor,”Meu Império é Raiz, Herança” (outra referência a verso de samba-enredo, desta vez o de 2006, composto por Arlindo Cruz), em que aborda as guerras e os fogos de artifício.

 

Compacto do Desfile do Império no Carnaval de 2006, melhor colocação da escola no Especial nos últimos anos

 

Viajar é bom, mas voltar pra casa é preciso. Com esse mote, o enredo entra na fase Serrinha Custa, mas vem, em que fala das contribuições da China moderna, provavelmente misturando a festa do carnaval com a do Ano Novo Chinês.

Fábio Ricardo reconhece que o Império Serrano não tem direito de errar. As últimas duas escolas rebaixadas Viradouro e Estácio também já foram campeãs do Especial, mas não resistiram à má vontade dos jurados com as escolas que vêm do Acesso. O caso do Estácio, principalmente, foi injusto. Por isso, a Serrinha aposta em um desfile moderno, grandioso, ainda que escorado na tradição.

É muito claro que Ricardo está deslumbrado com a raiz imperiana. Mas faltou esclarecer melhor como será carnavalizada a metáfora entre os impérios. Visualmente, a China dá oportunidade infinita e espero que a escola vá além dos templos, dragões e pagodes.

Abrir o desfile de domingo não é fácil pra ninguém e o Império vai ter de lutar contra a indiferença do público. Para isso, precisa de um sambão. Torço para que o Império consiga se manter na elite.

02 de set de 2017

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