Imperatriz vai aprontar um Karup na Sapucaí

Mais uma boa notícia surgiu no horizonte carnavalesco. A Imperatriz Leopoldinense vai cantar o Parque Nacional do Xingu e seus povos no carnaval de 2017. O anúncio não poderia ter sido feito em um local mais apropriado: o Museu Nacional do Índio.

Não é exatamente um personagem raro nos desfiles de escolas de samba. O primeiro registro seguro data de 1942, quando a Portela colocou seus integrantes fantasiados de índios, reivindicando para os ocupantes ancestrais do Brasil a origem primeira do samba, que teria depois se aperfeiçoado nas cidades até virar símbolo do país. No entanto, é menos comum que sejam protagonistas absolutos como neste tema da Imperatriz, Xingu, o clamor que vem da floresta.

Cahê Rodrigues assina pelo quinto ano consecutivo a sinopse da verde-e-branco de Ramos. O carnavalesco se encaixou bem na escola que ficara um tanto sem rumo depois da saída de Rosa Magalhães em 2010, após 19 anos de parceria. O tema de 2017 é potencialmente muito poderoso.

A sinopse é um diálogo entre os índios do Xingu e o próprio Brasil. Parte dos tempos em que os índios eram os habitantes dominantes do lugar, lamenta o contato com os Caraíbas (brancos), que enxergaram naquele ambiente tropical uma recriação do paraíso e resolveram transformar os “adões e evas” em escravos.

Essa é, alias, a grande virtude desse enredo. Conta a história sob o ponto de vista dos índios, exalta sua cultura, seus valores enquanto critica a relação do “Brasil” com esses povos, como se não fossem brasileiros também. A crítica, inclusive, não se limita ao tempo dos escambos pré-coloniais ou ao massacre posterior, quando eles se recusaram a servir de mão de obra escrava, mas chega até a construção da usina de Belo Monte, chamado de Belo Monstro.

O enredo reserva um setor para homenagear os irmãos Villas-Boas, desbravadores da região e defensores da causa indígena e arremata a narrativa em tom de alerta contra a destruição das florestas, ao mesmo tempo em que celebra a aptidão dos índios para a festa, da qual o Karup é o grande símbolo.

A Imperatriz conquistou a simpatia de indigenistas e antropólogos por ter feito a conexão com o Museu, o que, em tese, garante uma pesquisa mais sofisticada para a produção do desfile. É uma mudança e tanto de ares. Se a escola de Ramos viu gente torcer o nariz para a homenagem aos sertanejos em 2016, esse tema desperta muita simpatia. Cahê já vem merecendo um resultado mais expressivo pelo trabalho na verde e branco. Será que vai ser dessa vez? Há muita gente na fila. O Salgueiro vem mordido, assim como a Portela, sem contar as candidatas de sempre Beija-Flor e Tijuca. A briga está esquentando.

 

LEIA A ÍNTEGRA DA SINOPSE DA IMPERATRIZ

 

Momento da Saudade

Rosa Magalhães é a responsável por cinco dos oito títulos da Imperatriz, mas um dos seus desfiles mais memoráveis não foi campeão. Em 1996, quando a escola homenageou a Imperatriz que emprestou seu nome à escola. A disputa com a Mocidade foi até o final na apuração e a derrota veio por meio ponto, a menor diferença possível na época. Muitos consideram injusta essa derrota, assim como vários argumentam que a escola perdeu em 1996 quando deveria ganhar e ganhou em 1995, quando a Portela foi a mais aclamada. Esse desfile é Rosa Magalhães em um de seus melhores momentos.

 

17 de jun de 2016

COMENTÁRIOS