Imperatriz Leopoldinense comemora os 200 anos do Museu Nacional

Num momento em que as escolas de samba são obrigadas a reafirmar o óbvio: de que, além de atrações turísticas, são culturalmente relevantes, o enredo da Imperatriz Leopoldinense para o Carnaval de 2018 é contundente. A idéia é fazer uma viagem pelo Museu Nacional. O título faz uma brinadeira com uma comédia que fez muito sucesso no cinema. Uma Noite Real no Museu Nacional

Sim, a verde e branco de Ramos vai levar o público da Sapucaí a conhecer parte do acervo e a relevância histórica do Museu, localizado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. É cultural o suficiente ou precisa mais?

O carnavalesco Cahê Rodrigues produziu um desfile relevante em 2017 sobre o Parque Nacional do Xingu, despertando a ira dos ruralistas que chegaram a fazer campanha contra a escola. Mas a Imperatriz não resistiu ao furacão Ivete, que lhe “roubou” um lugar merecido no Desfile das Campeãs – acabou em 7º.

Veja um pouco do desfile da Imperatriz

 

Este ano, Cahê retoma outra questão importante: quando o Brasil começou a virar uma nação de fato? Segundo a sinopse, a “culpa” é de Dom João VI. Foi só com a vinda da Família Real portuguesa em 1808 que o país deixou de ser colônia e passa a ter um projeto nacional que começou, entre outras coisas, pela cultura – sim, essa mesma que hoje mendiga espaço nos orçamentos.

Os enredo transforma os membros da família real em personagens ao torná-los os grandes cicerones da visita que o desfile fará pelas diferentes alas do museu, inaugurado em 1818 sob o nome de Museu Real.

A viagem começa com meteoros e o despertar da vida na Terra, com a sutileza das plantas e corais contrastando com a brutalidade dos dinossauros, dando espaço aqui às salas que fazem menção à megafauna brasileira. Em seguida, vêm as coleções de borboletas, besouros e outros insetos obtidos como tesouros pelas expedições de biólogos e naturalistas.

Conheça um pouco mais sobre a Quinta da Boa Vista e o Museu Nacional

A sinopse da Imperatriz intercala aspectos do prédio, como sua arquitetura neoclássica, a partes do museu, como o detalhamento da rica fauna brasileira dominada pela onça pintada e pontuada no céus por araras e tucanos, símbolos do Tropicalismo.

Nossa visita prossegue para a sala africana, onde se faz menções ao Daomé e ao Egito, passa por afrescos de Pompéia, as artes greco-romanas, até chegar ao tempo das navegações de Colombo e Cabral que desembarcaram na América imaginando terem descoberto um lugar que, na verdade, já tinha dono, as centenas de “nações” indígenas que povoavam o território.

Depois de relembrar a “primeira brasileira”, Luzia, o fóssil humano mais antigo já recuperado no Brasil, a “noite” termina com um espetáculo emocionante dos rituais da Amazônia Equatoriana.

Quando o dia raia novamente, os herdeiros da Imperatriz Leopoldinense abraçam a jóia paisagística que é o Jardim das Princesas e abre caminho para o colorido das pipas e as famílias fazendo piquenique nos gramados deste senhor que está completando 200 anos, o berço das artes, da história e da cultura do Brasil.

Como concepção visual, o enredo dá margem a muitas alegorias e fantasias interessantes, não resta dúvida, ainda mais pelo contato com o Brasil imperial. Minha dúvida é apenas se o samba vai conseguir captar a poesia sutil que existe na ideia de que o Museu representa uma espécie de fundação do país como nação. Agora é com os compositores.

(Leia aqui a íntegra da Sinopse da Imperatriz)

23 de jun de 2017

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