Estácio dá demonstração de força na abertura da Série A 2018

Havia um misto de apreensão e curiosidade com a primeira noite de desfiles das escolas de samba do Grupo de Acesso, a Série A do Carnaval do Rio. As dificuldades financeiras enfrentadas por estas agremiações foram ainda mais severas se comparadas com as co-irmãs do Grupo Especial e havia o temor de desfiles conturbados pela precariedade da preparação. Mas o alívio foi grande porque, se não houve nenhum grande sacode, o que o público viu foram apresentações dignas, mesmo das escolas mais humildes.

Já se esperava que a Estácio de Sá fosse o destaque da noite. Ainda assim, a vermelho e branco surpreendeu a todos com fantasias e alegorias ricas e, ao mesmo tempo, bastante criativas para um enredo que poderia ser de difícil leitura sobre os mercados populares do Rio. O carnavalesco Tarcício Zanon fez um trabalho esmerado de criação nos figurinos e o carro do mercado (o segundo do cortejo) era primoroso. Bateria passou com brilho e ajudou a evolução da escola. O samba, que nunca caiu nas graças do povo do carnaval foi abraçado pelos componentes e serviu bem à apresentação.

Ala das baianas da Estácio.

Outra escola que surpreendeu pelo visual foi o Império da Tijuca. Seu desfile em homenagem a Omolu foi bastante luxuoso, a começar do belo carro abre-alas. O samba fácil de cantar não chegou a empolgar como se esperava os componentes que passaram mais frios que o normal. A escola também teve problemas de evolução na altura do setor 6 após a passagem da bateria. A se lamentar, o fato de que uma parte do traje de um dos integrantes da Comissão de Frente formada por Omolus caiu no chão em frente à cabine de jurados, o que deve custar décimos preciosos à verde e branco da Formiga.

Estátua de Omolu em carro da Tijuca.

Dois sambas dos quais se esperava bastante confirmaram as expectativas. A composição sem verbos feita pela Sossego para o enredo sobre os rituais foi muito cantado pela escola e executado por uma bateria segura que se comunicou com o público em vários momentos, gerando o momento mais quente da noite. Já do ponto de vista estético, a escola de Niterói apresentou fantasias mais pobres e alegorias sem o mesmo tipo de acabamento ou concepção em relação às demais.

Bateria da Sossego levantou o público.

A Renascer de Jacarepaguá também cantou bastante o seu belíssimo samba a respeito de uma obra de Villa Lobos, a suíte sinfônica inspirada na Amazônia. O enredo era de fácil leitura e o trabalho de alegorias esteve irregular. Os percursionistas também deram uma rateada na altura do setor 5, embolando em uma das viradas do samba.

Renascer teve muitas referências à fauna da Amazônia.

Aliás, em termos de visual, a escola mais simples foi a Unidos de Bangu, como era de se esperar. Ela acabou de chegar à Série A e a estrutura de desfile precisa mudar quando a agremiação tem de enfrentar a Sapucaí. De qualquer forma, a escola foi valente cantando seu samba. Alegorias e fantasias eram simples, algumas com acabamento precário, mas foi um desfile bastante digno levando em conta todas as circunstâncias do ano.

Último carro da Unidos de Bangu.

A Porto da Pedra, que desfilou entre Sossego e Renascer, fez a segunda apresentação mais equilibrada da noite. Jaime Cezário tirou leite de pedra na preparação do carnaval e fez um trabalho muito interessante do ponto de vista de fantasias e alegorias para sua homenagem às cantoras da época de ouro do rádio no Brasil. O carro alegórico representativo da Rádio Nacional era de muito bom gosto. O samba também não figurava entre os preferidos de público e crítica. O início da escola foi bastante forte, mas a evolução deu uma caída na segunda metade.

Quarto carro da Porto da Pedra.

A sensação que ficou foi de uma noite agradável de samba. No entanto, a campeã parece ainda não ter desfilado.

10 de fev de 2018

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