Escolas de samba fazem rotina pesada de ensaios mesmo longe da Sapucaí

Este ano está sendo atípico no calendário pré-carnavalesco do Rio de Janeiro. Enquanto chegam de São Paulo notícias sobre as escolas medindo suas forças no Anhembi, no berço do samba, as agremiações estão às voltas com as finanças e se virando como podem para se preparar para o desfile oficial. Mas se engana quem imagina que a festa dos fins de semana de janeiro são o único ensaio pra valer.

Se nos primeiros desfiles, os sambistas se reuniam e cantavam três ou quatro sambas, e improvisavam as segundas partes, na medida em que a competição foi se acirrando, as escolas passaram a se organizar mais para fazer bonito na pista.

Atualmente, a equação é complexa. A direção precisa armar a escola na concentração, manobrar os carros imensos na curva pra entrar na avenida, fazer cerca de 4 mil componentes desfilarem de forma coesa, com atenção aos 9 quesitos num prazo máximo de 75 minutos pelos 700 m da pista. Não é fácil!

Além de ser uma festa e um contato das escolas com a parte mais popular de suas torcidas, os ensaios técnicos no próprio palco do desfile serviam de termômetro (ou pelo menos assim eram vistos) do nível de organização da direção de harmonia, de como o samba se comporta durante o tempo do desfile e o quanto a comunidade está feliz com os preparativos.

Mas até chegar nos ensaios técnicos, há uma série de preparativos. Por exemplo, a bateria começa a ensaiar sozinha tão logo o samba é escolhido, criando as convenções e paradinhas. Que são postas em prática mais discretamente nos ensaios-show e de forma mais completa nos dias em que a comunidade de desfilantes vai para quadra para ensaiar o canto.

Ensaio de comunidade da Beija-Flor:

Ao contrário do que muita gente imagina, as escolas hoje têm um contingente significativo de componentes que são parte da comunidade da escola (não apenas geográfica, mas frequentadores da quadra e dos eventos).  Só que para ter direito à fantasia sem custo, é preciso ralar: tem de comparecer a um número mínimo dos ensaios de canto, realizados nas quadras. Rola até lista de presença e quem falta pode perder o direito de desfilar. Esta foi uma forma encontrada pelas escolas para evitar alas inteiras que passavam mudas na avenida porque não sabiam o samba. Isso custa décimos preciosos em Evolução e Harmonia. Então meu conselho pra você que vai desfilar por alas comerciais é: decore o samba.

Quem já foi à Cidade do Samba, onde ficam os barracões das escolas do Grupo Especial já deve ter topado com a cena algumas vezes. Alas de escolas ensaiando sem bateria ou cantor. Só no gogó, como se diz no samba. Elas geralmente são alas coreografadas, que tiram proveito do espaço amplo do local.

Outros que ensaiam em separado são a Comissão de Frente, Mestre-Sala e Porta-Bandeira: o que a gente vê na quadra é apenas o casal afinando os passos que já foram treinados anteriormente em exaustivas sessões. Alguns gostam inclusive de treinar na Sapucaí para saber o melhor uso do espaço da pista para a coreografia. Já a coreografia da Comissão, quesito que tanto ganhou importância nos últimos 30 anos, tem status de segredo industrial. Tanto que nos ensaios técnicos em anos anteriores, muito poouco do que se via guardava relação com a coreografia oficial pois os ensaios também ocorrem em sigilo. Não é raro passar pela Sapucaí semi-apagada de noite e encontrar por lá comissões de frente ou casais de mestre-sala e porta-bandeira ensaiando.

 

Vídeo do ensaio da Portela: 

E como faz para ensaiar evolução sem o ensaio técnico? Pois é. Este quesito é o maior prejudicado, mas a maioria das escolas deu seu jeito. Voltaram a ensaiar em ruas mais próximas à quadra. A Portela tem ensaiado na Estrada Intendente Magalhães, em Campinho – onde no Carnaval ocorrem os desfiles dos grupos de Acesso B a E. Ela tem a mesma extensão da Sapucaí e serve como uma bom teste de como as coisas estão se encaixando. Nestas ocasiões, a escola leva carro de som para o intérprete e a bateria faz uma manobra de entrada e saída do desfile, como ocorre no Sambódromo.

 

Ensaio da Mangueira 2018: 

A Mangueira ensaia perto da Quinta da Boa Vista. A Imperatriz, que há poucos dias levou bateria, casais de mestre-sala e porta-bandeira e passistas para ensaiar na Sapucaí, está organizando um ensaio dentro da Quinta, onde fica o Museu Nacional, que é o tema da escola para este Carnaval. Salgueiro e Vila ocupam respectivamente a rua Silva Teles ou a Conde de Bonfim e a avenida 28 de Setembro e fazem ensaios concorridíssimos.

 

Bateria do Salgueiro em ensaio de rua: 

Portela e Mocidade, campeãs de 2017, são as únicas que terão o privilégio de treinar “no campo de jogo”. O teste de luz e som do Sambódromo já totalmente montado para o Carnaval ocorre no dia 4 de fevereiro. As duas vão mostrar a uma Sapucaí ultra curiosa como estão se preparando para o grande dia.

19 de jan de 2018

COMENTÁRIOS