Escolas de samba se mexem para fechar seus times pro Carnaval 2019

Quando eu era criança ficava pensando o que acontecia com as escolas de samba depois do Carnaval. Na minha imaginação, elas viravam uma espécie de deserto até meados do ano. Quando a gente cresce, descobre que o trabalho é bem maior. Com a competição feroz, as escolas que dormem no ponto correm risco de serem desfalcadas e, por isso, começam a se mexer antes mesmo do desfile acontecer. Em outras palavras: o Carnaval 2019 já começou.

No Grupo Especial, tivemos duas grande novidades. A mais importante foi o anúncio da saída de Laíla da Beija-Flor, um casamento de longa data que teve três fases: a primeira de 1976 a 1980, a segunda de 1989 a 1992 (ambas com Joãosinho Trinta) e a última de 1995 até hoje. Dos 14 títulos conquistados pela escola de Nilópolis apenas no de 1983 ele não estava presente. A maior sequência vencedora da escola, iniciada em 1998, teve influência direta dele, que comandou durante anos a comissão de carnaval da azul e branco.

Laíla e Paulo Barros – Foto: http://tudodesamba.com.br/tag/paulo-barros/

Mas a relação andava desgastada. Nos últimos dois carnavais, a Beija-Flor havia tirado o 7º e 6º lugares. Em 2018, a preparação foi feita numa relação conflituosa com a nova direção da escola e com alguns integrantes da equipe de carnaval. Tanto que no dia da apuração, mesmo campeão, Laíla disse que o homem-forte da escola precisaria mudar “algumas coisas” ou ele iria ajudar a Grande Rio mesmo na Série A. Como Anísio confirmou que o filho Gabriel David vai assumir cada vez mais o comando, Laíla pediu o boné. Ele chegou a conversar com a Mangueira, mas fechou com a Unidos da Tijuca, onde também já trabalhou, entre 1980 e 1983. Ainda não está claro quem comandará o carnaval da atual campeã.

Depois de um desfile pouco inspirado e diversos percalços na preparação parecia certo que o casamento entre Paulo Barros e Vila Isabel não duraria. Pouco depois de sagrar-se campeã da Série A, a Viradouro confirmou a contratação de Barros, numa jogada inteligente para tentar não ter o mesmo destino de 2015 quando subiu e caiu, como aconteceria com o Império não fosse o tapetão pra salvar a Grande Rio.

A Viradouro não parou por aí, também trouxe de volta o mestre Ciça pra comandar a bateria. Ciça esteve à frente da Furacão Vermelho e Branco por uma década, entre 1999 e 2009, e teve a oportunidade de trabalhar com Barros, nos dois anos que ele fez na escola (2007 e 2008). Com esses dois reforços, a Viradouro joga pressão sobre União da Ilha e São Clemente, que ficaram nas duas posições acima da Grande Rio na classificação de 2018.

A escola de Botafogo já havia anunciado mesmo antes do Carnaval que seguiria com Jorge Silveira, que se deu muito bem na casa. A intenção de Silveira é voltar aos temas críticos em 2019, embora ainda não tenha divulgado, o enredo já está em desenvolvimento. A Ilha perdeu Ciça, mas Severo Luzardo avisou que fica.

Com a saída de Barros, a Vila contratou Edson Pereira, o competente carnavalesco que levou a Viradouro ao título e vai ter uma chance no Grupo Especial melhor do que a que teve em 2015. Naquele ano a escola de Niterói tinha problemas financeiros e desfilou debaixo de um temporal.  A Swingueira de Noel também terá novo comandante em 2019, já que os ritimistas não se entenderam com mestre Chuvisco: assume o diretor musical da escola que atende pelo apelido de Macaco Branco, cria da casa.

Depois da virada de mesa que a manteve no Grupo Especial, a Grande Rio confirmou que manterá o casal Renato e Márcia Lage no comando, mas trocou diretor de carnaval, mestre de bateria e o primeiro casal de mestre-sala de porta-bandeira, tomando a decisão de investir em crias da casa. Parece futebol ou não?

O outro beneficiado pelo rebaixamento ter sido cancelado foi o Império Serrano que decidiu trocar de novo de carnavalesco. Contratou para 2019 Paulo Menezes, que já assinou carnaval no Tuiuti, no próprio Império e também na Portela. Em 2017, trabalhando com Paulo Barros, Menezes foi campeão na Águia e também foi com ele pra Vila. Agora retoma o voo solo.

Já nas Velhas Companheiras, Mangueira e Portela, nada de trocar o que está bom. Tanto Leandro Vieira como a mestra Rosa Magalhães ficam. Curiosamente, as duas escolas contrataram novos coreógrafos para comissão de frente, quesitos em que perderam décimos decisivos. A Mangueira fechou com o casal que fez a celebrada comissão do título da Tijuca em 2010 (Segredo) e nos últimos quatro carnavais estavam na Grande Rio, Priscilla Mota e Rodrigo Negri. Já a Portela dispensou Sérgio Lobato e trouxe Carlinhos de Jesus, um dos responsáveis pelo crescimento de importância das comissões de frente com coreografias e fantasias mais elaboradas.

A Mocidade também renovou com Alexandre Louzada e o Salgueiro manteve Alex de Sousa, que casou bem com a escola. Já Cahê Rodrigues pediu o boné da Imperatriz. A relação já andava tensa mesmo antes do desfile e desandou de vez depois que a coroa-símbolo da escola não funcionou no abre-alas. O substituto dele ainda não foi anunciado.

E o Tuiuti, obviamente, renovou com o excelente Jack Vasconcelos, talvez o grande nome do carnaval 2018. Seu enredo repercutiu até no Le Monde Diplomatique. Vamos ver se, em 2019, a vice-campeã confirma sua mudança de status dentro do Grupo Especial. O importante, pessoal, é que o Carnaval 2019 já está em pleno planejamento.

23 de mar de 2018

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