Enredos sobre o universo infantil sempre encantam o Sambódromo

Não há quem fique indiferente quando passam fadinhas, minicaubóis e bichos de todos os tipos pelo Sambódromo. São as alas de crianças que adicionam singeleza aos desfiles no Carnaval e ao mesmo tempo representam a garantia de que a cultura do samba passe de geração pra geração. Aliás, até por isso, elas não se limitam às alas obrigatórias do regulamento. Há crianças entre os passistas e também treinando como mestre-sala e porta-bandeira.

Já houve juízes que, sem entender como funciona uma escola de samba, tentaram proibir as crianças de desfilar. Vira e mexe, surge um vereador com a mesma ideia. O que eles absolutamente ignoram é o caráter educativo, cultural e recreativo das escolas de samba. Até chegar na pista, as crianças ensaiam, frequentam as quadras nos eventos e aprendem os fundamentos desta manifestação cultural e artística. Desde 1983, inclusive, existem pequenas fábricas de talentos, as escolas mirins.

Aproveitando a semana da criança, vamos relembrar alguns desfiles que marcaram época abordando o universo infantil.

 

1. Joãosinho Trinta, sem dúvida, foi um dos artistas que mais contemplou o mundo da fantasia das crianças. Em 1980, a Beija-Flor cantou o enredo O Sol da Meia-Noite uma viagem encantada pelo reino da fantasia e dos contos. O samba é uma delícia para quem gosta das brincadeiras infantis. “Chegamos ao País das Maravilhas, Iluminados pelo Sol da Meia-noite, Bela fantasia infantil, recebidos por soldadinhos de chumbo, entramos na floresta encantada, brincamos com cataventos, pipas e peões, no enlace da Barata e D. Ratão”.

 

2. Hoje Tem Marmelada, no mesmo 1980, foi o enredo da Portela sobre o Circo. O samba rendeu à Águia seu 20º título, ao lado de Beija-Flor e Imperatriz. O nome do enredo era um cutucão no resultado do carnaval anterior, em que a azul e branco era tida como favorita absoluta e ficou em 3º. A avenida se encheu de palhaços, cavalinhos e uma mulher à mercê do atirador de facas. Foi um desfile marcante e que foi relembrado em 2017 pela Rocinha, da Série A, que homenageou o carnavalesco portelense da época, Viriato Ferreira.

 

3. Gbala – Viagem ao Templo da Criação. Um samba poético de Martinho e alegorias ousadas de concepção de Oswaldo Jardim renderam um belo visual para a Vila Isabel em 1993. Contava a história da criação do mundo e de como as crianças seriam as únicas capazes de nos salvar do caos. “Então, Foram abertos os caminhos/ E a inocência entrou /No templo da criação/Lá os guias protetores do planeta/ Colocaram o futuro em suas mãos (…) Viram como foi criado o mundo/Se encantaram/ Com a mãe natureza/Descobrindo o próprio corpo compreenderam/ Que a função do homem é evoluir…”

 

4. Uni, Duni, Tê, a Beija-Flor escolheu é você. O mesmo ano de 1993 representou a ida da escola de Nilópolis para a era pós-João 30. Contratou Maria Augusta, a carnavalesca que implantou um estilo leve na Ilha, e escolheu o universo infantil para marcar esta transição. Desfile singelo e emocionante.

 

5. É Brinquedo, É Brincadeira, A Ilha vai Levantar Poeira. A Ilha fez seu melhor desfile em muito tempo quando recorreu ao universo infantil, no Carnaval de 2014. A Fada voadora na comissão de frente foi só uma das muitas surpresas guardadas por esse desfile que encantou a Sapucaí e levou a escola ao 4º lugar.

 

6. E Todo Menino É um Rei. Aposta da Viradouro no Carnaval de 2017, o carnavalesco Jorge Silveira trouxe uma escola mais pop do que nunca, cheia de super-heróis e fantasias de brinquedos como cubos mágicos, legos… A escola foi vice-campeã da Série A.

 

Artistas e personagens amados pela criançada também já foram enredo. A Mangueira homenageou Monteiro Lobato, em 1967, a Unidos do Jacarezinho, em 1992, prestou reverência à grande dramaturga Maria Clara Machado. Na linha pop, a Caprichosos de Pilares homenageou a Xuxa (2004) e a Unidos do Cabuçu os Trapalhões, em 1988.

Embora não tenha sido muito divulgado, as escolas mirins proporcionaram um momento bastante emocionante no Carnaval 2016: cerca de uma dúzia de crianças refugiadas desfilaram na Mangueira do Amanhã. O sorriso de felicidade delas ao longo da avenida, por si só, já valia um título.

13 de out de 2017
1 COMENTÁRIO
  1. seus textos são excelentes. parabéns.

    lysis6 anos atrásResponder

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