Até a era Sambódromo, escolas desfilaram entre cordas e em cima de palco

Esta semana a imprensa noticiou que a Prefeitura do Rio vai levantar um empréstimo de R$ 100 milhões junto à Caixa Econômica Federal com objetivo de fazer obras estruturais de melhoria no Sambódromo. Claro que, pelo adiantado da hora – estamos a sessenta dias do Carnaval – não será nada radical.

A tão falada mudança na iluminação da Sapucaí, com instalação de refletores de LED vai ficar para 2019 – se ocorrer. A própria Riotur admite que não dá mais tempo. Os recursos também devem possibilitar reforma nos banheiros dos setores, que são vergonhosos, e melhorias no sistema de geradores.

Desde que a Liesa assumiu a organização dos desfiles, o poder público pouco palpita na estrutura da passarela. Ao longo do tempo, foram duas tentativas. Uma foi a Praça da Apoteose, que durou só os carnavais de 1984 e 1985 porque obrigava as escolas a desembocarem num espaço amplo com o qual não estavam acostumadas e contrariava a própria lógica do desfile em progressão permanente. O Salgueiro até tentou fazer uma coreografia em 1984, mas as escolas de contingente menor chegavam ali e pareciam um grupo de turistas perdido no meio de um campo de futebol.

Veja compacto do desfile da Mangueira em 1984, uma das poucas a conseguir ocupar a praça. Por ser a última, ela deu a volta e desfilou no sentido inverso de novo, para delírio do público.

 

A iluminação sempre foi uma questão debatida: Joãosinho Trinta defendia que ela deveria ficar por conta de cada escola, para que escolhessem os efeitos que queriam. Em 1992, durante o desfile da União da Ilha, parte dos refletores se apagou, deixando o desfile em uma semi-penumbra. Alguns anos mais tarde, por sugestão da TV, a luz foi “rebaixada”, para tirar o efeito de estádio. O fato é que nunca se chegou a um acordo a respeito disso.

Veja o desfile da Ilha na penumbra:

 

A ideia de J30 é de difícil execução prática, mas faz sentido, uma vez que as escolas são julgadas no quesito alegorias e adereços pela iluminação dos carros. Neste caso, a disputa para não correr o risco de desfilar com o dia claro seria ainda mais dura. Em 1983, ocorreu o inverso: um apagão deixou a Caprichosos de Pilares no escuro, mas o desfile não foi interrompido e a TV mal conseguia mostrar. Tanto que a escola foi declarada hors-concours, porque os jurados não tinham como julgar. O fato foi lembrado no samba-enredo do ano seguinte e dizia: “Neste palco todo iluminado, que um dia por pecado, se apagou”.

 

Depois do carnaval 2015, em que a Águia “redentora” da Portela deixou todos com a respiração presa para ver se passava debaixo da torre de TV, a estrutura foi demolida, sob críticas de alguns, pois ela era um desenho original de Oscar Niemeyer, do tempo da construção do Sambódromo. Só que em 31 anos, o tamanho das alegorias cresceu e a Torre virou um obstáculo inconveniente, no qual algumas escolas se atrapalharam, perdendo carnavais, porque carros ficaram entalados ali. A Mangueira foi vítima do problema mais de uma vez. Atualmente, a estrutura, que permite a visão frontal do cortejo, é montada provisoriamente para o desfile e depois desmontada.

As escolas começaram desfilando na Praça Onze, local próximo ao Sambódromo atual, que foi demolida para construção da Av. Presidente Vargas. Naquela época, as escolas desfilavam no meio do povo, exceto nos anos em que Getúlio Vargas pediu para os desfiles serem realizados no campo do Vasco, em São Januário. Com o tempo, para evitar que virassem meros blocos de carnaval, elas começaram a usar cordas, para separar o público do cortejo.

Entre 1952 e 1956, as escolas desfilaram em um tablado, que tinha um metro de altura e 60 metros de comprimento, instalado na Presidente Vargas e as escolas desfilaram no sentido Avenida Passos – Candelária. Em 1957, elas se mudaram para a Rio Branco, então o palco central do Carnaval carioca e foram assistidas por um público estimado em 700 mil pessoas.

A partir dos anos 1960, a televisão se interessou em transmitir, foram erguidas arquibancadas desmontáveis e passou-se a cobrar ingresso, o que obrigou as escolas a voltarem à Presidente Vargas. Depois de passagens pela Antônio Carlos, por causa das obras do Metrô, o desfile principal foi para a Rua Marquês de Sapucaí. As arquibancadas móveis e iluminação precária duraram até 1983, quando o então governador Brizola resolveu erguer o Sambódromo.

08 de dez de 2017

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