Abertura do Grupo Especial traz duelo interessante de estilos

 

Magueira – Desfile das Campeãs 2017 | Foto: Fernando Grilli – Riotur

Apesar de todas as dificuldades, está tendo carnaval. E tomando como exemplo o belo desfile da Série A, está tendo MUITO carnaval. A partir deste domingo começa a maior disputa: 13 escolas em busca da maior glória do Carnaval 2018, o título do Grupo Especial.

O desfile de domingo vai nos oferecer um interessante confronto de estilos. O neon-clean de um Renato Lage renovado na Grande Rio versus o desfile moderno e de cultura pop de Paulo Barros. A renovação de estilo proposta por Leandro Vieira ou o retorno do carnaval crítico e cheio de arte de Jack Vasconcelos? E isso é só o começo …

A missão de abrir o Grupo Especial, nunca agradável, cabe a uma veterana: o Império Serrano voltou à elite do samba e pelas mãos do carnavalesco Fábio Ricardo recorre a um recurso inteligente utilizado pelas atuais campeãs Portela e Mocidade. Um tema que se transforma em enredo ao ser comparado com a história da escola. Desta vez, a Serrinha fala da China, que já foi um império e usa tal mote para comparar a grandeza daquela cultura oriental à importância do próprio Império Serrano no mundo do Carnaval. Será que a Serrinha vai conseguir superar o estigma (e o nariz torto dos jurados) e cumprir o que promete o samba – de que ela voltou ao seu lugar e, desta vez, pra ficar?!

Em seguida, vamos presenciar um caso de amor ao vivo na avenida. Mas os apedrejadores de museu podem se acalmar. Trata-se apenas da relação entre a São Clemente e seu carnavalesco, Jorge Silveira. O talentoso artista, que fez a Viradouro vice-campeã da Série A em 2017, chegou chegando no Especial. Escolheu celebrar o centenário da Escola Nacional de Belas Artes, que é um celeiro de grande parte dos carnavalescos mais famosos da história do Rio de Janeiro, incluindo Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Rosa Magalhães. O enredo vai mostrar a importância dessa instituição para a arte brasileira e de uma forma “academicamente popular”. Particularmente, acho o samba da escola leve e gostoso de cantar. Tem tudo pra ser uma apresentação interessante.

Depois de ajudar a Portela a quebrar o jejum de 33 anos, o portelense Paulo Barros, foi pra Vila Isabel realizar um projeto futurista. Corra que o futuro vem aí fala de invenções, de tecnologia e de como o homem se relaciona com isso. A Vila tem recursos – afinal este é um tema patrocinado – e Paulo Barros teve bastante liberdade para criar suas alegorias e fantasias pop-interativas. O samba está longe de chegar aos melhores hinos da escola de Noel, mas pode servir ao desfile. A incógnita pra mim é como vai se comportar a bateria, uma vez que os ritmistas andavam às turras com o diretor, por conta do andamento.

O Tuiuti sabe que, pelo peso da bandeira, é a bola da vez para cair – não fosse a decisão de cancelar o rebaixamento devido aos acidentes com alegorias em 2017, ela teria caído, ainda que injustamente. Por isso, tratou de se reforçar para este Carnaval e permitiu ao talentosíssimo Jack Vasconcellos um enredo forte, crítico, questionando se a Lei Áurea, assinada há 130 anos realmente representou uma libertação ou se foi uma “bondade cruel”, como diz a letra do inspiradíssimo samba, talvez o melhor do ano. A expectativa por esse desfile é enorme e a única esperança é de que seja julgado com justiça.

A Grande Rio assumiu de vez sua feição “Revista Caras”. Gosta de famosos, sim, fala de temas pop, sim, e seu estilo de samba nos últimos anos está mais para marchinha chiclete. Ok. Mas para 2017, a tricolor de Caxias trouxe uma novidade importante para tentar, enfim, a sua primeira estrela, que já podia ter vindo. Trouxe o celebrado carnavalesco Renato Lage, que foi a identidade do Salgueiro por quase 20 anos e, mesmo assim, ainda é identificado com a fase mais vitoriosa de sua carreira, que rendeu à Mocidade Independente 3 de suas 6 estrelas. O enredo é simpático, o centenário do Chacrinha, o velho guerreiro.

A Mangueira, na minha opinião, é uma das grandes favoritas ao título no pré-carnaval. Por causa do enredo que escolheu, uma crítica nada velada à falta de respeito com o Carnaval demonstrada pelo bispo-prefeito. Mas a proposta de Leandro Vieira, a estrela em ascensão no mundo do samba, é mais transgressora. Ele pede que o próprio Carnaval olhe pra si mesmo e abandone parte da pompa e circunstância e se volte pro povão, aquele que já levou 700 mil pessoas para assistir a um desfile de escolas de samba na Avenida Rio Branco nos anos 1960. O samba é uma porrada. Pode explodir e facilitar o desfile-manifesto verde e rosa.

Encerrando a primeira noite – ou dia, a depender do andamento dos desfiles – a primeira das duas campeãs de 2017: a Mocidade Independente, que não vai mexer em time que está ganhando. Com a ajuda do jornalista Fábio Fabato, autor da sinopse, Alexandre Louzada vai falar das contribuições da Índia à cultura brasileira, novamente com várias liberdades poéticas. A grande aposta da Mocidade é o seu samba pacifista, apontado por parte dos especialistas como melhor do ano. A comissão de frente trará o ator João Signorelli no papel de Gandhi. “Desobedecer pra pacificar, como um dia fez a Índia”, diz a letra do samba. Será que a mágica vai acontecer de novo?

Ouça os sambas: https://goo.gl/9zS2vb

11 de fev de 2018

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