Grupo Especial inicia disputa pelo título do Carnaval

 

Ala das baianas durante desfile da Imperatriz em 2018 – Foto: Paulo Portilho / Riotur

Foi um ano difícil! Crises políticas nas escolas, divisão na Liesa e sobretudo escassez de recursos. Agora isso tudo fica para trás. No momento em que a sirene tocar, o que vale é a emoção, a concentração e o amor a sua escola. Vai começar a disputa pelo título maior do carnaval carioca, o de campeã do Grupo Especial.

 

MPB-enredo

Beneficiado no ano passado com o “des-rebaixamento” da Grande Rio, o Império Serrano estranhamente concordou em abrir de novo a maratona sambística e com uma proposta prá lá de polêmica. Dona de uma das principais alas de compositores da história das escolas de samba, o Império cantará música de Gonzaguinha no lugar de um samba-enredo. Vai funcionar na avenida? A proposta veio do carnavalesco Paulo Menezes.

O enredo E a vida, o que é?, projeto antigo do carnavalesco, tem algo de metafísico. Analisa como os homens enxergam a vida, na visão da ciência, da religião, da diversão, do sofrimento. Em ano de recursos escassos, o barracão da Serrinha foi um dos que evoluíram mais lentamente. Mas a verde e branco confia no talento de Menezes e no poder de comunicação da canção que vai entoar.

A polêmica imperiana: qual os limites do samba-enredo

Cheguei chegando

Em seguida, vem quem deveria abrir o carnaval, a Viradouro, que acaba de aportar no Especial vinda da Série A. Só (mais) essa subversão da regra evidencia a força política da escola. A vermelho e branco não está pra brincadeira! Quer porque quer ficar no Especial. Pra isso, tirou Paulo Barros da Vila e mestre Ciça da Ilha pra compor um time de primeira.

Pra se ter uma ideia do nível de investimento da Viradouro, foi contratada uma empresa de maquiagens que vai caracterizar praticamente metade dos 2,9 mil componentes da escola, segundo informou o site Carnavalesco. Barros criou o enredo Viraviradouro! Ele fala de imaginação e de um livro mágico que desperta a infância nas pessoas.

Recurso não é problema, porque a escola tem patrono e recebeu apoio da Prefeitura de Niterói, assim como Cubango e Sossego, na Série A. Com isso, a escola está com quase tudo pronto desde quase o final do ano. A ambição da Viradouro não é “ficar no Especial”, como toda recém-promovida do Acesso. Ela quer disputar título e quem viu o barracão imagina que são fortes as chances de a vermelho e branco estar, no mínimo, entre as seis melhores.

 

Mea culpa?

 

Depois da Viradouro, será a vez da Grande Rio, pivô da última virada de mesa no Carnaval 2018. Fortemente criticada pela manobra, a tricolor de Caxias ficou numa espécie de purgatório ao longo do ano.

O enredo escolhido pela dupla Marcia e Renato Lage também não contribuiu para melhorar a imagem da escola. O enredo Quem Nunca…? Que Atire a Primeira Pedra parece um pouco o mea culpa do Neymar feito após a Copa em comercial. A tricolor de Caxias diz que, se virar a mesa foi um erro, ninguém tem direito de atirar pedra porque o Brasil seria a terra do jeitinho. No final, o enredo recorre ao desafio da educação como redentora de “todos nós” pecadores.

Tomara que a escola cumpra a promessa de desenvolver a história de maneira leve e irreverente, coisa que o samba encomendado falhou em obter. O ensaio técnico da escola foi mediano, mas a interação com o público do dia do desfile, alheio aos bastidores das escolas, pode ajudar a escola.

Desfile da Grande Rio em 2018 – Foto: Gabriel Monteiro / Riotur

O padroeiro

O Salgueiro, quarta a desfilar, traz seu tema mais importante. Xangô é uma ode ao seu padroeiro, desenvolvido por Alex de Souza, em seu segundo ano na escola. O simbolismo que a entidade do Candomblé tem para os salgueirenses virá retradada logo na Comissão de Frente.

A sinopse foi um tanto genérica, convencional, mas nos últimos dias foi noticiado que o trecho final do desfile terá um pouco de crítica, reivindincando justiça social. O barracão teve problemas de andamento em função da crise de financiamento das escolas e, sobretudo, pela briga política causada pelas eleições na escola. Regina Celi foi reimpossada algumas vezes até que André Vaz pudesse assumir como vencedor da eleição.

O ensaio técnico do Salgueiro na Sapucaí foi bastante ofuscado pela aparição de Regina Celi no final do cortejo, causando uma saia justa. Mas nos ensaios de comunidade, realizados na Conde do Bonfim, na Tijuca, o canto da escola esteve mais forte. Esse é um enredo que fala para o coração do salgueirense e não se espera nada menos que dedicação e emoção na apresentação da vermelho e branca.

Mestre Carnaval explica o significado do enredo do Salgueiro

Noite de gala

Após o Deus da Justiça, entra a Deusa da Passarela, a Beija-Flor, em ritmo de festa. A escola celebra seus 70 anos de vida fazendo uma coletânea de seus melhores momentos nos 43 anos em que participa com sucesso da elite do carnaval. Essa é a síntese de Quem não viu vai ver… As fábulas do Beija-Flor.

 Esses grandes momentos não são apresentados de forma cronológica, mas temática: por exemplo, grandes homenagens, como a feita a Bidu Sayão (1995), os enredos afro e aqueles de crítica social como o famoso Ratos e Urubus (1989) e o campeão do ano passado.

O samba-enredo foi, digamos, uma experiência genética da diretoria que resolveu juntar os 3 finalistas, produzindo uma quarta obra. Apesar da origem “frankenstein”, foi sendo assimilada pela comunidade, mas não chegou a explodir durante o ensaio técnico. O “chão” da escola costuma ser muito forte e cantar a própria história é um incentivo extra.

O barracão vem mais luxuoso que nas últimas duas apresentações da escola, que precipitaram a saída de Laíla da escola. A grande incógnita é como vai se comportar a azul e branco sem estar sob a batuta do comandante que a levou a sua fase mais vitoriosa na década passada.

Miss simpatia

Se a Beija-Flor quer retomar o esplendor no visual, a Imperatriz Leopoldinense está em campanha por outro estilo de carnaval, mais solto, brincalhão para sepultar de vez o apelido incômodo de “Certinha de Ramos”. A verde e branco traz o enredo Me Dá um Dinheiro Aí, de Mário Monteiro, contando a história do dinheiro, com largo espaço para críticas e sátiras, mas sempre num tom leve.

O ensaio técnico foi um exemplo bastante claro da ambição da escola. Os componentes brincaram, evoluíram soltos e saíram felizes da vida com o samba com refrões fáceis de cantar como o já “lendário” trecho do “troca-troca na beira da praia”. A bateria parece outro ponto forte da escola, tocando segura.

Com orçamento mais modesto que a rica antecessora, afinal é uma escola do município do Rio, a verde e branco de Ramos investiu em carros mais vazados, menores. O que os jurados vão achar da novidade só saberemos na quarta de Cinzas.

Bateria da Unidos da Tijuca no Ensaio Técnico – Foto: Alexandre Macieira / Riotur

 

O pão do Pavão

Para encerrar a primeira maratona de desfiles, a Unidos da Tijuca, pela primeira vez sob a batuta de Laíla. A chegada do general que comandou a Beija-Flor por tantos carnavais é um grande incentivo ao Pavão. Depois do acidente com alegoria em 2017, a escola ficou fora das campeãs ano passado com estética bem discutível. Esse ano a coisa mudou: a escola vem pra brigar.

O barracão está grandioso, o chão da escola respondeu afiado, cantando o samba com muita força no ensaio técnico. Samba, aliás, que tem sido avaliado pela crítica carnavalesca, como um dos mais fortes do ano ao lado de Portela e Mangueira. Feito em forma de oração, tem forte tom religioso!

A meu ver, o ponto mais frágil é o enredo. A começar pelo nome: Cada Macaco no seu Galho. Ó Meu Pai me dê o Pão Que Eu Não Morro de Fome. Deu pra sacar? Provavelmente, não!

Formalmente, o enredo conta a história do pão, alimento essencial à humanidade. A invenção lá na Mesopotâmia, depois pula para o significado político, na Revolução Francesa. Em seguida, o pão no Brasil, o pão na religião, que invadiu todo o clima do desfile. O último setor trata do aspecto social, daqueles que precisam de ajuda porque estão sem condição de ganhar o pão de cada dia. É nesse ponto que Laíla justifica a escolha do enredo: para estimular o lado solidário do brasileiro.

O carnavalesco Fran Sérgio chegou a definir o desfile como “sacro”, por causa do significado simbólico do alimento para diversas religiões, sobretudo a católica. Como se trata da Tijuca, essa argumentação um tanto confusa do enredo não deve ser muito canetada pelos jurados. A escola é uma das favoritas ao título.

Ainda não decorou o samba da sua escola? Ouça no Spotify

03 de mar de 2019

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