Você sabe como uma escola de samba ganha o Carnaval?

Uma das razões do sucesso e popularização do desfile das escolas de samba do Rio foi a competição. Tudo é festa, alegria, mas existe muito trabalho e tensão porque, a partir do momento em que a sirene toca e o relógio zera, os componentes pisam na avenida e estão sob olhar dos julgadores. São eles que decretam quais torcedores vão estender o carnaval pela quarta-feira de cinzas para comemorar o título.

A disputa entre escolas começou mesmo antes de as agremiações se reconhecerem como tal. No final dos anos 20, os bambas do Estácio, Madureira e Mangueira disputaram sambas em um fundo de quintal. Em 1932, o jornal O Mundo Sportivo, de Mário Filho (que dá nome ao Maracanã), inventou um concurso entre escolas de samba para ter assunto em suas páginas durante o recesso do futebol. O sucesso foi imediato. O Globo bancou os concursos de 33 e 34 até que a Prefeitura do Rio resolveu assumir a organização.

Ao longo dos anos foram feitos muitos testes. Primeiro para decidir quem estava apto a julgar. Geralmente, pessoas do meio do carnaval, jornalistas, artistas, cantores foram jurados. Existe um samba de Martinho da Vila em que ele dá uma espetada em Chico Buarque, que foi julgador uma vez e teria dormido durante o desfile da Vila Isabel.

Outra questão importante eram os quesitos em julgamento. Alguns apareceram com o tempo, como comissão de frente e alegorias e adereços. Outros sumiram, como a avaliação da ala das baianas. A tensão de desfilar para jurados seria injusta com as velhas senhoras. Apesar de não ser um quesito, a ala é obrigatória nas escolas de todos os grupos. Ir pra avenida sem as baianas ou em número inferior ao exigido pelo regulamento provoca perda de pontos.

Desde a extinção do quesito conjunto, em 2014, são nove os itens em julgamento atualmente: samba, enredo, bateria, harmonia, evolução, fantasias, alegorias e adereços, mestre-sala e porta-bandeira e comissão de frente. Nós vamos falar de cada quesito em maior detalhe ao longo das próximas semanas para que vocês entendam o que os jurados avaliam.

Muita gente que não entende do carnaval acha engraçado que os sambistas ficam bravos com notas diferentes de 10 a ponto de reclamarem de um 9.5, nota que faria qualquer aluno comum dar pulos de alegria. Mas isso tem um motivo. Ao longo do tempo, um dos maiores pesadelos dos organizadores era como fazer o desempate entre as escolas. Os jurados já deram notas de 0 a 10 em intervalos de 1, já valeram intervalos de 0,5 ponto com notas nunca inferiores a 5, a 6, a 7.

Houve três empates famosos na história. Em 1960, a TV transmitia os desfiles pela primeira vez. Debaixo de chuva e desorganização, provocando enorme atraso para Portela e Mangueira. Ao saber que perderia pontos (e o campeonato), o presidente da Portela na época, Natal, socou o chefe da polícia na apuração e criou uma confusão. O resultado ficou sob suspenso por vários dias até que todos concordassem num quíntuplo empate entre a Portela (que faturou seu tetracampeonato), Mangueira, Salgueiro, Império Serrano e a então promissora Unidos da Capela.

Outro empate famoso ocorreu em 1980, naquele que é considerado um dos maiores desfiles da história. Grandes sambas e bons desfiles, sem quesito de desempate. Resultado: Portela, Beija-Flor e Imperatriz campeãs, Ilha, Vila e Mocidade vices. O último título dividido ocorreu em 1998, entre Mangueira e Beija-Flor.

Em 2017, serão os mesmos 9 quesitos em avaliação com quatro jurados para cada um, perfazendo o total de 36 julgadores. Eles dão nota entre 9,0 e 10 com intervalo de 0,1. Ou seja 9,5 é qual a nota 5, na prática. A menor nota em cada quesito é descartada. Em caso de empate no número de pontos, valem as notas parciais dos quesitos, na ordem inversa em que foram apurados. Ou seja, o último a ser conhecido será a primeira tentativa de desempate e assim por diante. Empate só é previsto no primeiro lugar e, mesmo assim, se as escolas tiverem recebido todas as notas 10, o que é bem difícil de acontecer.

16 de dez de 2016
1 COMENTÁRIO
  1. Sua explicação é de fácil entendimento para os leigos em carnaval, vou acompanhar suas matérias, além de serem um aprendizado e um campo pouco explorado para os que gostam realmente de carnaval e não tinham informações reais sobre este mundo maravilhoso. Parabéns

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