Título do Carnaval 2017 ficou com justiça nas mãos da Portela

E o Carnaval 2017 começa a virar história… Este foi o ano da grana curta, de muita criatividade, enredos interessantes, alguns belos sambas, nível alto das baterias, vários problemas com alegorias e um desenlace emocionante. Depois de 33 anos, a Portela volta a capturar uma estrela para a sua coleção sem ter de dividi-la com ninguém.

Desfile da Portela:

Tinha razão Nélson Rodrigues quando disse que toda unanimidade é burra. Houve gente que discordasse, mas, na opinião desse Mestre, o título de 2017 ficou na mão de quem deveria ficar. Da forma que é construído, o regulamento penaliza os erros das escolas e obriga os jurados a compararem soluções e trabalhos em busca de achar o melhor.

A azul e branco de Madureira sofreu muito no ano passado, quando, depois de um desfile aclamado pelo público de ponta a ponta, acabou em terceiro a um décimo da campeã por pequenos detalhes. Este ano, aperfeiçoou seus quesitos, entrou na avenida muito organizada, desfilou com a regularidade dos rios que homenageava e realizou a apresentação mais segura. Havia poucas desculpas para não se dar o 22º título à Águia.

Depois da Portela, a escola que desfilou melhor foi o Salgueiro, que fez a melhor apresentação do domingo, com seu inferno de Dante carnavalizado. Na comparação entre as duas, o samba portelense era superior em melodia e fluência em relação ao da vermelho e branca. Só que entre as duas ficou a Mocidade, num surpreendente segundo lugar. Justamente porque os jurados gostaram mais do samba. O ponto fraco da escola, onde ela perdeu o título, era o enredo sobre Marrocos, muito melhorado pelo samba. A grande sensação do desfile, provavelmente todo, foi a comissão de frente de Padre Miguel com seu truque que pôs Aladim pra voar no tapete mágico. Muito bem realizado.

Para alguns especialistas, a Mangueira teria feito o melhor desfile. O início da escola estava realmente deslumbrante. Só que o segundo carro emperrou na altura do setor 4, abrindo um buraco de 150 metros bem em frente à cabine dupla dos jurados. Esse incidente deu uma desanimada na escola, cujo samba rendeu. A parceria entre a verde e rosa e Leandro Vieira deu certo. O tripé que girava ao longo da pista simbolizando o sincretismo, com Oxalá de um lado e Cristo no outro, foi uma das imagens mais belas do desfile. Só que o conjunto alegórico era irregular, assim como as fantasias.

A Grande Rio ficou entre as seis melhores muito por conta do carisma de sua homenageada e por um equívoco no julgamento de samba-enredo. A tricolor figurou entre as 5 escolas que gabaritaram no quesito com 3 notas 10, junto com Vila Isabel (preferido dos especialistas), Mocidade, Portela e Mangueira. O hino da escola foi bem cantado, empolgou seus componentes, mas estava longe de merecer tamanha distinção. Ela ficou à frente da Beija-Flor porque a escola foi penalizada em fantasias, onde tentou ousar e pecou na realização ao misturar várias alas de índios, ficando com jeitão de bloco de embalo.

Pode-se argumentar que a Imperatriz talvez devesse tomar o lugar da Grande Rio entre as seis melhores. Eu achei o desfile melhor, mas a escola de Ramos também errou em evolução. Apesar de certos reparos, no geral, as que desfilaram melhor ficaram na frente. Por que então a gente sempre sai do carnaval com a impressão de que o julgamento é ruim?

Porque existem quesitos mal avaliados e jurados que julgam os desfiles pela bandeira da escola e não pela qualidade da apresentação. Esta é a única explicação pela qual a São Clemente acabou recebendo notas bem baixas para um enredo muito bem realizado por Rosa Magalhães, com dois carros que eram muito interessantes, o dos jardins de Versalhes e o da fonte com um efeito que parecia água de verdade e era na verdade papel. Parece que os erros de algumas escolas merecem menos punição que outras e isso é injusto. As alegorias do Tuiuti não eram inferiores às da Grande Rio, por exemplo.

O carro da Tijuca que desabou em parte, ferindo seus componentes, desorganizou totalmente a apresentação da escola. Mesmo com o enredo comprometido pela inversão de carros no desfile, alas fora de ordem, evolução irregular e harmonia apática, o Pavão não recebeu notas que o levassem ao último lugar. O não rebaixamento decretado foi uma proteção política que fere a credibilidade do julgamento. As escolas devem receber notas pelo que apresentam e não pelo nome que têm ou deixam de ter.

A nota mais emocionante talvez fique por conta do comportamento das torcidas, tão diferente das de outros eventos. Na quadra do Salgueiro e da Mangueira, as pessoas aplaudiram quando foi decretada a vitória da Portela. E os portelenses, alucinados pelo fim do jejum, encontraram tempo no meio da festa para cantar um samba do Império Serrano tão logo souberam que a Serrinha voltaria ao Grupo Especial em 2018. O país tem muito a aprender com o samba.

17 de mar de 2017

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