Tuiuti faz arrojada homenagem aos 50 anos da Tropicália

 
O Paraíso do Tuiuti, campeã do Grupo de Acesso em 2016, tem consciência de que precisa fazer um desfile memorável para ter chance de permanecer no Grupo Especial, que vai abrir no #Carnaval2017. Os jurados têm o péssimo hábito de pesar a mão no julgamento da escola que “acabou de chegar” no clube. Esse ano, o rebaixamento da Estácio foi um escândalo.

O primeiro passo nesta luta inglória contra a má vontade institucional dos jurados, o Tuiuti deu. E foi um passo largo. Seu enredo para 2017, autoria do competente Jack Vasconcelos, tem proposta arrojada. Carnavaleidoscópio Tropifágico vai homenagear os 50 anos do último movimento artístico realmente relevante no Brasil, a Tropicália.

Demonstrando todo o cuidado e o talento do carnavalesco, a sinopse foi feita em formato de manifesto, como o foi a Tropicália. Os originais entregues aos compositores foram impressos em folha A3, no estilo do Pasquim, um jornal de resistência contra a ditadura, editado até 1991.

A proposta não é só falar de música, mas de todo o contexto artístico da época e do cenário politico e social da época, os anos 60 e 70. Por isso mesmo, o enredo começa bebendo na fonte da antropofagia modernista, de Oswald de Andrade, de Tarsila do Amaral, fonte de inspiração dos tropicalistas.

Vasconcelos espera que os compositores comprem a ideia de fazer um samba que fuja da fórmula tradicional de passar pelos temas cronologicamente. Que se inspirem pelo texto poético da sinopse e usem a criatividade bem como “herdem” a predisposição dos tropicalistas por quebrar regras.

A sinopse, claro, opta pelo discurso simbólico. Depois de citar a origem modernista da Tropicália, passeia pela sua expressão nas diversas artes e o seu contexto politico. São citados personagens que se tornaram símbolo, como Carmen Miranda e Chacrinha, a origem baiana dos artistas e a relação do movimento com o Rio. Tudo de forma figurativa, mesclando trechos de músicas e  poesias com o texto. Como no trecho abaixo:

Minha terra tem palmeiras onde sopra o vento forte. Vivemos na melhor cidade da América do Sul. Soy loco por ti, America. Soy loco por ti de amores. Tengo como colores la espuma branca de latinoamerica. Esse povo, dizei-me, arde!

Nesta quarta (29), foi realizada a última reunião entre os compositores e a ala dos compositores com objetivo de tirar dúvidas.

A sofisticação da abordagem pode dar muito certo e ser um grande trunfo da azul e ouro, mas pode produzir sambas que sejam meras colagens de versos das músicas utilizadas na sinopse. É um risco que precisa ser corrido.

 

LEIA A ÍNTEGRA DA SINOPSE DO TUIUTI

 

CANTINHO DA SAUDADE

O Paraíso do Tuiuti tem uma história parecida com a da Estácio de Sá. É herdeira de duas escolas antigas do bairro de São Cristovão, a Unidos do Tuiuti e a Paraíso das Baianas, mas só assumiu o nome atual em 1954. Esteve no Grupo Especial apenas uma vez, em 2001, quando apresentou o enredo Um Mouro no Quilombo.

 

 

Um dos seus grandes desfiles, no entanto, ocorreu em 2003, quando desfilou pelo Grupo de Acesso A homenageando o pintor Cândido Portinari. O carnavalesco era Paulo Barros e a repercussão deste trabalho o levaria a ser contratado pela Unidos da Tijuca.

 

Foto: Acervo Luiz Fernando Reis

Foto: Acervo Luiz Fernando Reis

 

 

30 de jun de 2016

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