Mocidade vai contar mil e uma noites em 75 minutos

Depois do quase folclórico (nem por isso menos sofrido) jejum da Portela, a Mocidade é a escola no Grupo Especial com a maior seca de títulos. O quinto e último foi há 20 anos, quando Renato Lage, hoje no Salgueiro, ainda estava por lá. Criador e Criatura, um desfile que encantou a avenida com Frankensteins, Adão e Eva e uma bateria vestida de Robocop. Obviamente, o sonho de voltar à glória é vívido no povo de Padre Miguel.

 

Com seca e estrela na cabeça, aportou na verde e branco da zona Oeste a proposta de homenagear o Marrocos, país africano, coberto em parte pelo Saara, que tem uma estrela como símbolo e um imaginário cultural que remete a gênios da lâmpada e Ali Babá, mas popularizado mesmo pela novela de O Clone.

 

A sinopse do enredo da escola parte exatamente do sonho de se reencontrar com os tempos áureos e o calor da zona Oeste transporta a escola ao deserto do Saara, cujas dunas seriam um tapete mágico sobre o qual a Mocidade viajará.

 

O desfile, que será assinado pelo segundo ano consecutivo pelo carnavalesco Alexandre Louzada (ex-Portela), promete mostrar todo o caleidoscópio cultural do Marrocos, seus prédios, comida, vestimentas, agrupados com os contos famosos que identificamos genericamente como “das Arábias”. Misturando onírico e real.

 

Em nosso imaginário, personagens como Aladim, Sherazade, Simbá, o marujo, Ali Babá e a princesa que conta as histórias durante as 1001 noites para escapar da própria execução estão mais presentes que o próprio Marrocos. E aí está a fragilidade da proposta. A insistência na imagem do deserto, que aparece na sinopse antes do nome do país, se explica pelo fato de o livro de contos chamado de As Mil e uma Noites ser uma coletânea de origem árabe, hindu e persa, conhecida no Ocidente pela primeira vez por um tradutor francês do século 18, com edições  posteriores no Egito e em Calcutá. Nenhuma ligação direta com o Marrocos. A indústria do turismo, no entanto, ajuda na confusão por vender cidades marroquinas como Marrakech e Rabat como a terra das Mil e Uma Noites.

 

A preocupação da Mocidade é compreensível, porque há antipatia no mundo do samba com enredos patrocinados e especialmente os do tipo “CEP”, sobre cidades, estados ou países com jeitão de guia turístico. Como os contos das Mil e Uma Noites nem sempre têm uma localização bem definida, usa-se o deserto e os mares que banham o Marrocos para colocar aí os personagens. Ali Babá (nas cavernas) e Simbá no Atlântico.

 

Louzada tem alguns ótimos trabalhos e esse universo renderá alas de fácil identificação com o público. Se vai dar certo ou não, depende de um monte de outras coisas. A Mocidade é uma grande escola, mas a necessidade de patrocínio  a fez assumir um risco no quesito enredo.

 

LEIA A SINOPSE COMPLETA DO ENREDO DA MOCIDADE

 

Assista a um trecho do desfile da Mocidade em 1996, ano do último campeonato. A escola venceu por 0,5 ponto de diferença e impediu o que seria o tri da Imperatriz. A escolar desfilou de manhã por causa de atraso causado na dispersão da Portela e da Viradouro que desfilaram antes e não conseguiram tirar seus carros da dispersão.

03 de jun de 2016

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