Vila vai mostrar influência negra nas danças e músicas da América

A Unidos de Vila Isabel foi a última escola do Grupo Especial a divulgar seu enredo para o carnaval 2017. Além de disputar o título, a azul e branco travará um duelo particular com a Unidos da Tijuca. Isso porque ambas vão falar da história da música americana. Só que, enquanto o Pavão entende por “América” os Estados Unidos, a Vila escolheu falar da influência negra na música de todo o continente: O Som da Cor.

Assinado por Alex de Souza, o enredo da Vila Isabel também parte de uma proposta bastante abrangente. Falar da contribuição dos negros em todos os gêneros musicais da América, desde a chegada de Colombo às Antilhas até os dias atuais, encerrando no Brasil, obviamente.

Esta é a saga daqueles que migraram forçosamente (…). Após séculos no cativeiro, tingiram estas Américas e as fizeram crioulas. Gerações que se seguiram colheram os frutos desta musicalidade (…). Vozes e percussão revelando seus ritmos, no bater do pé e na palma da mão. Instrumentos inventados ou adquiridos de outras culturas.

A viagem se inicia pela parte espanhola da América. “Investiga” as influências que permitiram a habanera e como o movimento rastafári teve sua expressão musical no reggae. Nesse setor há uma “revelação” surpreendente para a maioria. O tango tem influência negra também, banto, para ser mais preciso.

Após percorrer toda a América do Sul espanhola, o enredo cita a colonização inglesa e as disputas com franceses e espanhóis na América do Norte, o que introduz a música negra nos EUA. O banzo dos escravos que gera o blues, que deságua no jazz, que segue se misturando até chegar ao rock e segue em frente com o soul, o hip-hop, o techno, o pop.

O enredo chega ao Brasil e fala da influência negra nas manifestações culturais e musicais no país. Menciona a moda que conquistou Portugal quando o lundu, batuque dos escravos brasileiros, atravessou o Atlântico e se misturou ao fado, claramente traçando as influências que possibilitaram a “invenção” do samba.

Enfim, a Vila volta para o Rio e traça a evolução do ritmo na cidade, nas rodas da Pedra do Sal, as reuniões no quintal da Tia Ciata na Pequena África carioca. O final do texto da sinopse tem jeito de que vai virar refrão de samba-enredo:

 

“Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros”, que a negritude tem a primazia. E é dessa cor que falo, que meus sentidos expressam naquele que é considerado o maior espetáculo. Trazendo os matizes de cada pavilhão, a escola que o samba fez. E ao som das cores da Vila, que é Azul, Branca e Negra também, vem kizombar mais uma vez.

 

É bastante comum escolas revisitarem temas explorados por outras. Desde 2004, é permitido reeditar enredo e samba de um carnaval passado. A coincidência de enredos em um mesmo ano é bem menos frequente porque a comparação de desfiles se torna inevitável. A própria Vila travou duelo histórico em 1988 com a Mangueira, quando ambas cantaram os 100 anos da Abolição. Em 2002, Salgueiro e Beija-Flor homenagearam a aviação. Havia a brincadeira de que o Sal seria a TAM, pela cor vermelha, e a Beija-Flor, a falecida Varig.

Na comparação entre Vila e Tijuca, fica a impressão de que ambos são enredos ricos, mas se propõem a falar de coisa demais. A passagem da Vila pelos EUA, por exemplo, é bastante atropelada no texto. De forma geral, o argumento da escola de Noel é melhor, parece mais sólido e a sinopse mais bem escrita. Apesar de gostar da ideia ficcional do encontro Pixinguinha e Armstrong na Tijuca, ele obriga a passar por cima de incoerências como o fato de eles falarem sobre fatos que ocorreram depois da morte de ambos. Por essas e outras, em concepção de enredo, a Vila saiu na frente. Vamos ver como isso vai ser resolvido na avenida.

 

LEIA A SINOPSE COMPLETA

 

Momento da Saudade

A Vila Isabel costuma se dar bem com enredos que falam das nossas raízes africanas. O mais famoso é sem dúvida Kizomba, de 1988. Mas houve outros belos desfiles. O mais recente foi em 2012, quando a escola falou de Angola. A abertura, com integrantes da comissão de frente em uma savana, foi emocionante. A azul e branco terminou em 3º lugar, mas acho que esse era um desfile para título.

 

21 de jul de 2016
2 COMENTÁRIO
  1. Alex, sei que será um lindo , e impecável show. Bravoooo Alex de Souza!!!

  2. Com certeza a Vila data um show!!!!! Avante Vila.

    Joel Reis8 anos atrásResponder

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