Chuva forte tumultua primeira noite de desfile da Série A

Desfile da Unidos de Padre Miguel sobre Dias Gomes – Foto: Fernando Grilli / Riotur

Estava tudo preparado para ser inesquecível. Só que um temporal caiu até mesmo antes do desfile começar. A pista do Sambódromo inundou e ficou parecendo um rio. Por causa disso, o início do desfile da Série A ocorreu meia hora depois do previsto, às 23h, com a reestréia da Unidos da Ponte na Sapucaí e seu enredo de Oferendas aos orixás, com visual simples, fantasias que permitiam ao componente evoluir e o sambão reeditado de 1984.

A chuva realmente foi um personagem involuntário da primeira noite de carnaval. Danificou alegorias, fez a atriz Isabel Fillardis, que representava Ruth de Souza na comissão de frente da Santa Cruz, cair bem na frente dos jurados, dificultou a evolução e espantou parte do público. Pelo menos três escolas estouraram o tempo de apresentação. A Alegria da Zona Sul ultrapassou em 1 minuto o máximo permitido de 55 minutos, a Santa Cruz chegou dois minutos atrasada ao final da Apoteose e a Unidos de Padre Miguel perderá 3 décimos na apuração, mesmo número de minutos que usou a mais.

Ficou difícil apontar um favorito óbvio. A homenagem da Unidos de Padre Miguel a Dias Gomes teve o conjunto alegórico e de fantasias mais suntuoso da noite, mas várias delas ficaram avariadas e por conta de problemas com carros, houve falhas na evolução, mesmo com o ótimo canto dos componentes. A Santa Cruz, homenageando a atriz Ruth de Souza, sofreu em vários quesitos – avarias em fantasias, na comissão de frente, o último carro teve sério problema na altura do setor 6, provocando um enorme buraco na pista. Uma pena, porque o belo samba foi muito bem defendido.

Inocentes

A apresentação mais coesa da noite foi a da Inocentes de Belford Roxo, com seu enredo sobre os objetos que o bando de Lampião costumava usar e, assim como eles, grande parte dos sertanejos. O trabalho artístico do carnavalesco Marcus Ferreira se destacou pela utilização de diversos materiais alternativos. O abre-alas todo brilhoso era feito com garrafas pet, pequenos frascos, pratos. Esses elementos alternativos estavam também em algumas fantasias e outras alegorias, como a que trazia caixotes de feira pintados de vermelho e que renderam um belo efeito. A Inocentes desfilou no tempo certo, mas o ótimo samba foi cantado de forma irregular pelas alas.

Outra que passou sem grandes contratempos foi a Rocinha que fez um contundente desfile contra todo tipo de preconceito. Os primatas da comissão de frente (alusão à ofensa comum dirigida aos negros) cumpriu seu papel. A comunidade cantou o samba com muito entusiasmo, o que ajudou a evolução e a harmonia da escola. A bateria também fez um belo papel.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira da Rocinha – Foto: Richard Santos / Riotur

A Alegria da Zona Sul teve as alegorias danificadas pela chuva, teve de correr no final, atrapalhando a evolução. No entanto, o desempenho na bateria, caracterizada como pretos velhos, fez sucesso pela paradinha e sustentou o ritmo com bravura. Os componentes chegaram na concentração duas horas antes para fazer a maquiagem e se abrigaram debaixo do viaduto para ela não ficar borrada.

Respeito religioso

Tanto Alegria como Sossego tinham fantasias de fácil leitura e falaram de preconceito religioso. A escola de Niterói, última que entrou na avenida, fez um protesto contra o prefeito Marcello Crivella. A faixa levada à frente da escola dizia que os sambistas respeitam a religião do prefeito, mas também exigem que o carnaval seja respeitado. A comissão de frente trazia personagens de diversas religiões e a bateria veio caracterizada como Jesús Malverde, uma espécie de Robin Hood cultuado no México. A última alegoria, que causou polêmica porque a escultura de um diabo teria o rosto do prefeito acabou não aparecendo. Em seu lugar, veio um “anjo”, segundo o presidente, que tinha feições semelhantes à do ex-prefeito Eduardo Paes, um notório carnavalesco.

Tudo indica que a disputa pela vaga no Grupo Especial fique para a segunda noite de desfile. Ainda vão se apresentar três escolas fortes: Estácio, Porto da Pedra e Cubango. A não ser que a chuva siga desempenhando seu papel de protagonista.

02 de mar de 2019

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