Estácio quer botar banca na avenida e voltar para o Grupo Especial
E o “botar banca” do título tem duplo sentido, como convém a um bom tema carnavalesco: No Pregão da Folia Sou Comerciante da Alegria e com a Estácio Boto Banca na Avenida. A vermelho e branco vai contar a história do comércio, desde a descoberta do Brasil até as transações feitas pela Internet.
Ouça o clipe feito pelos compositores do samba que a Estácio levará pra avenida:
O Estácio volta a recorrer a um tema popular e que costuma render desfiles no mínimo divertidos. Assim como as comidas da Ilha (https://mestrecarnaval.camarotecarnaval.com/ilha-quer-fazer-sapucai-comer-com-os-olhos-enredo-comidas/), o comércio já fez papel coadjuvante em muitos enredos, mas no Carnaval 2018 ganha ares de protagonista e fico curioso para ver quais as soluções de figurino e alegorias que vão ser trazidas pelo talentoso Tarcisio Zanon, o jovem carnavalesco da escola.
Como cabe a uma boa sinopse, a história tem um narrador, que não podia ser ninguém mais que o próprio Estácio de Sá, fundador da cidade do Rio de Janeiro. Ele baixa na avenida para recontar a trajetória do comércio que tem início com a sua própria chegada ao território carioca, depois de expulsar os franceses e dos primeiros escambos com os índios que foram aliados na conquista.
Em seguida, o enredo envereda por uma narração da história econômica, que poderia ser um pouco mais breve porque, afinal, é conhecida e já explorada em tantos desfiles. A escola percorre o tempo do extrativismo puro e simples, lembra dos ciclos do açúcar, café e mineração e a escravização primeiro de índios e principalmente de negros para viabilizar a atividade economicamente.
Neste trecho, a sinopse cita os negros que recorriam ao comércio em tabuleiros cuja renda seria investida depois na compra da alforria. Essa atividade e a dos mascates em geral nas ruas do Brasil Colônia e do Império foram muito registradas pelo pintor francês Jean Baptiste Debret e deve render um bom momento no desfile.
Chegamos à Praça Quinze, onde havia um mercado municipal que era o maior entreposto de alimentos da cidade e do qual só resta uma torre que hoje abriga um restaurante de frutos do mar.
A entrada em cena dos imigrantes para substituir a mão de obra escrava dá chance para uma sequência muito interessante, assim descrita na sinopse: “Quem nunca entrou nas quitandas e padarias do Seu Manoel? Nas pizzarias e cantinas das mamas de tirar o chapéu? Nos antigos turcos armarinhos? Nas lojas libanesas de tecidos no caminho? E quem nunca comeu um pastel com caldo de cana nas pastelarias chinesas por todos os bairros espalhadas? E ainda não provou os quitutes típicos dos refugiados sírios e angolanos em saborosas abocanhadas?”
Ao chegar aos dias atuais, veremos a vivacidade do comércio nas ruas e feiras livres, nos hortifrutis ou supermercados. Do garimpo nos sebos, brechós e mercados de pulgas. Na feira de móveis do Lavradio, nos passeios pela CADEG (um entreposto de alimentos) e a oferta quase inesgotável de artigos nordestinos na Feira de São Cristóvão. E os grande mercados populares respresentados pelo Saara, importante na produção dos desfiles, e o Mercadão de Madureira, que mais parece uma cidade.
E conclui: “Dessa forma fascinante, as mãos produtivas do comerciante na lida diária vamos exaltar. Reconhecendo a importância desse segmento na sociedade, com nossa medalha de ouro a eles vamos laurear.” A medalha de ouro aí tem outro duplo sentido, por ser também o apelido da bateria da escola.
Nos últimos dois anos a Estácio fez bons desfiles. O de São Jorge, no Grupo Especial, foi pessimamente julgado. E o de Gonzaguinha trouxe soluções interessantes, como a bela comissão de frente, mas o samba não rendeu e a escola foi superada por Império e Viradouro.
Em 2018, a Estácio tentou um patrocínio pra falar de Cingapura, mas a negociação não foi em frente. Por isso, não deve haver luxo e o tema foi escolhido a dedo. Lembrando que a Estácio também se dá bem com desfiles leves como a inesquecível sequência de Rosa Magalhães Tititi do Sapoti, O Boi da Bode e o do arroz com feijão, entre 1987 e 1989.
Curioso para ver o que Zanon vai aprontar, já que ele também concorda que o tema é a cara da escola. Logo depois de anunciar o enredo, o carnavalesco afirmou que a “banca” que a Estácio vai colocar tem por objetivo “vender” felicidade.
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