Paraíso do Tuiuti vai lembrar os 130 anos da Lei Áurea no Carnaval 2018

A Paraíso do Tuiuti vai levar para o Sambódromo no próximo carnaval um enredo sobre os 130 anos da assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, que serão completados em 13 de maio de 2018. A notícia vazou semana passada, embora a escola ainda não tenha confirmado quando divulgará a sinopse.

Mais uma vez a concepção artística do trabalho ficará a cargo do carnavalesco Jack Vasconcelos, um dos talentos da geração mais nova de profissionais que está assinando desfiles nas principais agremiações do carnaval carioca. Ele fez um grande enredo em 2017 sobre os 50 anos da Tropicália, que gerou alguns dos momentos mais belos e originais do desfile em termos visuais.

Mas a apresentação da escola ficou marcada pelo acidente com um dos carros alegóricos que perdeu o controle e atingiu jornalistas na concentração, provocando a morte de uma radialista. Além disso, as notas que a Paraíso do Tuiuti recebeu nos quesitos relativos a enredo e visual foram absolutamente injustas, dentro do padrão tradicional de pesar a mão com escolas que chegam ao Especial. Ela acabou em último e só não caiu porque, com o acidente da Unidos da Tijuca, houve a famosa virada de mesa que cancelou o rebaixamento.

Por isso, a escola precisa se armar para fazer um desfile ainda melhor em 2018 e ter chance de permanecer no Grupo Especial. O tema da Abolição já foi abordado muitas vezes no Carnaval, mas tenho confiança de que Jack Vasconcelos vai encontrar uma abordagem interessante.

Em 1988, quando a Abolição dos Escravos completaria 100 anos, chegou-se a cogitar a hipótese de todas as escolas abordarem o tema. A ideia não vingou. Só duas escolas trataram diretamente sobre o tema: a Vila Isabel, com seu antológico Kizomba, a Festa da Raça e a Mangueira com um belíssimo samba: 100 Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão. A Vila faturou seu primeiro título, tirando da Mangueira, que ficou em segundo, a chance do tricampeonato.

O desfile da Vila:

E o da Mangueira com uma linda comissão de frente às antigas, sem coreografias, formada por negros e negras ilustres como os atores Grande Otelo, Antônio Pitanga e o compositor Carlos Cachaça:

Em 1989, o Salgueiro resolveu fazer um enredo afro, depois ter sido criticado por deixar passar em branco o centenário da Lei Áurea. A escola tem importância histórica na abordagem de personagens negros a partir dos anos 60:

Dez anos depois, em 1998, a Caprichosos fez uma ode à raça negra com Negra Origem, Negro Pelé, Negra Bené, referências ao rei do futebol e à política carioca Benedita da Silva. Ouça o áudio do samba daquele ano na gravação ao vivo:

Em 2000, finalmente houve um carnaval temático, sobre os 500 anos do Descobrimento e cada escola escolheu um pedaço da história. A Mangueira subiu o tom da crítica do samba de 1988 com o maravilhoso Dom Obá, Rei dos Esfarrapados, Príncipe do Povo, passando pela Abolição mas analisando a realidade de exclusão social e econômica dos negros. Ficou em sétimo lugar.

 

No Carnaval de 2008, nos 120 anos da Lei Áurea, nenhuma escola se interessou em falar sobre o tema. Só que para mim, coisas de velho, o samba antológico mesmo sobre o tema é Sublime Pergaminho, de 1968, de uma tradicional e hoje decadente Unidos de Lucas que tem uma imagem belíssima ao narrar o 13 de maio de 1888. “Uma chuva de flores cobriu o salão e o negro jornalista [José do Patrocínio] de joelhos beijou a sua mão. Uma voz na varanda do Paço ecoou: ‘meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão”.

 

11 de maio de 2017

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