Na virada do ano, uma playlist de sambas sobre o futuro
Final de ano é tempo de relembrar momentos bons e de sonhar com o futuro. Como será o amanhã e como construí-lo é um enredo recorrente no carnaval. Para celebrar a chegada de 2017, preparei pra você uma playlist que mistura história, sonhos, utopia e humor.
O Amanhã – União da Ilha 1978: Este é um dos sambas-enredo mais famosos da história, que marcou a fase em que a Ilha tentou contestar o caminho do luxo que as escolas tomavam. Fala sobre a curiosidade que temos a respeito do futuro.
O Paraíso da Loucura – Beija-Flor 1979: Joãosinho Trinta imaginou o carnaval como um “amanhã idealizado” em que não há espaço para as dificuldades do dia a dia. O tetra da Beija não veio, mas o samba é divertido e a escola foi vice.
Morfeu do Carnaval, uma Utopia Brasileira – Portela 1986: O Brasil vivia tempos duros na economia e a Portela fez um de seus raros enredos bem-humorados sonhando com um país melhor. Ficou em 4º, mas o refrão foi bem cantados. “No país da bola, só deita e rola, no país da bola, quem vem com dólar.”
Eu Quero – Império Serrano 1986: O Império Serrano fez um desfile na mesma linha. Em vez do Morfeu da Portela, um gênio em sua fonte ajudaria o país a fazer a transição da sociedade injusta deixada pelos militares para um futuro mais próspero. A Serrinha ficou em 3º e este era considerado o melhor samba do ano.
Beijim, Beijim, Bye Bye Brasil – Mocidade 1988: O genial Fernando Pinto idealizou nosso território dividido em Brasiléias Encantadas e livres das mazelas tradicionais. A escola terminou em 8º lugar porque o carnavalesco não concluiu o trabalho. Morreu em um acidente de carro e este foi um desfile “in memoriam”.
Gbala, Viagem ao Templo da Criação – Vila Isabel 1993: A fábula inventada pelo carnavalesco Oswaldo Jardim leva crianças em uma viagem às origens do mundo para forjar uma nova humanidade, mais justa. O samba de Martinho da Vila tinha passagens inspiradas como essa: “Sete Águas revelaram em sete cores, que a beleza é a missão de todo artista”. A escola ficou em 8º.
E Por Que Não? – Salgueiro 1987: O enredo pedia para as pessoas imaginarem as coisas feitas de forma diferente. “Se um dia o mundo acordar, verá que tudo pode acontecer…”. A melodia é contagiante. O Sal terminou o desfile em 5º.
Quase no ano 2000 – Imperatriz 1998: Às vésperas da virada do milênio, Rosa Magalhães quis fazer um enredo com tom de 2001, uma Odisséia no Espaço, pessimista, mas reivindicando que o homem preste atenção ao que é importante. A escola terminou em 3º, atrás apenas das campeãs Mangueira e Beija-Flor.
Terra dos Papagaios, Navegar foi Preciso – Tijuca 2000: Em 2000, todas as escolas falaram do Brasil em homenagem aos 500 anos do país. A Tijuca retratou a expedição do descobrimento e terminou o enredo pedindo que o brasileiro redescubra o país a cada dia. Ficou em 5º lugar, posição surpreendente para quem havia acabado de subir do Grupo de Acesso.
Direito é Direito – Vila Isabel 1989: A Vila, que no ano anterior havia vencido o carnaval falando da luta dos negros pela liberdade, escolheu falar dos 40 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem para cobrar outros tipos de liberdade, não só a racial. Samba forte, enredo politizado e um quatro lugar.
a São Clemente Mostrou E Nada Mudou Nesse Brasil Gigante – São Clemente 2001: A escola da Zona Sul fez no Grupo de Acesso um grande resumo de seus enredos críticos, reconhecendo que as mazelas continuam em nosso cotidiano, mas apontando um caminho: “A solução então é investir em educação, criar emprego pra libertar essa nação”. A escola venceu o desfile do Acesso com esse enredo.
Verás Que um Filho Teu Não Foge à Luta – Império Serrano 1996: A Serrinha fez uma das mais belas homenagens já vistas na Sapucaí, ao Betinho, idealizador da campanha Ação da Cidadania, contra a fome e a miséria. A segunda parte do samba é de tirar lágrimas quando dá a receita pra acabar com a desigualdade: “Junte um sorriso meu, um abraço teu, vamos temperar, uma porção de fé, sei que vai dar pé, não vai desandar…”
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