Unidos de Padre Miguel vai trazer como enredo em 2018 o Eldorado amazônico

A Unidos de Padre Miguel é uma das grandes forças da Série A, o grupo de acesso ao desfile principal. Desde 2014 a escola faz apresentações grandiosas mas morre na praia na hora da apuração – no último carnaval o acidente com a porta-bandeira custou 9 décimos e deixou a escola na quarta posição. Em 2018, a UPM, como é mais conhecida, promete botar pra quebrar. O enredo foi anunciado no final da semana passada: O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin.

Depois de perder Edson Pereira, carnavalesco autor dos dois últimos desfiles na escola, para a Viradouro, a vermelho e branco da Zona Oeste apostou em uma das revelações do ano, João Vítor Araújo, que tirou a Rocinha dos últimos lugares e o levou a um honroso sexto lugar. Assim como em 2017, João Vítor construiu a sinopse do enredo (leia na íntegra aqui) a quatro mãos com o jornalista Daniel Targueta.

Veja reportagem do Mais Carnaval sobre o lançamento do enredo com depoimentos de João Vítor e Daniel:

Se este ano a escola foi toda inspiração afro, em 2018 a UPM mergulha no universo do imaginário indígena e dos caboclos na beira dos rios da Amazônia sob inspiração do escritor amazonense Milton Hatoum que retratou um lendário Eldorado no fundo do Rio Amazonas em sua obra Órfãos do Eldorado.

Mas este não é o Eldorado dos europeus, é um reino perfeito, uma cidade encantada utópica, quase uma Atlântida tropical, onde só se entra com a magia dos pajés e onde habitam herois e deuses indígenas de diferentes povos. A entrada descrita pelo texto é triunfal:

” Um verdadeiro novo mundo. É a entrada da cidadela das águas abundantes, guardada por manoas. Índios arremessados para debaixo das águas e que se tornaram ancestrais. São sentinelas da memória indígena. Nos passadiços do Eldorado, uma multidão deles se apinha. Todos tingidos de pó de ouro, todos com o dourado derretido na pele.”

Daí em diante o desfile literalmente mergulha nas lendas e história oral dos caboclos da região: como a do castelo enfeitiçado de Yara ou a de Mapuí, a cobra arco-íris que liga a água ao céu, e outros seres como Boiuna, cobra grande de olhos de fogo.

Depois de jogar o público nesse mundo encantado, o passeio se encaminha para o final quando o pajé faz um chamado aos ribeirinhos submersos. E todas as lendas do Eldorado vem à tona na ilha dos Tupinambás, hoje transformada no paraíso de Parintins, onde a cultura indígena é celebrada no festival do boi-bumbá, com a eterna disputa entre Garantido e Caprichoso. E o texto da sinopse é concluído da seguinte forma:

” Em 2018, essa disputa ganha um novo tom. São bois por demais “Unidos” numa só bandeira: a vermelha-urucum e branca-marupá das terras de Padre Miguel. Ouve só esse canto guerreiro que vem lá da Vila Vintém.”

A sinopse tem um texto emocionante que dá exemplos poéticos e abundantes sobre o universo que a escola pretende contar no Sambódromo. O material é rico e a abordagem fantástica faz com que tudo tenha alto potencial para ser “carnavalizado” – afinal o desfile não tem estética realista.

Na fila das escolas candidatas ao título da Série A temos três vermelho e brancas: a Viradouro, e sua história dos gênios malucos, a Estácio que vai fazer um enredo patrocinado sobre Cingapura, e a Unidos de Padre Miguel, com este belíssimo tema autoral. Vai ser uma briga de tanto, com a UPM e Viradouro tendo uma pequena vantagem, o fato de desfilarem no sábado de carnaval. A escola de Niterói será a 3ª a desfilar e a de Padre Miguel a última, encerrando a Série A.

Reveja um pouco do belíssimo desfile da UPM em 2017:

 

18 de maio de 2017

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