Tragédia atinge a Portela e comove o mundo do samba

O mundo do samba foi sacudido esta semana por dois eventos lamentáveis. Na segunda-feira por volta das 16h um grupo de homens encapuzados fuzilaram o presidente da Portela, Marcos Falcon, que era candidato a vereador pelo PR (Partido da República). A confirmação de que o dirigente havia sido morto espalhou-se rapidamente pela cidade. A polícia tem várias teses e nenhuma certeza até agora.

Falcon foi o comandante do renascimento da Águia Altaneira. Em 2013, numa disputa vencida por apenas 3 votos, conseguiu derrotar a chapa da situação, que fazia há anos uma administração que acumulou dívidas em torno de R$ 12 milhões, chegando a ter luz e água cortadas na quadra da escola por falta de pagamento. Sob a batuta de Nilo Figueiredo, a Portela viveu o pior pesadelo de sua história. Em 2005, a desorganização foi tanta que a velha guarda foi deixada na concentração e a águia entrou na avenida sem asas. Acabou em penúltimo lugar e por muito pouco não foi rebaixada para o Grupo de Acesso.

Depois que o grupo de Falcon assumiu a escola, as dívidas começaram a ser pagas, a Portela voltou a ter credibilidade. Já no primeiro desfile sob sua administração, a azul e branco conseguiu chegar em 3º lugar, embora muitos críticos tenham-na considerado o melhor desfile de 2014. Em 2015, ficou em quinto nos quesitos de desempate com o 3º e o 4º colocados, mas a imagem do carnaval foi o abre-alas da escola, a majestosa Águia Redentora de 12 m de altura. Este ano, a Portela saiu da avenida aclamada como campeã, numa comoção das arquibancadas que não se via há tempos.

Falcon foi um líder e resgatou a autoestima dos portelenses, que o convenceram a aceitar a incumbência de assumir a presidência da escola, em maio. O prestígio dele teve uma prova inconteste e triste, na terça, durante o velório na quadra e o enterro, ao qual compareceram milhares de pessoas.

Com o cargo vago, assumiu o comando da escola Luís Carlos Magalhães, que era o vice. O espírito de tristeza que tomou a Portela deve ser transformado em força para que a Águia consiga abocanhar o título que vem batendo na trave. Esse era o tom dos dirigentes e do carnavalesco Paulo Barros nos dias seguintes à tragédia. A final de samba-enredo da Portela está mantida para 14 de outubro.

São Clemente

Falcon, assim como todos os presidentes das escolas do Grupo Especial tinham uma reunião agendada com Eduardo Paes naquele dia na quadra da São Clemente. O presidente da escola, Renato Gomes, iria aproveitar a ocasião para fazer um último apelo para evitar o despejo do espaço de ensaios da escola, na avenida Presidente Vargas. O local pertence à União, que pediu o terreno de volta. A escola lutava há 13 anos para ficar no local, mas acabou perdendo a batalha judicial e recebeu a ordem de sair porque o lugar seria lacrado na terça passada.

A reunião com Paes não ocorreu, mas centenas de pessoas foram ao local na segunda, para assinar o manifesto da escola e assinar outra petição. (http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR94515)

O manifesto Clementiano #FicaSãoClemente parecia uma homenagem ao primeiro enredo que a preto e amarelo apresentou no Grupo Especial, em 1985. A escola fez naquele ano uma bem humorada crítica aos problemas e anseios das pessoas pela casa própria. Ironicamente, a escola tem sido nômade desde sua fundação, tendo sido obrigada a mudar de casa várias vezes.

Para uma escola de samba, a perda de uma quadra não traz só um problema logístico. É ter roubada também uma importante fonte de renda para financiar suas atividades, sobretudo o desfile do carnaval.

É inacreditável que o poder público não tenha encontrado solução para a sede das escolas, que são patrimônio cultural da cidade e geram recursos em termos de turismo numa proporção muito superior ao investimento feito pelas autoridades.

As diretorias de Salgueiro e Vila Isabel já ofereceram o empréstimo de suas respectivas quadras para que a São Clemente possa realizar sua final de samba-enredo. Mas ainda não há uma definição. Semana nada fácil, mas para terminar com samba, ouça o divertido hino clementiano de 1985: Quem Casa Quer Casa.

30 de set de 2016

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