Tijuca prepara um Sapucaí in Concert para cantar a música americana

 

Desde 2004, com ou sem Paulo Barros no comando, a Unidos da Tijuca vive uma fase de regularidade que garantiu dois títulos, quatro vices e presença certa nas campeãs. Em 2017, a comissão de carnaval da Tijuca, vai aprontar um Sapucaí in Concert com o enredo Música na Alma, Inspiração de uma Nação – a nação, no caso, são os Estados Unidos.

A partir  de um encontro real entre o nosso Pixinguinha e o genial Louis Armstrong, promovido pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1957 no Palácio das Laranjeiras, foi criada uma história fictícia, recurso menos usado do que deveria nos enredos carnavalescos: o brasileiro convida o outro fazer um “show” na Sapucaí a fim de contar a história da música Americana e como ela expressou momentos importantes da vida daquele país.

Numa boa sacada, as divisões do desfile foram chamadas de sets, como as seleções de músicas agrupadas em partes dos shows. Daí em diante, a sinopse se comporta como um diálogo entre os dois músicos – ainda que o texto não demonstre graficamente – o que é defeito de revisão, não da concepção.

A viagem da Tijuca pela música Americana volta aos spirituals, cantos semelhantes aos lamentos dos nossos negros. Com o fim da Guerra da Secessão e a migração dos escravos libertos para as cidades, começava a nascer o blues. “Armstrong” cita as brass bands, o ragtime e chega ao jazz de Nova Orleans. Defende o enredo que essa base foi se misturando e se modificando para gerar os demais gêneros do que denominamos “música Americana”.

Do delta do Mississipi, a viagem fictícia vai para o cenário dos cowboys e de como aquela origem negra misturou-se ao banjo, à rabeca e ao violão. Não há um parentesco direto entre a música negra e a “música caipira” Americana e a sinopse é um pouco dúbia nesse ponto. O contato posterior entre as duas matrizes gera outros gêneros, sendo o mais famoso deles o rock.

O terceiro set é, claro, dedicado ao rock, desde os performáticos Chuck Berry ou Jerry Lee Lewis até o rei Elvis Presley. Segue em frente com o beach rock californiano e desemboca no festival de Woodstock.

A parada seguinte é dedicada à música do teatro e do cinema, sobretudo os musicais e os grandes sucessos de Hollywood como Cantando na Chuva. A sinopse cita o filme de João Travolta, mas o setor não deve ficar por aí e deve chegar até mais recentemente.

O quinto e último setor é dedicado ao pop, que a sinopse liga ao funk de James Brown, à batida groove, à histórica gravadora Motown até chegar na disco de Dona Summer e aí coloca-se um universo inteiro de artistas muito diferentes entre si sob o mesmo guarda-chuva. De Sinatra a Micheal Jackson, de Steve Wonder a Mariah Carrey, Prince, Madonna, Lady Gaga e, claro, Beyoncé.

Depois desse desfile estonteante de talento, fama e sucesso, o público da Sapucaí in Concert pede bis, um dueto entre os dois cicerones da conjunção entre a música Americana e a brasileira, representada pelo samba.

Vai ter badalação? Vai. Muita. Se Beyoncé realmente atender os apelos dos fãs e resolver desembarcar aqui, será difícil bater a Tijuca em matéria de presença de mídia e simpatia do público. Mas isso não se traduz exatamente em notas 10, como vimos esse ano com a dupla sertaneja da Imperatriz.

O enredo é potencialmente riquíssimo em fantasias e permite mil soluções alegóricas. Ao mesmo tempo, é tão abrangente que pode perder o fio da meada e vermos apenas um desfilar de gêneros e homenagens a artistas famosos. Como escola regular que é, a Tijuca tem crédito, assim como sua comissão de carnaval. Desfila numa posição privilegiada, depois da Mocidade, na segunda-feira, para mim o filé mignon da ordem de desfile. Esse ano Tijuca e Portela disputaram cabeça a cabeça. Em 2017, o enredo da Portela parece mais bem resolvido que o da Tijuca na sinopse. E a Águia vem depois. Só que desfile é na avenida…

 

LEIA NA ÍNTEGRA A SINOPSE DA UNIDOS DA TIJUCA

 

Momento da Saudade

O momento na história em que a Tijuca decidiu abandonar um longo período de modestíssimos resultados no Grupo Especial começa em 1998, quando o Pavão é rebaixado depois de homenagear o Vasco. No ano seguinte, a escola trouxe um enredo indígena e um samba antológico, O Dono da Terra, considerado por muitos o melhor de 1999, em todos os grupos. Após o espetáculo no Tuiuti em 2003, a Tijuca contrata Paulo Barros e assombra a Sapucaí no ano seguinte com um desfile emocionante. Apesar de ter perdido o carnaval para a Beija-Flor, o carro do DNA (depois do minuto 20 do vídeo abaixo) tornou-se um marco do carnaval.

 

 

E vale a pena recordar ou conhecer O Dono da Terra.

 

 

15 de jul de 2016

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