Salgueiro vai homenagear sua santíssima trindade do Carnaval

O Salgueiro vinha mantendo uma tradição de alternar enredos patrocinados com outros autorais. Depois do magnífico e premiado malandro, a expectativa era por um patrocinado em 2017. Mas a vermelho e branco surpreendeu com um tema que desde o título soa forte: “A Divina Comédia do Carnaval”.

“Não há castigo para pecados cometidos em nome do prazer. Mas que folião sou eu nesse reino entre o Inferno e o Céu? A real felicidade está em nossa inadiável missão de carnavalizar a vida.”

Sim, o enredo toma por base a obra de Dante Alighieri. A peregrinação do poeta italiano por Inferno, Purgatório e Paraíso será feita pelas alas da escola contando a história do carnaval. No Inferno, por exemplo, ums das referências são organizações carnavalescas tradicionais no início do século passado, as Grandes Sociedades. Uma das mais famosas chamava-se Tenentes do Diabo.

O departamento cultural, que apresentou na segunda (23) a ideia do enredo para os setores da escola ao lado do carnavalesco Renato Lage, promete uma abordagem leve, brincalhona e de fácil leitura para o assunto.

Na parte dedicada ao Paraíso, a grande e emocional homenagem do enredo ao que eles chamaram de Santíssima Trindade do Carnaval: Fernando Pamplona, Joãosinho Trinta e Arlindo Rodrigues. Três mestres que começaram no Salgueiro e modificaram a história da folia.

Pamplona foi quem iniciou a apropriação pelas escolas de samba dos temas ligados à cultura de negros e índios. Ainda nos anos 60, o Salgueiro desfilou a história da escrava Xica da Silva e da revolta do Quilombo dos Palmares.

Arlindo e João 30 participaram da equipe de Pamplona. O primeiro com estilo barroco, histórico, elegante. Sua assinatura está, entre outros, em dois desfiles históricos da vermelho e branco: Bahia de Todos os Deuses (1969) e Festa para um Rei Negro, de 1971. Ao sair do Salgueiro, foi para a Mocidade, levando à verde e branco ao seu primeiro título em 1979 e, no ano seguinte, alçando a mediana Imperatriz ao estrelato com o bicampeonato de 1980 e 1981.

João 30 foi responsável direto pelo bicampeonato salgueirense de 1974-1975 com histórias mirabolantes que marcariam sua fulgurante imaginação. Em 1976 foi para a Beija-Flor e mudou a cara da escola, levando-a do anonimato à fama com o tricampeonato de 1976, 77 e 78. Até aquele ano, exceto por dois carnavais, só venciam o desfile Portela, Mangueira, Salgueiro e Império Serrano.

No dia 30 de maio, os compositores vão receber a sinopse do enredo e poderão tirar dúvidas na quadra com o carnavalesco. O concurso de samba do Salgueiro seguirá o mesmo esquema de 2016, ou seja, em formato de Copa. A vermelho e branco começou bem o caminho em busca de seu décimo título.

Ouça gravação histórica de áudio do desfile do Salgueiro de 1971. O samba do Salgueiro, conhecido como “pega no ganzê” que enlouqueceu o Rio de Janeiro e se transformou em sucesso no Brasil todo naquele carnaval.

 

 

O samba de 1960, sobre o Quilombo dos Palmares, concebido por Fernando Pamplona. Até o carnaval voltaremos à história desse desfile histórico.

 

Em seu segundo desfile como carnavalesco-solo pelo Salgueiro, João 30 ganha seu primeiro título com o enredo onírico O Rei de França na Ilha de Assombração. Depois desse seriam mais 1 pelo Salgueiro, 5 pela Beija-Flor e 1 pela Viradouro.

24 de maio de 2016

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