Retrospectiva 2018 e expecativas para o Carnaval 2019

Já dizia o velho samba da União da Ilha: o que irá nos acontecer? O nosso destino será como Deus quiser. Fim de ano, época de retrospectivas e previsões também no mundo do ziriguidum. O que foi marcante para as escolas de samba em 2018 e o que esperar para o Carnaval de 2019 e tudo o mais que vem por aí?

Ensaios técnicos

A grande ausência do Carnaval 2018. As escolas foram pegas de surpresa pelo jogo baixo da Prefeitura, de anunciar corte de verba sem o menor respeito. A Liesa e as demais escolas conseguiram, com patrocínio do Uber, fazer desfiles de bom nível, mas sacrificaram os ensaios no Sambódromo. Eles são uma grande confraternização das escolas com suas torcidas. A perspectiva para 2019 era melhor, só que a Prefeitura já deixou claro: está jogando ostensivamente para sabotar o samba. Portanto, mais uma vez, os ensaios não devem acontecer: perde a cidade, perde o povo, perdem muito as escolas.

Desfile da Viradouro em 2018 – Fernando Grilli | Riotur

Série A

Em 2018, o principal Grupo de Acesso do Carnaval carioca teve um desfile de bom nível, com apresentações excepcionais de Viradouro, Unidos de Padre Miguel e Estácio de Sá, sem falar no desfile de pura arte da Cubango e vários sambas muito agradáveis como o da Renascer, Imperinho e Inocentes de Belford Roxo. Na apuração, a disputa foi acirrada: a Viradouro levou a melhor e subiu para o Grupo Especial de novo. A Acadêmicos do Sossego que ficou em último e iria cair conseguiu se manter porque a Lierj cancelou o rebaixamento depois que o mesmo foi feito no Grupo Especial.

Para o Carnaval 2019, Estácio, UPM e Cubango têm bons artistas, sambas de boa qualidade e enredos relevantes. Sem a Viradouro no páreo, a UPM larga um pouco na frente pelo lado financeiro, mas a Série A sempre apronta. A Inocentes também tem um enredo interessante e a Santa Cruz, que nos últimos anos tem desfilado como figuração, tem um samba e um enredo emocionantes.

A patacoada da virada de mesa
O grande mico do Carnaval foi protagonizado pelos dirigentes das escolas de samba. Feita a apuração, Império Serrano e Grande Rio ficaram nas últimas posições, esta última em função da quebra de um carro que não entrou na avenida e bagunçou todo o desfile. Rebaixadas na Quarta de Cinzas, a Grande Rio foi ressuscitada pelos colegas presidentes e o Império se beneficiou. Virar a mesa dois anos seguidos é um golpe de credibilidade no resultado do desfile. Os cartolas do samba juram que em 2019 caem duas, doa a quem doer. A ver!

A comissão de frente do Tuiuti – Paulo Portilho | Riotur


Grupo Especial
No Carnaval 2018, a grande sensação foi o desfile do Paraíso do Tutiuti, que fez uma apresentação impecável em cima de um belo samba reclamando da abolição fajuta, com direito a manifestoches e presidente-vampiro. Resultado: o Tuiuti repercutiu no mundo todo e as escolas de samba voltaram a ser discutidas em rodas onde já não eram mais assunto. Ponto para a “campeã moral”.

A Beija-Flor, a campeã oficial, fez um desfile também de protesto, com um samba muito bom, mas uma estética discutível e um enredo confuso, mais no tom do “contra tudo isso que está aí”. O protesto do Tuiuti era mais contundente, mas escola pequena precisa gramar muito até ganhar carnaval, reza a cartilha não escrita dos jurados… No quesito a quesito, Salgueiro e Portela fizeram também desfiles bastante fortes, só ambas não tiveram sambas que incendiassem a apresentação e a Portela ainda foi brindada com uma falha no som da avenida que durou o exato tempo da sua apresentação.

Desfile da Beija-Flor – Fernando Grilli | Riotur

Para 2019, temos três escolas com enredos “topo de linha”. A Portela e seu samba sobre Clara Nunes, o Salgueiro, falando de seu padroeiro Xangô, e a Mangueira, recontando a história do Brasil pelo prisma dos oprimidos. As três têm sambas ótimos. Nos ensaios, a Portela parece em estado de graça, tamanha a força com que ensaia e o mesmo pode se dizer do Salgueiro, que teve um ano conturbado politicamente, mas trouxe de volta o histórico puxador Quinho e seu casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcella Alves e Sidclei Santos.

Não se pode deixar de fora ainda o Tuiuti, que vai tentar repetir a dose de 2018 para se firmar no Especial, a Unidos da Tijuca e seu confuso enredo sobre o pão que vem com um samba que agrada muita gente, e a própria Beija-Flor, que vai celebrar seus 70 anos na avenida. A Viradouro trouxe de volta Paulo Barros e Ciça. Mesmo sendo a segunda a desfilar no domingo, não vai só fazer figuração.

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Ensaio de canto do Salgueiro para 2019

Patrocínios e modelo

Muito mais importante que o resultado do Carnaval 2019 será a atitude das escolas diante da crise de financiamento que se abateu. A prisão do dirigente da Mangueira e do patrono da Grande Rio foram utilizadas como pretextos fajutos para Prefeitura e Uber fazerem jogo duro, a primeira reduzindo de novo a verba, mostrando que Marcello Crivella não tem a menor noção do significa patrimônio cultural, e a segunda cancelando um patrocínio prometido com o vago conceito de “compliance”.

O fato é que as escolas não podem mais contar com esse prefeito pra nada e seria melhor não precisar mais de prefeito algum. Para isso, há uma tarefa importante pela frente, que é se reaproximar do seu público para pressionar investidores privados e mesmo os políticos a assumirem seu papel constitucional de agir nos interesses da cidade, apoiando o evento mais importante do calendário turístico. As escolas precisam de transparência na utilização dos recursos, nos resultados, no julgamento, aumentar a participação popular, repensar os quesitos. As propostas são muitas.

Novos ventos
Indo nessa direção, de aproximação das escolas com seu público e de outros segmentos que se desacostumaram a encarar as escolas de samba como instituições culturais, a Portela vai realizar em abril de 2019 uma festa literária em sua quadra. Assim que foi anunciada, a FLIPORTELA, como foi batizado o evento, virou um dos assuntos da cidade, na imprensa e no meio do samba. A escola vai receber em sua quadra, debates, painéis, palestras e, claro, editoras e autores de livros que dialogam com a cultura das escolas, as comunidades em torno delas e os assuntos que são caros às pessoas que fazem esse meio.

Que 2019 seja melhor que 2018 para o samba, senão em resultados, pelo menos em perspectivas! Feliz ano novo!

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Ensaio de canto da Portela realizado em dezembro. Fonte: Blog Ouro de Tolo

27 de dez de 2018

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