Rainhas de bateria têm histórias de brilho, ciúmes e disputas na Sapucaí

Viviane Araújo – Rainha de Bateria do Salgueiro (Foto: Riotur)

Sempre que a bateria se aproxima durante um desfile de escola de samba no Sambódromo, o público fica ouriçado. Claro que o ritmo estonteante é o principal motivo, mas os olhos e celulares apontam para a primeira fileira de ritmistas perto de onde costuma estar a Rainha de Bateria, um dos postos mais famosos do carnaval moderno, embora não valha nota.

É difícil precisar uma data para a criação do posto. Pela tradição, as escolas colocavam a ala de passistas à frente da bateria para que pudessem demonstrar todo o domínio na arte de sambar. Algumas ganhavam notoriedade: foi o caso de Marisa Marcelino de Almeida, negra franzina, que caiu nas graças de Natal da Portela e ele a convidou para desfilar. Seu requebrado rendeu-lhe o título de Nega Pelé, uma espécie de rainha das passistas!

Algumas dessas sambistas vinham também acompanhadas de um passista homem carregando um pandeiro e os dois interagiam: foi o caso de Lícia Maria Caniné, a Ruça, que mais tarde seria presidente da Vila Isabel e vereadora pelo Rio de Janeiro. Vale citar ainda o caso de Adele Fátima, que vinha à frente da bateria da Mocidade, nos final dos anos 1970, e de Soninha Capeta, pela Beija-Flor, na década seguinte.

Ao mesmo tempo, desde a década anterior, quando as escolas começaram a crescer em popularidade nas classes média e alta, as celebridades passaram a frequentar as quadras e, sobretudo os desfiles.

Um desses exemplos é Gigi da Mangueira, que chegou ao Palácio do Samba como Regina Helena Esberard, vinda de Ipanema. Seu requebrado logo quebrou resistências e ela passou a desfilar na escola a partir de 1961.

Luiza Brunet (à esq. e no meio) na Portela e na Imperatriz (à dir.)

No ano de inauguração do Sambódromo, 1984, duas modelos vieram à frente das baterias de suas escolas, Luiza Brunet na Portela e Monique Evans na Mocidade Independente. Foi aí que o termo “Madrinha de Bateria” se popularizou.

Em 1987 juntou-se ao time Luma de Oliveira, que fez muito sucesso com seu figurino com os seios à mostra na Caprichosos de Pilares, enfeitiçando a Sapucaí. No ano seguinte, foi para a Tradição. Em 1998, ela veio até de coleira (com o nome do então marido, o ex-bilionário Eike Batista). A imprensa da época disse que Luma havia feito o público da avenida de “súditos”. A partir daí, as moças foram promovidas a Rainhas e, em alguns anos, as escolas trouxeram as duas personagens, mas a moda não pegou.

Luma de Oliveira no desfile da Tradição de 1988 (Foto: Fernando Maia / Wikimedia)

Sob críticas dos tradicionalistas por não saberem sambar direito, as madrinhas e/ou rainhas passaram a custear ao menos em parte as fantasias da bateria em algumas escolas e frequentar a quadra durante os ensaios. O posto dava tanta visibilidade que a disputa ficou feroz.

Elas passaram a competir entre si para ver quem trazia a fantasia mais ousada ou mais extravagante, com pedrarias, muito brilho e, geralmente, pouco tecido. A grande esperança era repetir o efeito causado pela apresentação de Luma ou as de Monique e Brunet que, em 1994, trocou a Portela pela Imperatriz Leopoldinense.  O objetivo era ganhar o título informal de “musa do carnaval”.

Também é uma história de muitas puxadas de tapete. A Estácio de Sá trouxe em 1992 a então popstar Monique Evans, destronando a até então rainha Luciana Sargentelli, que desfilou em um tripé. A moça mostrou tanto serviço ao longo da histórica apresentação da vermelho e branco que acabou o desfile com os pés sangrando.

 

Luciana Sargentelli na Estácio em 1992 (Foto: Júlio César Guimarães, Wikimedia)

Depois das modelos, foi a vez de as atrizes e cantoras passarem a pleitear o posto, como Paolla Oliveira, Juliana Paes, Suzana Vieira, Christiane Torloni, Debora Secco, Danielle Winits, Grazi Massafera, Sharon Menezes, Paloma Bernardi, Mariana Rios e até Claudia Leitte.

Com o tempo, o posto foi dividido entre atrizes famosas, modelos e passistas genuínas da comunidade, geralmente eleitas Rainhas a partir de um concurso interno das escolas. Nessa segunda categoria se enquadram nomes como Bianca Monteiro, da Portela, Raíssa de Oliveira, da Beija-Flor, ou Evelyn Bastos, na Mangueira. A proximidade delas do dia a dia da escola facilita a identificação com os ritmistas.

Também existem celebridades que se integraram e costumam ser vistas com frequência na quadra. É o caso de Sabrina Sato na Vila, e da atriz Juliana Alves, na Unidos da Tijuca, e sobretudo de Viviane Araújo, do Salgueiro, atualmente, uma espécie de madrinha das madrinhas pela longevidade no cargo em uma mesma escola e o carisma na Sapucaí.

A escalação das musas que precisam mostrar beleza, carisma, se possível simpatia e, de preferência samba no pé, no Carnaval de 2019 está assim:

Império Serrano: Quitéria Chagas

Viradouro: Raíssa Machado (desde 2014)

Grande Rio: Juliana Paes (desde 2018)

Salgueiro: Viviane Araújo (desde 2008)

Beija-Flor: Raíssa de Oliveira (desde 2003)

Imperatriz: Flávia Lyra (desde 2018)

Tijuca: Elaine Azevedo

São Clemente: Raphaela Gomes (desde 2014)

Vila Isabel: Sabrina Sato (desde 2011)

Portela: Bianca Monteiro (desde 2017)

Tuiuti: Caroline Marins (desde 2016)

Ilha: Gracyanne Barbosa (desde 2018)

Mangueira: Evelyn Bastos (desde 2014)

Mocidade: Camila Silva (desde 2017)

 

 

(Licenças das fotos WikiMedia: Creative Commons 2.0)

07 de dez de 2018

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