O que podemos esperar do próximo Carnaval do Rio

Carro sobre o massacre dos índios no desfile da Mangueira – Foto: Fernando Grilli / Riotur

Foi lindo, foi intenso. Teve homenagem, lamento, protesto, sátira, tudo temperado com muita arte e criatividade. O povo do samba costuma desejar feliz ano novo quando termina o desfile das Campeãs. Ao contrário do senso comum, não é 2019 que está começando. Já é 2020! Por isso, vale colocar em perspectiva e ver o que esperar do Carnaval do ano que vem.

Enredos e sambas

O sucesso da Tuiuti em 2018 e da Mangueira em 2019 deve manter em alta a tendência de enredos críticos. O carnaval 2019 recuperou tanto nas ruas como na avenida aquela veia reivindicadora e de protesto que normalmente marcou os festejos de Momo. Mesmo escolas que não tinham enredos críticos podem ser entendidos como politizados. Afinal falar das religiões de matriz africana hoje no Rio é uma manifestação, como fizeram Portela, Salgueiro e Unidos da Ponte. A Mocidade já anunciou que seu enredo será sobre a cantora-símbolo da escola, Elza Soares.

Se os temas são relevantes, o que talvez mereça reparos é o desenvolvimento. Muitas narrativas pareceram colagens sem uma grande coerência interna. Notadamente o da Viradouro, da Vila e da Tijuca, ainda que a vice-campeã não tenha sido punida por isso. Só que as três tiveram descontos importantes em samba-enredo. O quesito merece mais atenção. Sambas funcionais que descrevem a sinopse com precisão mas não empolgam, como o das duas primeiras, podem significar a perda do título.

Financiamento da festa

O desfile mostrou dois modelos claros de fazer carnaval. De um lado, Viradouro e Vila Isabel, com a opulência de sempre, reforçada por investimento também da Prefeitura de Niterói, no caso da primeira, e dependente de patronos. Enquanto do outro lado, a Portela tentando fechar o seu desfile com recursos de subvenção e 30% de receitas próprias e um visual menos luxuoso, embora conceitualmente sofisticado. Os resultados recentes da Vila Isabel provam que o primeiro modelo não é sustentável e precisa ser repensado.

Suntuoso abre-alas da Vila em seu enredo sobre Petrópolis – Foto: Fernando Grilli / Riotur

Prefeitura, Estado ou empresas privadas

Aliás, o próprio financiamento do carnaval precisa ser repensado urgentemente. A Prefeitura do Rio com um discurso vago fez tudo o que podia para atrapalhar, liberando muito menos verba do que o prometido e muito pouco tempo faltando para o carnaval. Ainda que pareça surreal que o poder público não queira se envolver no principal evento da indústria do turismo da cidade, enquanto não houver governantes sensatos, não adianta contar com essa fonte. É o tal “desmame” a que refere Crivella. Ele  ainda nega que o carnaval renda para a Prefeitura – apesar de todas as transações de ISS…

A Riotur diz que tem planos arrojados para aumentar a participação da iniciativa privada na festa, o que parece improvável a essa altura. A discussão sobre a estrutura do Sambódromo dominou o noticiário na sexta-feira de Carnaval. O governo do Estado diz ter intenção de reassumir a administração do local, para instalar novos equipamentos e utilizar o ano inteiro, rentabilizando o espaço, uma das principais atrações turísticas da cidade, mesmo fora do período de carnaval.

A Liesa também tem sua responsabilidade nisso e precisa negociar melhor seu contrato com a TV Globo, para evitar que o Desfile das Campeãs não seja transmitido por ninguém, por pura birra, já que a emissora é detentora dos direitos de arena, mas transmitiu a festa uma ou duas vezes na vida.

O julgamento

O resultado do Grupo Especial e da Série A, apesar de erros nas notas de alguns jurados, agradou a maioria das pessoas. A escola mais mal julgada foi a São Clemente, que ficou numa posição abaixo da que merecia. Só quando forem divulgadas as justificativas dos jurados, vamos saber as eventuais incongruências. A Portela, por exemplo, não gostou das notas de Comissão de Frente e Bateria. A São Clemente também recebeu avaliação menor do que deveria em samba-enredo, enredo e comissão de frente. Assim como a Tijuca em samba-enredo.

Na Série A, disputaram nota a nota o título a Estácio, a Cubango, Porto da Pedra e Império da Tijuca, todas escolas que desfilaram no sábado, sem a chuva torrencial que atingiu a cidade na sexta. A Cubango perdeu o Carnaval nas notas de enredo e comissão de frente, para surpresa de muitos. As quatro escolas nas primeiras posições fizeram os melhores desfiles, sem dúvida. Sobe para a Série B, a Acadêmicos de Vigário Geral, numa apuração, essa sim, surpreendente: a favorita da crítica era a Vizinha Faladeira, que foi REBAIXADA.

Praça da Apoteose no dia da Apuração do Carnaval 2019 – Foto: Alexandre Macieira / Riotur

Troca-troca

* Atualizado em 14/03/2019

O troca-troca de carnavalescos já começou. Jack Vasconcelos se despediu da Tuiuti depois de cinco carnavais bem sucedidos, incluindo o vice do ano passado. Vai para a Mocidade, no lugar de Alexandre Louzada que, tudo indica, volta para a Beija-Flor.  O cobiçado Leandro Vieira, campeão pela Mangueira, deve ficar na escola. A Portela anunciou o casal Renato e Márcia Lage para o lugar de Rosa Magalhães. O Salgueiro quer renovar com Alex Souza e se fala na volta de Cahê Rodrigues à Imperatriz, o que é negado pelas partes.

Já a São Clemente renovou com Jorge Silveira, a Ilha com Severo Luzardo e a promovida Estácio vai seguir com o talentoso Tarcísio Zanon. A dupla de Carnavalescos da Cubango, Leonardo Bora e Gabriel Haddad, desembarcou na Grande Rio, enquanto João Vitor Araújo assumiu a vaga de Jack na Tuiuti. Edson Pereira renovou com a Vila, assim como Paulo Barros permanecerá na Viradouro.

Ao longo do ano, também vão ser confirmados outras estrelas da festa como casais de mestre-sala e porta-bandeira, coreógrafos de comissão de frente e intérpretes.

A criativa comissão de frente da São Clemente, criticando as viradas de mesa no carnaval – Foto: Gabriel Nascimento / Riotur

11 de mar de 2019

COMENTÁRIOS