No centenário, cinco vezes em que o samba foi enredo

Dizer que todo brasileiro gosta de samba é uma imprecisão. Mas o gênero que está oficialmente completando um século de vida é sem dúvida a mais bem sucedida criação musical brasileira do século 20. Você sabe por que estão comemorando agora o centenário? E por que 2 de dezembro é o Dia Nacional do Samba? E as escolas de samba nisso tudo? Calma, uma coisa de cada vez.
 
Resolveu-se comemorar o centenário agora porque foi em novembro de 1916 que teria sido registrado em disco o “primeiro samba” da história, “Pelo Telefone”, cuja autoria já foi reivindicada por vários compositores mas é atribuída a Ernesto dos Santos, o Donga. Aliás, “Pelo Telefone” nem samba é direito. A canção ainda era fortemente marcada pelo maxixe, ritmo bastante popular no início do século passado.
 
“Pelo Telefone” foi uma destas diversas composições que nasceram nas casas das “tias” baianas que organizavam pagodes nos fundos de quintal para fugir da perseguição policial. A principal delas, Tia Ciata, é uma espécie de madrinha do samba carioca e, por tabela, das escolas de samba, que só começariam a se organizar uma década mais tarde.
 
Então 2 de dezembro é o nascimento de Tia Ciata? Não. Nem é a fundação da primeira escola, a Deixa Falar. Na verdade, não tem nada a ver com o Rio. A data marca a primeira visita do compositor Ary Barroso à Bahia, o que ocorreu depois de ter feito o sucesso “Na Baixa do Sapateiro”. Um vereador baiano tomou a iniciativa. Nos anos 60, a data passou a ser celebrada em todo o país.
 
No Rio, o principal evento é o Trem do Samba. No final dos anos 90, o compositor Marquinho de Oswaldo Cruz resolveu reviver uma tradição: os fundadores da Portela se reuniam no trem no caminho entre a estação de Oswaldo Cruz e a Central do Brasil. Como a polícia chamava de baderneiros e prendia sambistas, foi a estratégia encontrada para ensaiar e combinar detalhes do desfile. Hoje, o trem faz o caminho inverso. Em cada vagão um grupo de sambistas, um deles destinado à Velha Guarda da Portela. A festa acaba em Madureira.
 
O samba já foi celebrado inúmeras vezes na Marquês de Sapucaí, cantado em prosa e verso. Aqui vai uma seleção de cinco desfiles marcantes:
 

  • Bum Bum Paticumbum Prugurundum: O enredo do Império Serrano em 1982 contava sobre o nascimento do carnaval e festejava Tia Ciata e todo o movimento que levou à criação das escolas de samba. Foi o último título da Serrinha no desfile principal. O hino da escola fez muito sucesso em todo o Brasil.


 

  • O Século do Samba: A Mangueira resolveu comemorar seu centenário do samba em 1999. Um dos destaques deste desfile foi a comissão de frente organizada por Carlinhos de Jesus que trazia pessoas com máscaras impressionantes homenageando sambistas famosos como Cartola, Clara Nunes, Clementina de Jesus e Candeia.
     
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  • Quando o Samba Era Samba: a Portela iniciou em 1994 uma trilogia sobre a história do gênero. E no primeiro episódio, o carnavalesco José Félix traçou a ancestralidade africana e o fato de que foi preciso muita resistência até que a música conseguisse respeito. O hino portelense é valente como os primeiros sambistas precisavam ser.
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  • Noel: A Presença do Poeta da Vila – A Vila Isabel fez um senhor desfile em 2010 com a homenagem ao mais famoso compositor do bairro e tinha um samba dos mais festejados dos últimos tempos.
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    E o Samba Sambou – A São Clemente aprontou em 1990 uma bem humorada crítica ao crescimento do desfile das escolas de samba e como o grande espetáculo teria relegado o verdadeiro sambista a um papel secundário.
     

    02 de dez de 2016
    1 COMENTÁRIO
    1. Adorei a matéria, muito bacana relembrar, eu também adoro samba de enredo.

      Edna Gomes7 anos atrásResponder

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