Grupo de Acesso A já escolheu seus sambas pro carnaval 2017

Depois que o Império Serrano escolheu seu hino na madruga da última terça (13), o Grupo de Acesso A completou sua safra de sambas-enredo para o carnaval de 2017. A crise econômica provocou uma série de enredos autorais, culturalmente relevantes e que produziram alguns sambas muito bons.

Os destaques da safra ficam para a belíssima poesia da Renascer, o melodioso samba da Cubangu e os animadíssimos sambas do Estácio e da Porto da Pedra. A Viradouro e a Unidos de Padre Miguel também vêm com músicas fortes e que devem crescer muito. Não se deve descartar a força de desfile da Serrinha.

Enquanto as escolas estão em estúdio gravando o CD oficial, veja uma breve análise de cada um dos sambas que vamos cantar na Sapucaí na sexta e sábado do próximo carnaval.

Rocinha
A escola homenageará um dos profissionais de carnaval mais respeitados, Viriato Ferreira. Trabalhou com João Trinta na Beija-Flor como figurinista e assinou carnavais na Portela e na Imperatriz, onde conheceu Rosa Magalhães. O samba tem uma melodia agradável e a letra conta com bom gosto sua trajetória. Abre o desfile de sábado e tem boas chances de fazer uma apresentação empolgante.

Inocentes de Belford Roxo
A proposta da escola é curiosa, falar dos vilões e anti-heróis. A pegada bem humorada do enredo exigia um samba leve e a escola conseguiu escolher um com esta característica. Se a letra não é especialmente inspirada e tira pouco proveito do tema, se encaixa bem com a melodia.

Império da Tijuca
O Imperinho vai de samba religioso, contando a vida de São João Batista, os sincretismos no Brasil e as tradições ligadas a seu nome por aqui, como as da festa junina. A melodia tem passagens interessantes, mas é irregular enquanto a letra cumpre sua função.
Ouça aqui!

Acadêmicos do Sossego
Caçula do Acesso A, a escola de Niterói tem enredo ultra relevante sobre a atriz Zezé Motta e sua importância para o movimento negro. A melodia do samba tem passagens bonitas, usa e abusa do tom menor e a letra não é fácil de cantar, um risco para quem abre o desfile, vinda da Intendente Magalhães. Mas há algo inédito. A letra é um diálogo entre Zezé e a escola. Belo!

Unidos de Padre Miguel
A vermelho e branco da zona oeste bateu na trave em 2015 e 2016 com o vice-campeonato. Vai tentar de novo o acesso ao Especial com um samba valente em um enredo sobre a divindade africana Ossain. Letra e melodia interessantes devem render um bom desfile.

Alegria da Zona Sul
A homenageada da Alegria é Beth Carvalho. O refrão principal do samba é bastante forte. A melodia é correta, mas não chega a empolgar. Precisará ser cantado em tom alto para não desanimar ao longo do desfile. A letra passa pela biografia da sambista equilibrando citações a sucessos da carreira.

Império Serrano
Uma das mais tradicionais agremiações do carnaval, com nove campeonatos no desfile principal, a escola tem um belo enredo sobre o poeta Manoel de Barros. O samba não vai entrar pra galeria vasta de grandes composições da verde e branco. Mesmo assim, a segunda parte tem uma melodia interessante e se encerra com uma reafirmação do orgulho imperiano: “Eu sou Império, abra meu livro pois tu sabes ler. A minha história já fala por mim. Sou resistência, orgulho sem fim”. Esta é uma grande escola e o chão pode fazer diferença na Sapucaí.

Viradouro
Fará um interessante passeio pela infância a partir do samba imortalizado por Luiz Ayrão (“Todo Menino é Um Rei”). A composição pode crescer na avenida. A letra é melhor que a melodia e traz trechos inspirados como “Porque Menino Sonha Demais, Menino sonha com coisas que nunca esquece e quando cresce não vê jamais”. O refrão é gostoso e pode pegar.

Cubangu
No time de primeira linha de homenageados do Grupo de Acesso, a verde e branco vem de João Nogueira. A melodia é inspirada e pouco usual, o que pode causar estranheza nas primeiras audições. Mas insista, a obra é boa e a letra conta a história do sambista de forma poética e inteligente.

Santa Cruz
A verde e branco também tem um enredo sobre o universo infantil e optou por uma das soluções mais polêmicas no mundo do samba. Selecionou dois sambas concorrentes e fez uma fusão. Costuma-se entender essa solução como um recurso quando a safra da escola foi insatisfatória. O resultado não foi ruim, mas também não chama atenção.

Renascer de Jacarepaguá
O enredo narra o poético encontro entre o marinheiro João Cândido, líder da revolta da Chibata, em 1910, e a escritora Carolina Maria de Jesus, que não foram contemporâneos. A solução foi eles se comunicarem por uma carta deixada em uma garrafa jogada ao mar. O samba foi encomendado. Não houve disputa. O resultado é belíssimo. Tem tudo pra ser um dos destaques do desfile da Série A.

União de Parque Curicica
Outra junção de sambas para contar um enredo sobre a memória cheio de referências à cultura pop dos anos 80 e 90. A despeito da polêmica decisão, as composições se encaixaram e o resultado é divertido, ainda que não seja nenhuma obra-prima.

Porto da Pedra
O enredo sobre as marchinhas tem um samba muito adequado, divertido que não se limita a costurar os termos das marchinhas citadas. Falei em detalhes dele no post da semana passada. Olha lá.

Estácio de Sá
O Leão foi injustiçado no carnaval 2016 e voltou pro Acesso A. E é bom tomar cuidado com leão ferido. O enredo-homenagem a Gonzaguinha rendeu um sambão. Ritmo animado, pra cima, a letra conta a história do compositor, sua relação com o pai e passa pelos sucessos dele de forma bem costurada, por vezes ajudada pela melodia. Tem tudo para render um desfilaço.

16 de set de 2016

COMENTÁRIOS