Grande Rio é a caçula do Especial mas já tem boas histórias para contar

O ano era 1988. Um grupo de sambistas resolve fundar uma nova escola de samba em Duque de Caxias com a pretensão de desfilar no Rio de Janeiro. A exigência legal era ser originada de um bloco carnavalesco. Assim foi feito e em 22 de março o bloco Lambe Copo vira Acadêmicos de Duque de Caxias, que iniciaria no último grupo de acesso carioca, chamado de Grupo 5 na época.

Agremiações de Caixas desfilarem no Rio não era um fato inédito: a Cartolinhas de Caxias chegara até a frequentar o desfile principal nos anos 1950. Em 1971, ela se fundiu a outras agremiações da cidade, a União do Centenário, Capricho do Centenário e Unidos da Vila São Luís e criou o GRES Grande Rio, que, em 1988, desfilava no grupo de acesso 2. Os dirigentes da Acadêmicos de Caxias e da Grande Rio começaram a conversar e em 22 de setembro do mesmo ano nasce a Acadêmicos do Grande Rio, que já começou sua caminhada do alto. Em 1989 ganhou o Acesso 2, em 1990, foi vice-campeã do Acesso 1.

Em 1991, chegava ao desfile principal junto com a Viradouro. A tricolor de Caxias não foi bem e sofreu o rebaixamento. Caiu e reestreou em grande estilo em 1993 no Grupo Especial, de onde nunca mais saiu.

 

O desfile No Mundo da Lua tinha um samba popular, que fez muito sucesso durante a apresentação e virou uma espécie de hino pra escola.

 

A Grande Rio começou a ganhar popularidade por ter artistas globais desfilando e um patrono com bolsos fundos que investia em apresentações luxuosas. Em 1997 fez um enredo sobre a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré e o hino considerado um dos melhores do ano. No ano seguinte, um samba muito popular sobre Luís Carlos Prestes, sob a batuta do carnavalesco Max Lopes, um dos mais respeitados da época.

 

O desfile sobre Prestes:

 

O ano de 1999 teve uma safra de sambas e de desfiles fracos. A favorita Mocidade perdeu o campeonato por problemas na harmonia. Depois dela, o melhor desfile foi o da Grande Rio, sobre a vida de Assis Chateaubriand, um dos magnatas da comunicação no país. Inexplicavelmente, a escola acabou no 6º lugar.

 

O desfile de 1999:

 

A tricolor reclamou sempre de preconceito contra ela e, desde seu início no Especial, contratou medalhões para obter respeitabilidade. Passaram por lá o intérprete Dominguinho do Estácio, o mestre-sala Élcio PV (ex-Beija-Flor), os mestres de bateria Paulão (ex-Ilha) e Ciça. Em 2001, contrata Joãosinho Trinta, tirando-o da Viradouro. Ele cria um enredo sobre o profeta Gentileza, um artista de rua, e o desfile da escola foi cercado de grande expectativa, inclusive por causa de um dublê que sobrevoou a Sapucaí em um foguete de astronauta. Mas a escola acabou em 6º de novo. Joãosinho, aliás, renderia à escola sua melhor colocação até então, um 3º lugar em 2003, e a pior, um 10º lugar, em 2004, quando foi demitido.

 

Gentileza, o Profeta Saído do Fogo (2001)

 

A partir de 2006, quando conquistou um vice-campeonato com um enredo sobre a Amazônia, a Grande Rio se consolidou com uma força do Carnaval, usando uma fórmula para a qual sambistas mais tradicionais torcem o nariz. Muitos artistas globais desfilando, apresenta geralmente enredos patrocinados ou de forte apelo popular para o público em geral, como o de 2017, sobre Ivete Sangalo.

A crítica que se faz à escola é investir demais no oba-oba e nos famosos e menos na organização do desfile ou em enredos relevantes. O que não chega a ser uma avaliação justa, dado que a escola já cantou figuras históricas como Prestes, Chateaubriand e o próprio Joãosinho Trinta, em 2010, último vice-campeonato da escola, numa homenagem aos grandes desfiles da era Sambódromo. João veio em um carro alegórico que lembrava seu maior trabalho na Beija-Flor, Ratos e Urubus, Rasguem a Minha Fantasia, de 1989.

 

Das Arquibancadas ao Camarote Nº 1, Um Grande Rio de Emoção:

 

É fato que o excesso de globais, inclusive como rainha de bateria – Susana Vieira, Paola Oliveira, Cris Vianna, Deborah Secco, Ana Furtado, Grazi Massafera, Paloma Bernardi –  e alguns resultados discutíveis costumam ser citados contra a tricolor de Caxias. Só que ela nos rendeu também momentos de emoção, além dos já citados: o desfile de 2011. A escola sofrera um incêndio no barracão da Cidade do Samba que destruiu todo o seu carnaval faltando pouco meses para o desfile. Das três atingidas que desfilaram sem concorrer, as outras foram Ilha e Portela, o da Grande Rio foi o melhor, com visual mais simples, mas muita garra.

 

O incêndio

 

E o desfile no carnaval:

 

Em 2018, a escola pode inaugurar um novo momento. Levou para lá outro medalhão do carnaval, Renato Lage, que imprimiu uma personalidade à Mocidade nos anos 1990 e conseguiu um título para o Salgueiro em 2009. O enredo sobre Chacrinha tem ares mais cult hoje em dia. Quem sabe, no ano em que completar 30 anos, a escola não faz a comunidade do samba se render de vez ao charme da Grande Rio. Parabéns ao povo de Caxias!

22 de set de 2017

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