Escolas iniciam sua competição em busca do samba de ouro

Apagada a pira olímpica da Rio 2016, os cariocas (até parece, nós brasileiros!) têm pelo menos duas razões para sacudir a fossa rapidinho. Uma é os Jogos Paralímpicos, que começam no dia 7. Mas antes deles, outra competição toma conta na cidade: as disputas para escolha dos sambas-enredo para o carnaval 2017. Nesta sexta, começa a disputa na Portela, sábado tem Salgueiro.

Passei meses dizendo aqui: bons enredos são o primeiro passo para uma safra de sambas frutífera. E não deve ser dessa vez que a escrita será quebrada. Temos obras interessantes inclusive em escolas em que a sinopse não foi recebida com boa repercussão.

O processo está só começando. Samba-enredo é um dos poucos gêneros mutantes. Quanto mais audições, mais evolui a percepção a respeito do potencial da obra. Se possível, vá às quadras e confira o desempenho do seu preferido.

A seguir faço uma lista com alguns sambas que me chamaram a atenção para você ter um aperitivo do que está vindo por aí.

Beija-Flor
A Deusa da Passarela não está pra brincadeira. Esse vídeo tem até dramatização para o enredo sobre Iracema, a célebre personagem do romance de José de Alencar. Parceria de Claudemir, Ronaldo Barcellos, Maurição, Bruno Ribas, Fábio Alemão, Wilson Tatá, Alan Vinicius e Betinho Santos. A linha melódica é muito boa, parece pronto para ir à avenida. Forte concorrente

União da Ilha
A sinopse da tricolor não é das mais fáceis de entender, mas este samba da parceira de Capitão Barreto, Marquinho do Banjo, Roger Linhares, W Machado, J Santos, Fábio Glinardello e Gugu das Candongas é melodioso, letra bem construída, simplificando um pouco a histórica e ainda teve o luxo de ser gravado pela voz do próprio puxador da escola. Foi a parceria vencedora do samba de 2016. A ideia de um bicampeonato é muito plausível.

Mangueira
Em matéria de grife, este samba da verde e rosa não poderia estar melhor. É assinado por Nelson Sargento, um dos baluartes da escola, em parceria com Arlindo Cruz e também Gustavo Louzada, Cosminho Vida, Wagner Santos, Jorginho Bernini. Já pensando na posição de desfile, a composição é “pra cima”, versos rápidos, letra bem humorada tal e qual a proposta do enredo, que fala da religiosidade do brasileiro.

Portela
A parceria autora do samba mais premiado do carnaval em 2016 repetiu a fórmula. Convidou a velha guarda para uma participação e fez um belo samba com o tema de 2017. Ele provavelmente vai receber críticas por não ser descritivo do enredo. Usa o tempo todo a metáfora da Portela como rio, o que costuma dividir opiniões no mundo do samba. De qualquer forma é uma bela obra a de Samir Trindade, Elson Ramires, Neizinho do Cavaco, Paulo Lopita 77, Beto Rocha, Girão e J. Sales.

Mocidade
A Mocidade, junto com a Grande Rio, têm as duas piores sinopses do carnaval 2017. No entanto, os compositores de Padre Miguel estavam inspirados. A disputa tem ao menos três sambas muito bons. E este desponta com um daqueles que pode se tornar um dos mais cantados do carnaval. O tom menor da melodia, uma letra bem inspirada e um refrão forte são trunfos da parceria de Altay Veloso, Paulo César Feital, Zé Glória, J. Giovanni, Dadinho, Zé Paulo Sierra, Gustavo, Fábio Borges, André Baiacu e Thiago Meiners.

Salgueiro
Depois da pedrada que foi o samba de 2016, a comparação é dura para a vermelho e branco. Mas esta composição de Xande de Pilres, Dudu Botelho, Miudinho, Betinho de Pilares, Jassa e Ralfe Ribeiro é uma concorrente de peso. A safra salgueirense abusa das metáforas “infernais” para o enredo A Divina Comédia do Carnaval e é ao mesmo tempo uma ode à escola.

Esses serão os sambas campeões? Muito cedo para dizer. Eles precisam ir pra quadra, serem sentidos pelos integrantes da escola, pela bateria… E aí está a graça desta competição.